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Coronel diz que Exército se mobilizou e impediu entrada das tropas da PM para prender acampados em frente ao QG

Preso desde terça, Fábio Augusto Vieira afirmou que PM-DF seguiu informações da área de inteligência, inclusive de outros órgãos; declaração conflita com alerta feito pelo governo federal

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Por Pepita Ortega , Julia Affonso e Fausto Macedo
Atualização:
Fabio Augusto Vieira. Foto: Divulgação/GDF

O ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira, afirmou, em depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, 12, que, em meio à eclosão do ato golpista no domingo, o Exército 'estava mobilizado para não permitir' a entrada da PM no Setor Militar Urbano, onde estava localizado o acampamento bolsonarista montado em Brasília, em frente ao Quartel General. Segundo trecho da oitiva, a indicação foi feita pelo coronel logo após ele relatar à PF um diálogo mantido com o Comandante Militar do Planalto, General Dutra - no qual Vieira teria afirmado que a PM estava indo realizar prisões no SMU.

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"Que num dado momento, quando o Interventor já estava no terreno, falou para tentar fazer (prisões) no Setor Militar Urbano. Que o General Dutra, Comandante Militar do Planalto, entrou em contato. Que o inquirido afirmou ao General que a Policia Militar estava indo para fazer as prisões no Setor Militar Urbano. Que foi marcada uma reunião em frente à Catedral Rainha da Paz, e o Exército já estava mobilizado para não permitir a entrada da Polícia Militar", registra trecho do depoimento do coronel.

O governador afastado Ibaneis Rocha já havia feito alegação com teor semelhante à Polícia Federal. Quando questionado sobre o acampamento em frente ao QG do Exército, o governador afirmou que a área fica sob jurisdição das Forças Armadas e relatou que defendeu desmontar as estruturas antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo Ibaneis, o comando do Exército foi contra a remoção. O governador disse ainda que a equipe do petista tinha conhecimento da oposição do Exército na retirada dos acampamentos.

À PF, o coronel Fávio Augusto Vieira sustentou ter requerido a dissolução do acampamento em frente ao QG. De acordo com o depoimento, por três vezes, ele chegou a mobilizar homens para 'dissolver os manifestantes'. O ex-chefe da PMDF narrou o Exército 'impediu' essa ação. Vieira diz ter chegado a mobilizar 500 homens com objetivo de acabar com o acampamento.

Em audiência de custódia realizada na quarta-feira, 11, o ex-comandante da PM-DF reforçou que 'tudo apontava para um ato pacífico' no domingo passado, 8, quando bolsonaristas invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes, em Brasília. Segundo o militar, as operações da corporação no dia dos atos golpistas foram realizadas de acordo com informações da área de inteligência, inclusive de outros órgãos'. Vieira negou 'conivência' com a ofensiva violenta dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro: "Não houve da nossa parte facilitação para que os atos ocorressem".

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A alegação do ex-comandante da PMDF conflita com o alerta feito pelo ministro da Justiça Flávio Dino, em ofício enviado ao governador Ibaneis Rocha (MDB) às vésperas dos atos golpistas. Como mostrou o Estadão, Dino informou que a Polícia Federal havia identificado 'intensa movimentação' de caravanas de ônibus rumo a Brasília e que os manifestantes tinham a intenção de 'promover ações hostis e danos contra os prédios' dos Poderes.

A prisão preventiva de Vieira foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes com base em 'fortes indícios' de 'conivência' com os atos golpistas em Brasília. No mesmo despacho e com os mesmos argumentos, o magistrado também determinou a preventiva do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que era secretário de Segurança Pública do DF quando a ofensiva bolsonarista eclodiu em Brasília. O aliado do ex-presidente foi preso neste sábado, 14, quando desembarcou de um voo oriundo de Miami.

Durante a audiência de custódia de Vieira, a defesa pediu que a prisão cautelar fosse revista, com a imposição de medidas alternativas. O argumento dos advogados foi o de que, antes de ser exonerado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) - agora afastado do Executivo estadual - o coronel teria pedido afastamento do cargo.

O termo do procedimento que chancelou a prisão de Vieira foi anexado ao inquérito aberto, a pedido da Procuradoria-Geral da República, para investigar supostas 'condutas omissivas e comissivas' do governador afastado Ibaneis Rocha (MDB), do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, do ex-secretário de Segurança Pública interino do DF Fernando de Sousa Oliveira e do ex-comandante geral da Polícia Militar do DF Fábio Augusto Vieira ante os atos golpistas do domingo, 8.

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Assim como Vieira, Ibaneis já foi ouvido pela Polícia Federal, em procedimento realizado na sexta-feira, 12, por cerca de duas horas. O governador negou conivência com as manifestações antidemocráticas e afirmou que, pouco antes da invasão aos prédios dos Poderes, recebeu a informação de que a situação estava controlada. Em áudio, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal em exercício, delegado Fernando de Sousa Oliveira, disse a Ibaneis que as coisas estavam transcorrendo de maneira 'tranquila, ordeira e pacífica'.

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A gravação foi compartilhada com os investigadores que conduzem as apurações sobre a suposta 'omissão' das autoridades públicas do DF.  Além disso, Ibaneis declarou que recebeu mensagens do ministro da Justiça, Flávio Dino, alertando sobre a chegada de vários ônibus com manifestantes em Brasília.

À Polícia Federal, Vieira alegou que a Agência Nacional de Transportes Terrestres somente informou sobre 'um contingente maior de ônibus' na madrugada de sábado, 7. Segundo o coronel, 'até então, a inteligência havia identificado poucos veículos, o que corroborava a informação de uma reunião sem indicadores de violência, e contingente maior'.

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