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Opinião|Variações sobre a virtude

Já não existe mérito na prática das virtudes, nem o seu ensino empolga legiões. O que pode representar hoje a postura moralista do Marquês de Maricá, ao contemplar a virtude em suas “Máximas”? Concluamos nós mesmos, após a releitura de tais pensamentos

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convidado
Por José Renato Nalini

Para Aristóteles, “in medio virtus”. Significa isso que a virtude é um ponto de equilíbrio entre dois excessos. Não se confunda com mediocridade. Mas nossa era pode ser capitulada como cemitério de virtudes, pois os valores que sustentaram o edifício de nossa civilização encontram-se em declínio.

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Já não existe mérito na prática das virtudes, nem o seu ensino empolga legiões. O que pode representar hoje a postura moralista do Marquês de Maricá, ao contemplar a virtude em suas “Máximas”? Concluamos nós mesmos, após a releitura de tais pensamentos.

“A virtude nunca se maldiz, o vício e o crime frequentemente. Se pudéssemos convencer os homens desta grande verdade, que os bons ou maus pensamentos, palavras e obras têm o seu prêmio ou castigo correspondente na ordem física e moral deste mundo, muitos bens resultariam para a felicidade individual e social de tão salutar convicção; a virtude seria amada e observada como um meio seguro e infalível de ser feliz, o vício e o crime detestados pelos seus efeitos terríveis de pena, dor, miséria e desgraça”.

“É planta frágil e sem duração a virtude que não tem a sua raiz na religião. A virtude consiste, especialmente, na resistência a nós mesmos. Ser cultor da virtude é ter aliança com Deus. A probidade abstém-se de fazer mal, a virtude pratica o bem. Os maus procuram alcançar por assalto e violência, os bens que os bons esperam conseguir pelo trabalho, inteligência e virtudes. Na virtude é necessário perseverar para vencer e triunfar. A virtude, se encurta a liberdade, alonga a felicidade. A virtude não teme, o crime estremece a cada instante”.

“Como o sol doura as nuvens que o eclipsam, o homem virtuoso favorece os mesmos que o maltratam. Acompanhai a virtude, e chegareis à felicidade. É incalculável o grau de virtude a que os homens poderiam chegar se cressem em Deus e o amassem como a natureza o revela, e não como as opiniões humanas o representam. A virtude e lealdade se retiram quando o crime e traição alcançam prêmios. Ninguém se gaba de ter juízo ou virtude: todos sabem que cada qual presume o mesmo de si e não o acredita facilmente dos outros. A virtude estudada é melhor observada”.

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“Amores e virtudes são os elementos e princípios constituintes e conservadores das famílias, povos e nações. Os talentos não valem as virtudes que os dispensam. A prudência é virtude em poucos e fraqueza em muitos. Não basta recomendar aos homens a virtude em abstrato. É necessário exemplifica-la em seus numerosos casos, para que reconheçam na prática os seus graves e salutares benefícios. Onde a ciência, virtude e lealdade não têm admiradores, a sociedade é invadida e conquistada pelos néscios, velhacos e traidores. Os que melhor dissertam sobre a virtude, não são ordinariamente os mais virtuosos”.

“As virtudes não têm o mesmo polimento dos vícios, mas uma certa rudeza natural que as constitui genuínas. Somos fortes pela virtude, fracos e covardes pelos vícios e crimes. Podemos tornar-nos menos passíveis neste mundo promovendo a nossa inteligência pelo estudo, ciência, experiência e virtudes, conhecendo melhor a natureza dos males e suas fontes e podendo, consequentemente, preveni-los, removê-los, neutralizá-los e transformá-los em bens”.

“A riqueza material é de difícil transporte neste mundo e impossível para os outros; a ciência e virtude identificadas com a nossa alma podem percorrer a imensidade do espaço sem trabalho nem despesa com a sua condução. Os moços não são nem podem ser sábios. Não têm suficiente ciência, experiência, virtude e amor de Deus, para serem qualificados tais. É fácil recomendar a virtude no seu abstrato, mas dificílimo conhecê-la e observá-la no seu concreto”.

“É necessário desmascarar os maus e velhacos para que não abusem da boa-fé e franqueza dos bons e virtuosos. Não podemos imaginar um mundo sem males, nem criaturas vivas impassíveis: faltando o motivo de ação e movimento espontâneo, não haveria liberdade nem escolha, virtude nem mérito, nem ofício, emprego ou modo de vida que os ocupasse: a inércia dos corpos inorgânicos seria a sua sorte e estado habitual. Virtude é observância e satisfação do que devemos a Deus, aos homens e a nós mesmos. A virtude é um vocábulo abstrato que os homens geralmente não entendem, nem compreendem, se não é especificamente exemplificado”.

A virtude ainda tem vez na sociedade contemporânea?

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Daniela Ramiro/Estadão
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