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Bolsonaro diz à PF que só soube de joias em 2022, mas um ano antes seu gabinete tentou reaver colar

Ex-presidente foi interrogado sobre tentativa de sonegar informação à Receita Federal e tentativas de retirar uma caixa de joias que estava no cofre do fisco em Guarulhos

Foto do author Weslley Galzo
Foto do author Adriana Fernandes
Por Weslley Galzo e Adriana Fernandes
Atualização:

BRASÍLIA – O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 5, à Polícia Federal que soube das joias com diamantes destinadas pela Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle apenas em 2022, um ano depois da apreensão do estojo pela Receita Federal. Bolsonaro alegou ainda que só houve intervenção de seus auxiliares para se evitar um suposto “vexame diplomático” do Brasil com o regime saudita.

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A versão, porém, choca-se com documentos oficiais de seu próprio governo. Como mostrou o Estadão, foram ao menos oito tentativas para retirar as joias do cofre da Receita no Aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, onde estavam retidas desde outubro de 2021. Três das investidas ocorreram ainda naquele ano – uma delas partiu do gabinete da Presidência da República.

O caso foi revelado pelo Estadão. O estojo apreendido em Cumbica e reservado a Michelle continha colar, anel, par de brincos e relógio em ouro branco e diamantes da marca suíça Chopard, avaliado em R$ 16,5 milhões. Ao todo, foram três kits que vieram a público – dois deles com relógio, caneta, terço islâmico e abotoaduras destinados a Bolsonaro. Os bens somam mais de R$ 18 milhões.

O ex-presidente depôs por três horas na sede da PF, em Brasília. Ele foi convocado para dar sua versão sobre o recebimento dos presentes milionários. Bolsonaro voltou ao País na quinta-feira passada, após uma temporada de três meses na Flórida.

Em São Paulo, a corporação ouviu também o ex-ajudante de ordens da Presidência da República, tenente-coronel Mauro Cid. O militar foi o responsável por montar uma operação, nos últimos dias do governo Bolsonaro, para tentar recuperar as joias que foram trazidas para a então primeira-dama.

O ex-presidente na saída da Polícia Federal depois de prestar depoimento Foto: SERGIO LIMA / AFP

No depoimento, Bolsonaro afirmou que pediu a auxiliares para obter informações sobre as joias apreendidas para evitar o suposto “vexame diplomático”. De acordo com ele, o constrangimento poderia ocorrer porque as peças tinham sido dadas como presente pela Arábia Saudita e poderiam ir a leilão. Os bens foram retidos porque não foram declarados à Receita, e o órgão cobrava, para a liberação, o pagamento de tributos de importação.

Bolsonaro recebeu três caixas que estão avaliadas em cerca de R$ 18 milhões. Duas caixas foram trazidas da Arábia Saudita para o Brasil pela comitiva do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque em outubro de 2021. Uma delas continha colar de diamantes destinado à primeira-dama Michelle Bolsonaro e foi apreendida pelos fiscais da Receita no aeroporto de Guarulhos. A caixa estava na mochila de um assessor de Bento Albuquerque.

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Outra caixa, com relógio, anel e abotoaduras entrou no País sem ser notada. A terceira caixa fora recebida pelo próprio Bolsonaro em 2019, quando visitou o governo saudita.

Logo após a apreensão, ainda em outubro de 2021, o gabinete de Bolsonaro enviou um ofício ao ministério de Bento falando da necessidade de destinação das joias para o acervo pessoal ou da presidência. Até o Itamaraty foi acionado para tentar liberar as joias naquele ano.

As três caixas

Bolsonaro recebeu três caixas de joias. A primeira, com colar de diamantes, seria para Michelle Bolsonaro. Acabou apreendida pela Receita Federal em outubro.

A caixa com colar de diamantes que foi apreendida pela Receita Federal em outubro de 2021 Foto: Reprodução / AP

As outras duas estavam com o próprio ex-presidente. Uma tinha entrado no País naquele mesmo mês sem ser vista pela Receita Federal. Estava escondida na bagagem de mão da comitiva do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Ela continha um jogo de relógio, anel e abotoaduras.

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Uma terceira caixa havia sido recebida pelo própria Bolsonaro quando visitou aquele País em 2019. O ex-presidente só admitiu estar com as joias depois que a existência delas foi noticiada pela Estadão.

As duas caixas que estavam em seu poder tinham sido guardadas numa fazenda do ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet em Brasília. Foi para lá que Bolsonaro despachou caixas com presentes que julgou ser parte de seu patrimônio pessoal.

O Tribunal de Contas da União (TCU) tem entendimento diferente. Considera que as peças são um presente dado pelo regime da Arábia Saudita ao representante do governo brasileiro e fazem parte do acervo público da Presidência da República. Não pode ser vendidas, nem ficar para uso pessoal do ex-presidente. O TCU mandou Bolsonaro devolver todas as caixas que estavam em seu poder. A terceira caixa foi entregue na véspera do depoimento.

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Ao final do depoimento, o ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wanjgarten, usou sua rede social para dizer que o ex-presidente respondeu a todas as perguntas feitas pela PF, mas não deu mais detalhes.

A Polícia Militar do Distrito Federal preparou um esquema especial de segurança para o depoimento de Bolsonaro. Nesta quarta, a área ao redor da sede da PF foi isolada.

Havia a expectativa de que apoiadores de Bolsonaro se manifestassem, mas somente um homem vestido com a camiseta da seleção brasileira de futebol apareceu no local.

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