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Bolsonaro edita decreto que livra igrejas de quarentena

Texto classifica templos e casas lotéricas como serviços essenciais, contrariando medidas de isolamento dos governadores; líderes religiosos dizem que só farão atendimentos individuais

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Foto do author Luci Ribeiro
Por Luci Ribeiro (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – Depois de criticar medidas de isolamento social adotadas por governadores, o presidente Jair Bolsonaro assinou nesta quinta-feira, 26, um decreto permitindo que igrejas e casas lotéricas fiquem abertas durante a situação de emergência em decorrência do coronavírus. A decisão, que inclui essas duas atividades na lista de serviços essenciais, não depende de aval do Congresso e afronta restrições impostas por Estados e municípios para reduzir a circulação e evitar a propagação da doença. 

A medida atende, ainda, a interesses já manifestados por líderes de igrejas evangélicas, como os pastores Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, aliados do presidente. Mesmo assim, lideranças religiosas afirmaram ao Estado que, apesar da permissão, não pretendem usar o decreto para fazer cultos ou missas em cidades onde a aglomeração de pessoas foi proibida, como São Paulo e Rio de Janeiro. Nesses locais, templos e igrejas ficarão abertos apenas para atendimentos individuais.

Templo da Assembleia de Deus, no Rio, não recebe cultos desde o início da semana Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

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A autorização para as lotéricas funcionarem havia sido anunciada na véspera por Bolsonaro em suas redes sociais. Ao ouvir o apelo de um empresário para que convencesse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a suspender a ordem de fechar o comércio, o presidente disse que não adiantaria falar com ele. “A intenção deles (governadores) é outra. Por decreto eu resolvi as lotéricas”, afirmou. "Três mil lotéricas fechadas por prefeitos e governadores. Consegui resolver numa canetada”, completou.

Segundo especialistas, a “canetada” do presidente pode, sim, prevalecer sobre decretos estaduais e municipais. Uma medida provisória publicada na semana passada proibiu restrições que possam afetar o funcionamento de serviços e atividades consideradas essenciais. Assim, ao incluir igrejas e lotéricas na lista, Bolsonaro evita que estes estabelecimentos sejam obrigados a fechar as portas.

Bolsonaro havia criticado o fechamento das igrejas em entrevista ao SBT na sexta-feira passada. “Lógico que o pastor vai saber conduzir o seu culto, ele vai ter consciência, pastor ou padre, se a igreja está muito cheia, falar alguma coisa. Não pode o prefeito e o governador achar que não vai mais ter culto, não vai ter mais missa”, afirmou.

Reportagem do Estado publicada no domingo mostrou que as medidas de isolamento representam um desafio para as religiões, uma vez que os encontros e eventos fazem parte de uma tradição que atravessa os séculos. Missas católicas e cultos evangélicos, por exemplo, têm sido realizados com transmissões pela internet, para que fiéis acompanhem de suas casas. Na Primeira Igreja Batista de São Paulo, aconselhamentos pastorais e reuniões de oração também passaram a ser virtuais.

Malafaia chegou a convocar os fiéis da Assembleia de Deus a fazerem uma corrente de fé contra a covid-19. Na segunda-feira, porém, a Justiça do Rio proibiu os cultos da denominação. Segundo o pastor, mesmo após o decreto de Bolsonaro, sua igreja ficará fechada. A Igreja Universal também informou que, nas cidades onde a realização de cultos foi proibida, os templos ficarão abertos apenas para orações individuais e auxílio espiritual. 

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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil orientou as igrejas a ficarem abertas apenas para orações individuais e transmissões online, evitando a realização de missas. O rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, afirmou que as sinagogas continuarão seguindo as recomendações dos governos estadual e municipal e manterão o isolamento. Segundo a Federação Espírita Brasileira, as atividades migraram para as plataformas virtuais./ COLABORARAM RENATO VASCONCELOS e LUIZ VASSALLO

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