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Criticado por oposição e aliados, Macri diz que offshore 'não tem nada estranho'

O líder argentino está entre centenas de políticos que aparecem como clientes da empresa panamenha Mossack Fonseca, especializada em abrir companhias em paraísos fiscais

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Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:
O presidente da Argentina Mauricio Macri Foto: EFE

Buenos Aires - O presidente da Argentina, Mauricio Macri, respondeu pela primeira vez na tarde desta segunda-feira, 4, às críticas de inimigos e aliados fundamentais no Congresso sobre seu papel como diretor em uma empresa nas Bahamas. Sua ligação com o paraíso fiscal foi revelada no domingo pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (CIJI).

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"É uma operação legal feita por outra pessoa constituindo uma sociedade offshore para investir no Brasil, investimento que no fim não foi feito e onde eu era colocado como diretor, o presidente era meu pai", afirmou pela TV ao programa Voz y Voto, da cidade de Córdoba. O líder argentino está entre centenas de políticos que aparecem como clientes da empresa panamenha Mossack Fonseca, especializada em abrir companhias em paraísos fiscais.

Macri considerou positiva a publicação de documentos que mencionam cinco chefes de Estado (entre os quais está ele) e classificou o fato como um avanço em direção a uma maior transparência. Em nota oficial no domingo, o governo argumentou que Macri não precisava ter citado em sua declaração de renda a participação na Fleg Trading, uma vez que nunca foi acionista ou teve remuneração. 

Segundo a Casa Rosada, sua nomeação "foi circunstancial e ele só cobriu formalmente o cargo na direção". Ou seja, só teria dirigido a empresa no papel. Franco Macri, pai do presidente, afirmou nesta segunda-feira que o filho não teve participação no capital da empresa e foi "um diretor circunstancial, designado pela confiança que exigiam os negócios do grupo familiar naquela época". Franco foi um do maiores empresários do país nos anos 80 e 90, em setores como construção à indústria automobilística. Ele afirmou ainda que a sociedade nunca teve conta bancária.

  "A empresa deixou de operar em 2008 porque não fez o investimento (no Brasil). Ou seja, está tudo perfeito, não há nada estranho na operação. Está declarada diante da Direção Geral Impositiva (órgão do Fisco argentino), porque meu pai fez, com recursos genuínos que ele tinha na Argentina", concluiu Macri.

Especialistas em evasão tributária divergem sobre a necessidade de a empresa ter aparecido nas declarações de 2007 e 2008, quando ele era prefeito de Buenos Aires. “Nunca vi una offshore que não seja utilizada com fins ilícitos. Servem para para colocar ativos que você não quer na Argentina. Normalmente, são usadas para sonegar impostos, mas também para evitar credores, excluir pessoas de heranças", diz o professor de direito comercial da Universidade de Buenos Aires, Ricardo Nissen. A ex-titular da Unidade de Informação Financeira do Ministério da Justiça, Alicia López, afirmou à Rádio La Red que integrar uma offshore não é delito, mas o presidente deveria ter declarado sua participação.   Fortuna familiar. Quando a Fleg foi desfeita, em 2009, Macri era prefeito de Buenos Aires. Franco teve desavenças com o filho quando Mauricio, vítima de um sequestro em 1991, deixou o negócio da família, primeiro para dirigir o Boca Juniors e depois para ser deputado e prefeito. A reconciliação entre os dois ocorreu quando Macri estava prestes a tornar-se presidente, no ano passado. Macri elegeu-se prefeito da capital argentina em 2007 e venceu a disputa para presidente em novembro. No ano passado, Macri afirmou que deixaria a gestão de sua fortuna para governar o país. Ele declarou antes da eleição ter um patrimônio de 52 milhões de pesos (R$ 12,5 milhões). 

Desde a divulgação dos documentos, políticos kirchneristas atacaram o presidente. A deputada Gabriela Cerruti, que denunciou Macri por suas declarações de renda pediu a abertura de uma nova investigação. "Dizer que era um diretor ocasional é absurdo. Foi o momento em que a família se desfez de patrimônio e o dinheiro nunca foi declarado", acusa. A família Kirchner, envolvida em denúncias de corrupção, emitiu uma nota exaltando que não estava na lista, mas o presidente sim. 

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Macri também é pressionado por aliados. A deputada Elisa Carrió, uma das líderes da coalizão que o levou ao poder, a Cambiemos, disse que ele deveria apresentar provas de suas alegações. A crítica mais ameaçadora à governabilidade que Macri conquistou no Congresso partiu do bloco Frente Renovador, composto por peronistas moderados liderados por Sergio Massa, terceiro colocado na presidencial do ano passado. 

O presidente depende deles para aprovar temas como a negociação com os holdouts, que passou pelo Congresso em março. A deputada Graciela Camaño disse que Macri deveria usar a rede nacional "para explicar aos argentinos sua situação". Outro aliado circunstancial do macrismo, o deputado Marco Lavagna, alegou que "uma das mudanças que o país tem de fazer é em matéria institucional e de luta contra a corrupção. Não pode existir a mais mínima dúvida e ele deveria se manifestar em cadeia nacional."

A chefe do Escritório Anticorrupção criado pelo macrismo, Laura Alonso, escreveu no Twitter que ter um offshore não é crime. Foi criticada também pela rede social por outra aliada de ocasião de Macri, a deputada Margarita Stolbizer, ex-candidata à presidência. "Eu disse durante toda a campanha que competia contra dois candidatos que não podiam explicar sua declaração de renda, Macri e (Daniel) Scioli. O Escritório Anticorrupção confunde suas competências e se converte em um escritório para defender funcionários e segredos", reclamou Stolbizer. A vice-presidente, Gabiela Michetti, disse à Rádio Mitre que o grupo especializado em corrupção deveria abrir uma investigação, mas "ela seria encerrada em 10 minutos" por que não haveria provas contra o presidente.