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Deputado estadual do Rio gasta R$ 206 mil de verba pública em posto de gasolina de sócio da família

Brazão abastece a 36 km da Alerj desde junho de 2019; o irmão dele, deputado federal Chiquinho Brazão, gastou R$ 200 mil no mesmo local

Foto do author Rayanderson Guerra
Por Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – O deputado estadual Manoel Inácio Brazão (União Brasil-RJ) gastou R$ 206 mil de verba da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) no mesmo posto de gasolina em que o irmão dele, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), usa para abastecer o veículo no Rio. Como mostrou o Estadão, os irmãos Brazão são sócios do dono do posto. O local fica a 36 quilômetros da sede do Legislativo fluminense.

O deputado estadual declarou à Assembleia que abastece mensalmente no mesmo local desde junho de 2019. Até junho deste ano, os parlamentares já destinaram mais de R$ 400 mil em recursos da Alerj e da Câmara dos Deputados aos parceiros de negócios.

Posto Leiroz de sócio do deputado Chiquinho Brazão no Rio de Janeiro Foto: Reprodução Google Maps / Estadão

O Posto Leiroz, usado pelos irmãos Brazão, é de propriedade de Albano Lemos da Silva e Albano Gonçalves Marinho. Segundo o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), eles são sócios do deputado estadual em outros dois postos de gasolina na zona oeste da capital fluminense: o Posto Mônaco e o Posto 500 Tingui. Neste, Chiquinho Brazão e o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão, suspeito de obstruir as investigações do caso Marielle Franco, também são sócios.

O deputado estadual Manoel Inácio Brazão ; parlamentar abastece em posto a 36 km da Alerj Foto: ALERJ

Cada deputado estadual na Alerj pode receber até R$ 31.165 em verba de gabinete. A Alerj autoriza que os parlamentares gastem até 20% deste valor (R$ 6.233) com combustível. O deputado destina, em média, R$ 4.000 por mês para abastecimento. Com os R$ 206 mil, o parlamentar comprou entre 2019 e 2023, no mínimo, 38 mil litros de gasolina (com base na cotação atual).

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Domingos Brazão também foi preso em 2017, na Operação Quinto do Ouro. Ele e outros quatro conselheiros do TCE foram acusados pelo Ministério Público Federal (MPF) de receber propina para fazer vista grossa em desvios dos cofres públicos praticados pelo ex-governador Sérgio Cabral. Brazão chegou a ser afastado do Tribunal de Contas, mas o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) determinou o retorno dele às funções como conselheiro em março deste ano.

Com representantes na Alerj, na Câmara dos Deputados e no TCE, o clã Brazão tem uma relação histórica na venda de combustíveis na zona oeste do Rio. Domingos Brazão – considerado o irmão mais influente entre os três políticos – também já foi investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por envolvimento com a chamada máfia dos combustíveis, um esquema de fraudes e sonegação de impostos no Estado.

O conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão Foto: TCE/RJ

Brazão não retornou às tentativas de contato do Estadão. Os sócios dos irmãos Brazão

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Chico Brazão passa por sete postos antes de abastecer

O deputado federal Chiquinho Brazão usa um posto de gasolina que fica a oito quilômetros do seu escritório político no Rio. No caminho até lá, o parlamentar passa por outros sete postos, um deles a um minuto de distância. Porém, desde 2019, o deputado vai sempre no mesmo local onde já desembolsou R$ 200 mil de verba da Câmara.

Deputado Chiquinho Brazão (União-RJ) que usa verba parlamentar para abastecer o carro em posto de sócio Foto: Reprodução / Câmara dos Deputados

O trajeto é feito em 20 minutos em horários de baixa circulação de veículos na zona oeste da cidade. Mas a apenas um minuto ou 200 metros de seu escritório já tem um posto para abastecimento. Em um raio de dois quilômetros, é possível abastecer em ao menos outros cinco estabelecimentos de distribuidoras distintas.

Chico Brazão alegou que não tem como comprar em apenas um estabelecimento ignorando o fato de que só usa o mesmo posto desde 2019. “O combustível que a gente recebe é para rodar todo o Estado, então não tem condição de só abastecer num posto. Eu abasteço onde der para abastecer”, alegou o deputado federal ao Estadão.

“O combustível que todos os deputados têm (é) para rodar o Estado todo. É assim que funciona. É o sistema. Não tem nada que proíba de você abastecer em qualquer posto”, afirmou. O Rio é o terceiro menor Estado em extensão do Brasil, atrás apenas de Alagoas e Sergipe.

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