Na história das CPIs, o que mais se vê são relatórios finais inconsequentes, matizados pela natureza de uma comissão que investiga, mas não pode julgar nem punir ninguém.
Algumas nada concluíram, como foi a CPI do Futebol do Senado. Outras foram quase anedóticas, como a CPI do Incra e da Funai, da Câmara dos Deputados. Ditada pelo agronegócio, essa investigou povos indígenas "favorecidos" pela demarcação de terras.
Existiram aquelas que hoje podem ser revisitadas como ordinárias peças de ficção, caso da CPI dos Planos de Saúde, também da Câmara, que teve as digitais de empresários da saúde suplementar e propôs mudanças cosméticas na legislação. É na reta final de relatorias que potes de doces podem surgir abertos, levando a bruscas inflexões.
No melhor dos desfechos, uma comissão parlamentar provocará o Ministério Público e a Polícia Federal, como fez a CPI de Brumadinho, do Senado, que, em 2019, propôs indiciar mais de vinte pessoas por homicídio doloso, lesão corporal e poluição ambiental.
A rede de arrasto da CPI da Covid quer, no final, alcançar o peixe grande, mas pelo caminho estarão as águas turvas da Câmara, sem ambiente para impeachment, e da PGR, pouco disposta em avançar na investigação ou em oferecer denúncia ao STF.
Diante dessas advertências, as quebras de sigilo aprovadas pela CPI nesta quinta-feira parecem, em sua maioria, direcionadas a dois propósitos. Ajudam a compor a tese de um gabinete paralelo comandado por Bolsonaro à revelia da ciência, da saúde pública e das instâncias do SUS. E fecham o cerco a quem poderá, individualmente, irromper no relatório final, na condição de potenciais indiciados, emuladores do presidente em oposição à vacina e ao confinamento, em defesa da cloroquina, da imunidade de rebanho e da recontagem, para menos, dos mortos.
Conteúdos de telefonemas e trocas de mensagens prometem atiçar a CPI, que arrisca entrar em parafuso, agora que governadores e especialistas estreiam nas sessões sem saber qual é o filme em cartaz.