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Opinião|Apesar de afagos de Lula e Marta, maiores ataques a Tabata virão da esquerda

Deputada tira mais votos de Ricardo Nunes do que de Boulos, mas, no nível da militância, ela deve se preparar para ser alvo de ataques mais virulentos por parte da esquerda petista do que da direita bolsonarista.

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Foto do author Diogo Schelp

A pré-candidata à prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB) deu-se a missão de romper, em nível municipal, a polarização entre petismo e bolsonarismo que, na campanha presidencial de 2022, desidratou candidaturas como as de Ciro Gomes e Simone Tebet. Seu desafio ganhou visibilidade nos últimos dias ao responder às críticas com viés machista que recebeu de Valdemar Costa Neto, presidente do partido de Jair Bolsonaro (PL), e ao enfrentar os rumores de que o presidente Lula estaria articulando nos bastidores uma forma de fazê-la desistir da eleição deste ano para unir as forças da esquerda em torno da candidatura de Guilherme Boulos (Psol).

Tabata compõe a base governista de Lula na Câmara dos Deputados e é apoiada em sua aspiração eleitoral pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que é do seu partido. Em entrevista, Lula negou qualquer plano para tirar Tabata da disputa, fez elogios à deputada e afirmou que a apoiaria em um eventual segundo turno contra o “candidato bolsonarista” (leia-se o atual prefeito Ricardo Nunes, que tem o respaldo do ex-presidente). Já a ex-prefeita Marta Suplicy, de regresso ao PT para compor a chapa com Boulos, congratulou Tabata publicamente por seu revide a Valdemar.

A deputada Tabata Amaral Foto: Alex Silva / Estadão

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Os afagos de Lula e Marta fazem todo sentido diante da avaliação de que, no primeiro turno, Tabata tiraria mais votos de Nunes do que de Boulos, conforme demonstrou reportagem de Daniel Weterman no Estadão, pois a distribuição geográfica dos seus votos em pleitos passados difere da do psolista e sugere que seu eleitorado é majoritariamente de centro e centro-direita. Isso pode definir um cenário de campanha em que tanto Boulos quanto Tabata procurarão apontar a artilharia contra Nunes, evitando embates entre si.

No nível da militância, porém, Tabata deve se preparar para ser alvo de ataques mais virulentos por parte da esquerda petista do que da direita bolsonarista. Aos olhos dos seguidores do ex-presidente, a deputada situa-se no campo político em que ela de fato escolheu estar. Quando a criticam, o fazem por ela ser uma adversária do bolsonarismo e por identificarem nela ideias do centro progressista.

A militância petista, ao contrário, não suporta Tabata justamente por ela invadir o seu quintal em parte da sua agenda ideológico-partidária, mas sem rezar a cartilha completa da esquerda. Desde 2019, quando assumiu seu primeiro mandato como deputada federal, ela foi alvo frequente de bombardeios nas redes sociais, geralmente nos momentos em que votou no Congresso de forma diferente da esperada pela esquerda. Outros parlamentares do seu partido (antes o PDT, agora o PSB) que fizeram o mesmo não tiveram igual tratamento — o que sugere que o ódio à deputada tem uma motivação muito particular. Nas entrelinhas, não se admite que sendo jovem e mulher ela possa almejar uma posição de independência dentro de um grupo político. Isso ficou escancarado, para ficar em apenas um dos muitos exemplos, quando um político do PT insinuou que por trás da “carinha de anjo” da deputada há uma reacionária de direita. Blogs e perfis de esquerda costumam pintar Tabata como a “queridinha” do setor bancário ou “cria” de grupos liberais de renovação política, de forma a reforçar a imagem de uma “menina” manipulável e sem vontade própria.

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Um erro comum é colocar apenas na conta do bolsonarismo o esforço para alimentar a polarização política irracional em que se encontra atolado o país. Mas o petismo, com seu olhar vigilante sobre potenciais ameaças à sua hegemonia no campo da esquerda, tem sua parcela de responsabilidade nisso — como Tabata Amaral, caso consiga de fato viabilizar sua candidatura, irá descobrir na campanha deste ano.

Opinião por Diogo Schelp

Jornalista e comentarista político, foi editor executivo da Veja entre 2012 e 2018. Posteriormente, foi redator-chefe da Istoé, colunista de política do UOL e comentarista da Jovem Pan News. É mestre em Relações Internacionais pela USP.

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