Dirceu critica lista tríplice para escolha de PGR e diz que Lula aponta governo de centro

Ex-ministro afirma que não tem ‘ilusão’ de que ex-presidente, se eleito, adotará um programa de esquerda

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Atualização:

Responsável pela articulação política do primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu disse nesta quarta-feira, 22, que não se pode “ter a ilusão” de que, se eleito novamente para a Presidência, o petista adotará um programa de esquerda. A coalizão partidária e as diretrizes programáticas da campanha de Lula, disse Dirceu em entrevista ao jornalista Breno Altman no site Opera Mundi, apontam para um futuro governo de centro.

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Dirceu também criticou a tradição – estabelecida por Lula e seguida pela ex-presidente Dilma Rousseff – de escolher para o comando da Procuradoria-Geral da República o nome mais votado de uma lista tríplice formada pela própria corporação. “A constituição diz claramente que pode escolher fora da lista, sim. Primeiro da lista o Mário Covas aqui em São Paulo nunca escolheu, para dar um exemplo”, afirmou.

Mário Covas desobedeceu a tradição de nomear o primeiro da lista tríplice do Ministério Público apenas uma vez, quando indicou Luiz Antonio Marrey para o cargo de procurador-geral da Justiça de São Paulo em 1996. Na disputa seguinte, em 1998, Marrey foi o mais votado na lista tríplice e foi reconduzido ao posto por Covas, com aval da corporação. Em 2000, o tucano também seguiu a escolha do Ministério Público e nomeou José Geraldo Brito Filomeno ao cargo.

Alckmin e Lula durante lançamento das novas diretrizes de programa de governo da chapa petista à Presidência Foto: Werther Santana/Estadão

Ao falar de economia, defendeu a ideia de taxar as exportações brasileiras de petróleo, um debate que tem sido ventilado no Congresso pelo presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL).

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Ex-ministro da Casa Civil no primeiro governo Lula, Dirceu tem conversado com empresários e políticos de diferentes espectros sobre a campanha do petista. Publicamente, no entanto, está fora da articulação da campanha. Ele se tornou uma figura radioativa para o ex-presidente, devido à associação de seu nome com os dois escândalos de corrupção revelados nas gestões petistas. Lula já disse que, se voltar ao poder, não convidará Dirceu a assumir novamente um ministério.

Dirceu foi condenado a 41 anos de prisão no âmbito da Lava Jato. Já tinha cumprido pena criminal imposta anteriormente, imposta pelo Supremo Tribunal Federal, pelo escândalo do mensalão. No primeiro caso, a acusação foi feita pelo então Procurador-Geral da República, Antonio Fernando Souza, nomeado por Lula.

Ao comentar a disputa deste ano, ele afirmou que as diretrizes programáticas divulgadas nesta semana pela campanha petista são um “pacto histórico” entre os partidos da coligação, estão “de bom tamanho” para a fase atual da campanha e são um aceno a setores de centro.

“Na verdade, nessa eleição, a prioridade absoluta é tirar Bolsonaro e eleger Lula. Isso acabou guiando a política de alianças nos Estados para os governos”, disse Dirceu, ao comentar a situação de candidatos do PT ao Congresso e aos governos estaduais.

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Aliança mais ampla que a centro-esquerda

“Vamos lembrar que o MDB do Nordeste praticamente apoia o Lula. Que o PSD, parcela importante, tende a apoiar o Lula. Que é possível que uma parte do PSDB apoie o governo (Lula) em um primeiro momento. O que vai se constituir na verdade, e a coligação de sete partidos e a proposta de diretrizes de governo apresentada expressa, (é) uma aliança mais ampla que a esquerda, mais ampla que a centro-esquerda. Nós temos que entender essa realidade. Não vamos nos iludir que nós estamos elegendo o Lula para fazer um governo, um programa do PT ou de esquerda”, afirmou Dirceu.

“O programa tem pontos fundamentais e importantes para nós da esquerda, mas as circunstâncias históricas vão colocar para nós um desafio ao chegar ao governo de como avançar nas questões mais estruturais que o país enfrenta. É assim que eu vejo essa situação”, afirmou Dirceu.

O ex-ministro afirma que a estratégia do PT tem de se dar por etapas. A primeira, diz, é para derrotar Bolsonaro e conseguir montar uma base de apoio nos Estados e no Congresso que garanta a governabilidade no primeiro ano de um eventual mandato. Nas contas dele, PSD, PSB, PDT e PT podem conseguir uma bancada de mais de 200 deputados e 30 senadores como base para governar.

“O primeiro ano define os próximos anos, porque vamos enfrentar um país que não é a situação de 2003. Primeiro, o mundo e o Brasil não são os mesmos: 23 é uma situação muito mais grave. A máquina administrativa desorganizada, os problemas da fome e do desemprego agravados, essa questão da inflação, com Banco Central independente, teto de gastos, que precisa de uma maioria no Congresso para aprovar uma nova matriz de responsabilidade fiscal”, disse Dirceu.

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Os recursos, segundo ele, devem vir ou da renda do petróleo, ou da reorganização do orçamento atual ou de uma reforma tributária. A última, defendeu Dirceu, deve taxar renda, propriedade e riqueza e diminuir os impostos indiretos. “Grande parte da nossa elite não admite pagar mais impostos”, afirmou.

Ao falar de Petrobras, Dirceu defendeu a ideia de cobrar imposto sobre lucro extraordinário ou exportação de petróleo, por exemplo. “Se é verdade que não podemos simplesmente tabelar preços de combustível, também é verdade que a paridade de preços internacionais é irreal com a realidade de um país como o Brasil e também é verdade que se pode cobrar impostos sobre o lucro extraordinário, sobre exportação, evidente que se pode. Se pode aumentar a contribuição sobre o lucro”, disse.

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