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Prefeitura veta críticas a João Doria no Facebook

Orientação é uma exceção entre órgãos estaduais e federais; administração afirma que exclui difamações em geral

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SÃO PAULO - A Secretaria Especial de Comunicação (Secom) da Prefeitura de São Paulo está usando um recurso do Facebook para evitar críticas políticas ao ex-prefeito e candidato ao governo do Estado nas eleições 2018 João Doria (PSDB) na página institucional do governo municipal.

Textos ou frases que contenham qualquer menção a apelidos pelos quais o prefeito é conhecido entre seus críticos são automaticamente vetados. O governo municipal diz que exclui comentários difamatórios em relação a qualquer pessoa.

João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo Foto: GABRIELA BILO/ESTADÃO

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Há hoje pelo menos 22 termos bloqueados no Facebook da Prefeitura, segundo o Estado apurou. Entre elas há críticas políticas, mas também palavrões e até termos homofóbicos associados ao ex-prefeito. Isto significa que esse tipo de comentário sequer pode ser postado e visto por outras pessoas, independentemente do restante da frase e sem passar pela análise de um moderador.

A prática foi adotada pela primeira vez na gestão de Doria, mas a lista de termos censurados muda ao longo do tempo. No fim do ano passado, por exemplo, eram 33 palavras. As mudanças só podem ser feitas pela Secom, que tem acesso à conta da rede social. Doria renunciou ao cargo de prefeito em abril deste ano para concorrer ao governo do Estado.

O governo municipal alega que tais palavras violam a política de uso da rede social, mas é o único dentre os órgãos consultados pela reportagem, incluindo o governo do Estado de São Paulo e ministérios do governo federal, que bloqueia termos relacionados a um só político nas redes sociais. No caso do governo do Estado e do federal, os termos censurados são apenas palavrões genéricos.

Para efeito de comparação, o Estado coletou informações sobre a política de uso de redes sociais de secretarias de comunicação e outros órgãos do governo do Estado, incluindo Casa Civil, e do governo federal, por meio da Lei de Acesso à Informação. Dentre os 15 que responderam, a regra era evitar xingamentos genéricos. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, por exemplo, vetam apenas palavrões. A Casa Civil do governo do Estado de São Paulo bloqueia 50 palavras, tais como "desprezível" e "assassino", mas também sem personalizar com nome de políticos ou gestores. Na Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo, que tem número semelhante de curtidas, sequer há termos bloqueados. A única exceção é o Ministério da Educação, que vetou palavras associadas às principais campanhas eleitorais de 2014, tais com termos ligados a Dilma, Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos.

Apelidos. O uso de apelidos críticos aos candidatos é comum em tempos de debate eleitoral. Um levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontou o uso crescente deles para se referir aos candidatos. Bolsonaro (PSL) é o mais mencionado por apelidos, positivos ou negativos, com 16% das menções em um levantamento feito entre os dias 16 e 20 de agosto, seguido por Geraldo Alckmin (PSDB), com 13%. Em sua maioria, os termos usados para citar os candidatos são negativos.

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Para o linguista e pesquisador da FGV Lucas Calil, os candidatos entendem essa dinâmica dos apelidos nas redes sociais e tentam usar isso em favor de suas campanhas. "Esses apelidos já estão incorporados ao debate, fazem parte dele. COnforme você vai utilizando novas nomenclaturas, elas ganham aderência e passam a integrar a discussão. O debate em si é modificado, pois o apelido incorpora novos significados e nuances. E pode viralizar muito mais rápido por meio das redes sociais."

Engajamento. A página institucional da Prefeitura de São Paulo no Facebook tem 391 mil curtidas e, nos últimos 3 meses, teve 332,1 mil interações com usuários da plataforma (comentários, compartilhamentos e reações a postagens). Um aumento dessas interações começou a acontecer justamente no período eleitoral, com um pico na última semana de agosto, com mais de 53,5 mil interações , segundo dados da plataforma Crowdtangle.Em seu perfil na rede, a Prefeitura diz que "as interações devem ser pautadas pelo respeito às leis e às pessoas." Diz ainda que não serão permitidos comentários que "sugiram ou incitem atividades ilegais em todas as suas formas, como assédio, fraude, difamação ou discriminação de qualquer tipo."

A ferramenta usada pela Prefeitura é uma opção que o Facebook disponibiliza para qualquer página, que garante que se alguém incluir uma palavra incluída em uma lista de termos bloqueados, esta palavra não será exibida. É preciso adicionar tanto o singular quanto o plural da palavra a ser bloqueada, com vírgulas.

Em geral, os comentários feitos na plataforma são de cidadãos pedindo ou reclamando de serviços públicos, como vagas em creche e atendimento em postos, mas uma análise por meio do Crowdtangle revela que fatos políticos também podem afetar o comportamento dos usuários e a frequência de acesso. Quando Doria renunciou, por exemplo, a rede social da Prefeitura foi inundada de críticas que diziam que diziam que o político havia traído seus eleitores.

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“Comentários difamatórios dirigidos a qualquer pessoas são excluídos”, diz Prefeitura

Em nota, a Prefeitura disse que a página no Facebook é “exclusivamente institucional” e um “ponto de interação com o cidadão”. O governo ressaltou que comentários difamatórios dirigidos a qualquer pessoa são excluídos, e não apenas a autoridades públicas, em respeito aos termos de uso da plataforma. "A prefeitura monitora permanentemente as interações em suas páginas em redes sociais. A partir de recorrente utilização de um mesmo termo pejorativo, essa palavra é bloqueada para que postagens sejam excluídas automaticamente, prática que está em conformidade com os termos de uso expostos no Facebook." Disse ainda que "não há critérios subjetivos para a escolha de termos ou mensagens a serem bloqueados.