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Médico divulga alegações falsas sobre nova onda de covid e subvariantes em vídeo no WhatsApp

Institutos de pesquisa e especialistas apontam aumento de casos de covid-19 no Brasil e no mundo com surgimento de subvariantes da ômicron

Por Clarissa Pacheco
Atualização:

Atualização às 15:09 de 21 de novembro de 2022 para incluir resposta do autor do vídeo

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É falso o conteúdo de um vídeo gravado por um médico em que ele nega a existência uma nova onda de covid-19, descarta o surgimento de novas variantes e desencoraja a população a reforçar cuidados, como o uso de máscaras. O autor do vídeo se identifica como especialista em saúde pública, mas ignora dados que apontam para uma alta na média de casos de coronavírus, alertas de órgãos públicos e institutos de pesquisa, além da identificação de novas subvariantes da ômicron no Brasil e no mundo.

A checagem do conteúdo foi solicitada por leitores do Estadão Verifica pelo número (11) 97683-7490.

 Foto: Estadão

O vídeo circula há pelo menos uma semana -- já havia, naquela ocasião, uma morte registrada pela sub-variante BQ.1 da ômicron, em São Paulo. Além disso, entidades como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Needier/UFRJ) haviam alertado para o aumento no número de casos de covid-19 em alguns estados brasileiros. Na Europa, a nova onda de covid-19 começou em setembro e em países como China e Estados Unidos, o número de casos vinha aumentando há semanas.

De acordo com a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e presidente da Rede Tuberculose, há sim uma nova onda de covid-19 no Brasil, que se reflete no aumento no número de casos. "Temos aumento de internação, principalmente em grupos de pessoas que não tomaram a vacina de reforço e em grupos de pessoas que tomaram as vacinas, mas já tem mais de seis meses", disse. "Principalmente aqueles idosos com mais de 70 anos, além de imunossuprimidos e crianças que não se vacinaram".

O autor do vídeo ainda engana ao afirmar que não existem novas variantes da covid-19. De fato, não há uma nova variante além da ômicron, mas vêm surgindo subvariantes dela, inclusive com casos identificados no Brasil nos últimos dias.

Novas subvariantes foram detectadas

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O vídeo circula em grupos de WhatsApp desde o dia 12 de novembro. Nas imagens, o homem afirma que não há uma nova variante de covid-19 chamada "ômicron B isso, B aquilo". Naquela data, contudo, o Brasil já tinha casos registrados da subvariante BQ.1 da ômicron, e até uma morte causada por ela - um idoso de 72 anos, de São Paulo.

Na quinta-feira, 17, já após a circulação do vídeo, a Rede de Alerta das Variantes do SARS-CoV-2, coordenada pelo Instituto Butantan, detectou mais duas subvariantes da ômicron pela primeira vez no Brasil. A subvariante XBB.1 foi detectada na cidade de São Paulo; a CK.2.1.1, em Ribeirão Preto (SP). Segundo o Instituto Butantan, há estudos preliminares da Organização Mundial de Saúde (OMS) que sugerem que a subvariante XBB.1 pode trazer um risco maior de reinfecção, se comparada com outras versões da ômicron. Ela foi detectada em outros 2.025 amostras de 35 países.

Já a CK.2.1.1 apareceu em apenas 342 amostras em todo o mundo, em apenas seis países: Alemanha, Estados Unidos, Dinamarca, Espanha, Áustria e, agora, no Brasil.

Número de casos vem crescendo

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No vídeo, o autor afirma que não há uma nova onda de covid-19, mas isso não é verdade. Quando o vídeo começou a viralizar, o Núcleo de Enfrentamento e Estudos em Doenças Infecciosas da UFRJ já havia apontado aumento progressivo no número de casos positivos de covid nas últimas semanas de outubro. O Monitoramento da Ômicron divulgado em 3 de novembro pelo Instituto Todos pela Saúde (ITPS) também alertou para indícios de uma nova onda. A Fiocruz, por sua vez, apontou aumento de casos em quatro estados: Amazonas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

O Boletim InfoGripe mais recente da Fiocruz, divulgado nesta sexta-feira, 18, também fala em aumento de casos de covid-19 entre a população adulta nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul em São Paulo. Nesta quinta-feira, 17, os dados do consórcio de veículos de imprensa, do qual o Estadão faz parte, apontaram que o Brasil registrou 29.102 novos casos de covid-19 em 24 horas - a média móvel ficou em 11.525 casos, a maior em mais de dois meses.

Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 688.835 óbitos por covid-19. Foram 34.971.043 casos confirmados da doença e 34.162.530 recuperados. Há 119.678 pacientes em acompanhamento. Na última quarta-feira, 16, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) disse que os países devem ficar atentos à "tripla ameaça" da covid-19, Influenza e Vírus Sincicial Respiratório (VSR).

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Variante ômicron tem alta taxa de reinfecção

De acordo com a epidemiologista Ethel Maciel, a taxa de reinfecção pela variante ômicron é muito grande, o que ajuda a explicar o aumento no número de casos, mesmo com vacinação. "Com essas novas subvariantes, a gente tem uma proteção, mas ela vai diminuindo por volta da 13ª semana depois da vacinação, e vão deixando esses grupos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos, mais suscetíveis a apresentar uma doença mais grave", explicou.

Além disso, as vacinas disponíveis no Brasil ainda foram feitas com base na cepa original, de Wuhan. O País ainda não tem as chamadas vacinas bivalentes, remodeladas a partir da ômicron. Ainda assim, as vacinas são eficazes, sobretudo contra formas graves da doença. Para Ethel Maciel, a tendência é que as vacinas de covid-19 acompanhem o modelo adotado com as vacinas de gripe, feitas sempre com a cepa que prevaleceu no ano anterior.

"Muito provavelmente, é isso que vai acontecer com a covid, a gente vai ter essas vacinas remodeladas, porque é uma doença que tem reinfecção. Diferente do sarampo, que quando você tem uma vez, você não tem de novo, você tem imunidade. Por isso, a gente vai precisar de doses de reforço", avaliou.

Uso de máscaras volta a ser recomendado

No final do vídeo, o médico trata como desinformação a recomendação para voltar a usar máscaras. Mas a verdade é que o equipamento de proteção deve sim voltar a ser usado. Diante do aumento de casos, o Observatório Covid-19 Fiocruz, por exemplo, reforçou a recomendação da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (MS) com relação ao uso de máscaras em locais fechados, com pouca ventilação ou com aglomeração de pessoas.

A recomendação já tinha sido feita pelo Ministério da Saúde e também foi adotada em estados como Alagoas, Goiás, cidades de Minas Gerais e Rio Grande do Norte, além de alguns locais de São Paulo, como universidades.

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Após a publicação deste texto, por e-mail, o autor do vídeo respondeu ao Estadão Verifica que não disse que a pandemia acabou e afirmou que os casos de covid-19 provocados por variantes seguem em uma continuidade padrão, com tendência de redução após a vacinação. Segundo ele, o vídeo teve a intenção de esclarecer a população a acalmar os pacientes que se apavoraram com a notícia de uma nova onda. Embora os números apontem para o surgimento de uma nova onda de covid-19 em diversos países do mundo e também no Brasil, o autor do vídeo argumentou que o alerta, que ele considera falso, foi emitido apenas aqui e no momento em que ocorriam manifestações nas ruas.

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