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‘Estão abrindo minha pele com abridor de latas’

Investigado pela Alba Branca, tucano diz que ex-assessor pode ter usado seu nome para abrir portas para quadrilha

Foto do author Fausto Macedo
Por Ricardo Chapola e Fausto Macedo
Atualização:
Capez afirma não ter relação com esquema: ‘Não cobrei nada, não recebi nada’ Foto: Hélvio Romero|Estadão

O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Fernando Capez (PSDB), afirmou que não descarta a possibilidade de seu ex-assessor Jeter Rodrigues Pereira ter fechado contrato com a Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf), apontada na Operação Alba Branca como carro- chefe de um esquema de fraudes em licitações da merenda escolar. A Coaf se teria infiltrado em pelo menos 22 prefeituras e mirava em contratos da Educação estadual.

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Capez e Jeter foram citados em depoimentos de funcionários da cooperativa à Polícia Civil, que investiga pagamento de propinas a agentes públicos com verba que seria destinada à merenda escolar. O ex-assessor, segundo a investigação, seria um dos intermediadores da propina para Capez e também o elo do parlamentar com o empresário Marcel Ferreira Júlio, apontado pela força-tarefa como lobista do esquema de fraudes em licitações da Secretaria de Educação.

Marcel está foragido desde o dia 19 de janeiro, quando foi deflagrada a operação. “É possível, eu não descarto (que Jeter teria fechado contratos com a Coaf). Você já viu o perfil do Jeter? Olha o meu perfil e olha o perfil dele”, disse o presidente da ALESP, que seria, segundo os depoentes, um dos beneficiários da propina.

Capez constituiu como seu advogado o criminalista Alberto Zacharias Toron. Com larga experiência na defesa de políticos e empresários, Toron já esboçou a linha de defesa do tucano. O primeiro passo foi dado na sexta-feira. O advogado entregou ao desembargador Sérgio Ruiz, do Tribunal de Justiça, petição em que abre mão espontaneamente do seu sigilo bancário e fiscal. Com essa estratégia, Capez antecipa-se ao pedido da Procuradoria Geral de Justiça, que requereu ao TJ acesso à movimentação financeira e dados tributários do presidente da Assembleia.

O sr. conhece o lobista Marcel Ferreira Júlio?

Ele não me conhece. Eu não o conheço. Essa é a verdade. O que o Jeter deve ter feito? Ele recebeu os caras no gabinete em 2014. Ora, se você tem os seus assessores trabalhando, como o deputado vai saber o que o cara está escrevendo, para quem está ligando? Se Jeter quis fazer um atendimento por conta própria, o problema é dele. Eu não fiz atendimento por conta própria, eu não cobrei nada de ninguém, eu não recebi nada. Eu não me chamo Jeter Rodrigues. Eu não posso responder pelos atos de um assessor.

É possível que Jeter tenha fechado um contrato com a Coaf?

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É possível. Não descarto.

Totalmente a sua revelia...

Como eu vou falar para um funcionário falar: ‘Faz um contrato com a Coaf, paga um cheque para ele?’ Eu não sou jejuno. Você já viu o perfil do Jeter? Olha o meu perfil e olha o perfil dele: está com pneumonia, cheio de dívidas, mora em uma favela, tem 40 anos e está prestes a se aposentar. Se um cara tem a chance de fazer uma jogada e ganhar 50 paus por mês, a chance de ele fazer isso é maior. A família fez lobby a vida toda, são lobistas profissionais. Sempre usaram nome de outras pessoas. Se o Marcel chegar agora e perguntar como eu estou, eu não reconheço ele. Não tenho relação nenhuma com esse Marcel. Causa um asco lendo esse inquérito. Sou eu esse cara que está aqui? Impressiona o papel. Mas quando você vai para a realidade dos fatos não tem verossimilhança.

O sr. vai demitir Jeter?

Instauramos procedimentos administrativo. Queremos apurar e demitir.

O sr. acha que haja motivação política por trás da Operação Alba Branca?

Não quero acreditar nisso, prefiro não acreditar.

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O tal do ‘fogo amigo’...

Eu não quero acreditar, prefiro não acreditar, logo, eu não acredito. Porque não haveria sentido.

Acha que pode ter sido algo encomendado?

Não concordo, não posso fazer essa afirmação. Não atribuo a fogo amigo, nem a coisa encomendada.

Por que o sr. acha que o governador demorou tanto para sair em sua defesa?

Demorou, mas pelo menos, se tivesse sido imediato, poderia ter sido uma solidariedade política. Ele (Alckmin) fez uma fala refletida, para mim valorizou. Ele fez uma afirmação. Ele não poderia fazer essa afirmação no dia.