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Expansão da cana-de-açúcar engrossa fileiras do MST

Mecanização da colheita deixa mão-de-obra ociosa e pode agravar conflitos em SP

Por Agencia Estado
Atualização:

A expansão das lavouras de cana-de-açúcar em São Paulo está engrossando as fileiras dos sem-terra e pode agravar os conflitos fundiários no Estado. Grande parte da colheita ainda é feita manualmente e, com a escassez de mão-de-obra local, as usinas importam cortadores de outros Estados, principalmente do norte de Minas e do Nordeste. Como a safra dura de seis a sete meses, no restante do ano esse contingente fica desempregado. O aumento na mecanização da colheita, obrigatório por lei, contribuiu para criar mão-de-obra ociosa. Os movimentos sociais de luta pela terra, principalmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o maior deles, já arregimentam essa massa para engrossar os acampamentos. Foi o que motivou o líder José Rainha Júnior a firmar uma parceria com sindicatos de empregados rurais ligados à Central Única de Trabalhadores (CUT). Na primeira ação conjunta, a partir do carnaval, foram invadidas 13 fazendas no Pontal do Paranapanema e na Alta Paulista. "Os usineiros têm de pensar no futuro desse pessoal, caso contrário vão gerar mão-de-obra para os acampamentos", disse o líder. Só no Pontal e na Alta Paulista, segundo Rainha, são mais de 50 mil cortadores de cana. No Estado, somam 150 mil. Os acampamentos começam a brotar em uma velocidade que nem o MST acompanha. É o caso do acampamento Nova Esperança, em Ouro Verde, na Alta Paulista. Os 45 barracos foram erguidos da noite para o dia na estrada vicinal que liga a cidade a Dracena. Mais da metade dos acampados trabalham nas usinas de açúcar e álcool da região, como Aparecido Martins de Oliveira, de 37 anos, casado e pai de dois filhos. Cortador de cana em Dracena, Oliveira participou da invasão da Fazenda São Diogo, no distrito de Jaciporã, com o grupo de Rainha. "Só quem está nessa vida sabe o quanto é penosa", diz. Migração São esses trabalhadores que Rainha e a CUT arregimentam para seus acampamentos, que vão migrando do Pontal - ponta do Estado, formada pela junção dos Rios Paranapanema e Paraná - para a Alta Paulista e a região noroeste. "Com os da CUT, já passam de 30", informa o líder. Ele garante que não precisa aliciar ninguém: "O desempregado, com a família, vai para onde tiver um lugar para ele." Nos acampamentos, os sem-terra encontram, além da esperança de um lote doado pelo governo, a garantia da comida diária. Cada família assentada recebe uma cesta básica, distribuída pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O cortador Abel Vieira, de 35 anos, trabalhou 11 anos nos canaviais de Itapetininga, no sudoeste de São Paulo. Há dois anos, ficou desempregado. "Eu era o melhor, tirava R$ 800 por mês e, por bom desempenho, recebia duas cestas básicas." Mas aí o braço começou a falhar e o contrato não foi renovado. Com o pai e um irmão deficiente dependendo do seu trabalho, acabou num barraco do MST. Faz parte do grupo que, no final de 2006, invadiu uma fazenda da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado. O presidente do Sindicato dos Empregados Rurais Assalariados de Presidente Prudente e Região, Rubens Germano, parceiro de Rainha, afirma que os trabalhadores são explorados. "Só a fiscalização do Ministério Público do Trabalho aplicou R$ 3 milhões de multas em 2006." A ação do MST junto aos canavieiros já preocupa os donos de usinas e fazendeiros interessados em arrendar as terras para a cana. "A reforma agrária virou um saco sem fundo do dinheiro público. Se o governo não der um basta, essa situação não vai ter fim", protesta o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia.

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