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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

De lá pra cá: a pandemia do novo coronavírus em Mato Grosso do Sul entre Março e Agosto de 2020.[i]

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Por Redação
Atualização:

Profa. Dra. Déborah Monte, Doutora em Relações Internacionais (Puc Minas) e Professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).

Prof. Me. Marcos Prudencio, Mestre e Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

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Enf. Me. Elaine Regina Prudencio Hipólito da Silva, Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

 

A pandemia do novo coronavírus em Mato Grosso do Sul está em seu sexto mês e o estado soma 43.065 casos confirmados e 749 óbitos pela COVID-19 em 23 de agosto de 2020. O primeiro caso da doença foi registrado em 11/03/2020 e, de lá pra cá, houve uma disseminação expressiva do vírus pelo estado, especialmente no interior, atingindo todos os 79 municípios de Mato Grosso do Sul. Apresentamos uma análise longitudinal da pandemia no estado, analisando a variação ao longo do tempo dos casos e óbitos, as principais políticas do governo estadual e o avanço da pandemia entre os mais vulneráveis, como os povos indígenas e a população carcerária.

A situação brasileira possui elementos de uma "paranóia coletiva". São mais de 100 mil mortos (121.381 no total[ii]), mais de 3,9 milhões de casos confirmados[iii], 12,8 milhões de desempregados[iv], sem Ministro da Saúde, sem um projeto nacional para retomada econômica, com a dívida pública acima de 80% do Produto Interno Bruto (PIB[v]) e um isolamento social que não ultrapassa 51,7%[vi], ou seja, as pessoas continuam saindo de casa independente da realidade.

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Figura 1: Isolamento social no Brasil.

 Foto: Estadão

O medo da COVID-19 pareceu muito maior no início da pandemia, quando os dados de isolamento chegaram a 62,2% em 22/03/2020M  e o Brasil tinha 1.546 casos confirmados e 25 mortos[vii].

Dani Rodrikl[viii] define que a crise provocada pelo novo coronavírus reforçará visões da realidade, isto é, aqueles com visão mais neoliberal e/ou xenofóbicas terão mais um motivo para ir contra a chegada de estrangeiros em seu país pelo "medo do vírus" e outros com visões mais estadistas defenderão a importância de maiores gastos com a saúde.

Neste sentido com o artigo do escritor Tomas Pueyo, "Coronavirus: The Hammer and the Dance[ix]" que traça uma linha de pensamento para entender a forma de organização da sociedade frente à pandemia, vemos as medidas quarentenárias mais incisivas como o lockdown sendo um martelo, achatando a curva de contágio, e a dança, simbolizando a nova forma de viver, entre períodos de isolamento e distanciamento. De certa maneira, este escopo é visto no Brasil, especialmente em Mato Grosso do Sul.

 

 

Figura 2: Martelo e a dança

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 Foto: Estadão

Mato Grosso do Sul, ao observamos a Figura 3, possui um total de 48.937 casos confirmados de COVID-19, espalhados pelo estado da forma como mostra a Figura 4. Em 31/07, eram 27.669 casos confirmados, houve um crescimento de quase 22 mil casos em apenas trinta dias.

 

Figura 3: Gráfico dos casos confirmados de COVID-19 em Mato Grosso do Sul

 Foto: Estadão

Os dados, ademais, mostram um aumento em praticamente todas as cidades. Contudo, o mais notável é na capital Campo Grande, dos antes, 8.547 casos em 24/07, hoje, 31/08 são 21.334.

 

 

Figura 4: Casos Confirmados de COVID-19 em Mato Grosso do Sul

 Foto: Estadão

Portanto, ao contrário do indicado pelo artigo supracitado, o Mato Grosso do Sul não fez em nenhum momento um lockdown, não houve um achatamento da curva pelo martelo e sim apenas a dança. Deste modo, o sul mato-grossense se acostumou, normalizou o vírus (faz um isolamento social menos de 50%,) e intensificou o jeito de ser.  Neste contexto, as ações do governo estadual foram tomadas.

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A preocupação com temas socioeconômicos, como o acréscimo no pagamento de auxílios e a isenção de impostos, se concentrou nos primeiros meses da pandemia (Março e Abril). Maio consolidou o sistema de testagem por drive-thru nas principais cidades. Em Junho, entrou em vigor o Programa de Saúde e Segurança da Economia (PROSSEGUIR) que classifica as atividades em relação ao seu risco, com vistas a coordenar as ações entre estado e municípios, e fornecer a certos setores econômicos previsões sobre o retorno integral ou parcial de suas atividades. Julho e Agosto, por sua vez, são caracterizados pela adoção de políticas voltadas para um novo planejamento de leitos de UTI, distribuição de Equipamentos de Proteção Individual e planejamento de retorno às aulas na rede de ensino estadual.

Por fim, o avanço da doença entre populações vulneráveis aciona o "alarme de incêndio". Aquidauana, cidade que abriga a Terra Indígena de Taunay/Ipegue, do povo Terena, tem a maior taxa de letalidade do estado em 23/08/2020: 81,14 (óbitos/100 mil habitantes). Diante do avanço da COVID-19 nesta aldeia, no mês de julho, o Conselho do Povo Terena e as Defensorias Públicas de Mato Grosso do Sul e da União solicitaram ajuda aos Médicos sem Fronteiras para o envio de recursos humanos e materiais. No entanto, o socorro ao povo Terena foi inicialmente não autorizado pelo Ministério da Saúde[x]. Após intensas críticas da opinião pública e negociações entre os Médicos sem Fronteiras, a Secretaria de Estado de Saúde e a Secretaria Especial de Saúde Indígena, foi autorizado a atuação da ONG em postos de saúde de Anastácio[xi]. Segundo a SESAI, há 1065 casos confirmados e 33 óbitos por COVID-19 entre indígenas do estado em 23/08/2020. O Conselho do Povo Terena, por sua vez, destaca que só entre os Terenas há registros de 1239 casos  nas Terras Indígenas de/em Taunay/Ipegue, Miranda, Buriti, Nioaque e Aldeinha (19/08/2020).

Merece destaque, também o avanço da COVID-19 no sistema prisional de Mato Grosso do Sul. De acordo com a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) há, em 23/08/2020, 819 casos confirmados, sendo 681 internos, 126 servidores e 12 casos do regime semi-aberto/monitorado. Felizmente, não há registros de óbitos.

Apesar das iniciativas do governo estadual, são necessárias políticas públicas mais específicas e atentas às especificidades das populações socioeconomicamente vulneráveis.

 

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[i] O artigo faz parte do projeto em parceria com a ABCP coordenado pela professora Luciana Santana (UFAL)intitulado: Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia de covid19 no Brasil. Essa é uma versão elaborada a partir de texto publicado no site da ABCP em 14/07/2020 no seguinte link: https://cienciapolitica.org.br/analises/especial-abcp-4a-edicao-governos-estaduais-e-acoes/artigo/especial-abcp-acoes-mato-grosso-sul-enfrentamento

[ii] Dados do Ministério da saúde https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 31/08/2020

[iii] Idem

[iv] ibge.gov.br/explica/desemprego.php

[v] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/06/divida-publica-passa-marca-de-80-do-pib-e-ja-supera-projecao-para-2020.shtml

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[vi] Lembrando a taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 70%.

[vii] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/03/22/brasil-tem-1546-casos-confirmados-de-coronavirus-mortes-sobem-para-25.htm

[viii] https://www.project-syndicate.org/commentary/will-covid19-remake-the-world-by-dani-rodrik-2020-04?barrier=accesspaylog

[ix] Tradução livre: Coronavírus: O martelo e a dança

[x] https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2020/08/21/brasil-impede-medicos-sem-fronteiras-de-atender-indigenas-contra-covid-19-no-ms.htm

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[xi] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/08/apos-vetar-ajuda-de-ong-no-combate-da-covid-19-entre-indigenas-governo-recua.shtml?cmpid=assmob&origin=folha

 

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