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Horário eleitoral nada tem de gratuito; entenda

Projeto no Senado propõe que propaganda eleitoral nas emissoras seja extinta e que dinheiro de isenção fiscal financie campanhas

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Por Elisa Clavery
Atualização:

Apesar do nome, o horário eleitoral, em rádios e televisões, nada tem de gratuito. Segundo previsão feita pela ONG Contas Abertas, por meio de uma estimativa da Receita Federal, com a isenção de impostos dada às emissoras prevista para 2018, os cofres públicos deixarão de receber cerca de R$ 1 bilhão. A dedução fiscal é equivalente a cerca de 80% do que seria obtido pelas rádios e TVs com a venda publicitária do espaço. O valor total representa, em média, R$ 6,9 para cada eleitor, tomando por base o número de pessoas que podiam votar no ano passado, de 144 milhões de eleitores.

Consumidor assiste ao primeiro dia do horário eleitoral gratuito das eleições municipais de 2016 em televisores Foto: Clayton de Souza / Estadão - 26/08/16

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Segundo o economista Gil Castello Branco, fundador do Contas Abertas, o nome "gratuito" confunde o eleitor, que muitas vezes não sabe que o espaço não tem custos para o partido ou para o candidato, não para ele próprio. "O nome não é o mais adequado. O cidadão não tem claramente a sensação de que isso, de certa forma, está implicando em menos recursos para os cofres públicos. Com o governo numa situação fiscal dificílima, é importante que fique claro que são recursos públicos que deixam de entrar", diz. 

Enquanto o polêmico fundo eleitoral com dinheiro público não ganha consenso no Congresso, outros projetos para financiar as eleições começam a voltar à discussão. Um deles, de autoria do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), propõe que o horário eleitoral gratuito seja extinto e que o recurso poupado da renúncia fiscal mantenha o fundo para as campanhas. Apenas emissoras públicas seriam obrigadas a manter o horário eleitoral. 

Embora não defenda diretamente o fim do horário eleitoral, Castello Branco sugere um melhor uso desses recursos públicos. "Os brasileiros ficam até chocados de ver, muitas vezes no horário nobre, a mesma propaganda repetida, literalmente idêntica, três, quatro vezes. É o uso abusivo desse horário eleitoral", diz o economista. 

O diretor geral da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), Luis Roberto Antonik, nega que a isenção fiscal seja um benefício às emissoras. "Nós perdemos muito com o horário eleitoral. A isenção compensa apenas parte do que a gente perde", afirma. Segundo Antonik, a audiência média das TVs abertas é de 47% antes do horário eleitoral e cai para 34% durante as propagandas. Com o fim das inserções, a audiência não volta ao que era antes e fica estagnada próxima aos 41%. 

Ele diz, ainda, que a associação é favorável ao fim do horário político, como sugerem as propostas no Congresso. "Nós passaríamos a ter uma vida normal", afirma. Antonik justifica, ainda, que o abatimento das emissoras pode ser menor que os 80% que estão em lei - segundo ele, a Receita Federal pode calcular, ainda, um desconto nas tabelas de preço dadas às empresas que compram espaço publicitário. 

ORIGEM DO HORÁRIO ELEITORAL

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As campanhas no rádio e na televisão foram criadas por meio de uma lei de 1962, como explica o verbete da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre horário gratuito de propaganda eleitoral. Pela legislação da época, nos 60 dias anteriores às 48 horas das eleições, as emissoras eram obrigadas a reservar duas horas de sua programação para as propagandas, respeitando um critério de rotatividade dos partidos. Na época, a propaganda paga só ficou proibida a 30 dias antes do pleito - ou seja, um candidato também poderia pagar para veicular sua propaganda.

LEI FALCÃO

Sob a orientação do então ministro da Justiça, Armando Falcão, foi criada a Lei Falcão, em 1976, que restringiu a propaganda eleitoral à apresentação do currículo do candidato e uma foto. Em blocos de cinco minutos, na TV e no rádio, os candidatos se apresentavam com nome, partido, número e foto. O formato, criado durante a ditadura militar, tinha como objetivo evitar a comunicação entre candidato e eleitor. 

Em 15 de setembro de 1989 entrava no ar novamente a propaganda eleitoral gratuita para as eleições presidenciais. Como mostrou o Acervo Estadão, os programas deste ano chegaram a ser mais livres que os atuais

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COMO FUNCIONA HOJE

O horário eleitoral sofreu algumas modificações após a minireforma eleitoral, em 2015. O período da propaganda, por exemplo, foi reduzido de 45 para 35 dias antes do pleito, e já passou a valer nas eleições municipais de 2016. 

A diferença no tempo de televisão de cada candidato está diretamente ligada à representação dos partidos na Câmara dos Deputados. Por isso, inclusive, as coligações influenciam diretamente no tempo de cada partido. A divisão ocorre da seguinte forma: 90% distribuídos proporcionalmente ao número de representantes que o partido tenha na Câmara dos Deputados e 10% igualitariamente.

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Às vésperas da eleição, a Justiça Eleitoral faz um sorteio para definir a ordem de veiculação da propaganda de cada partido ou coligação. A cada dia, a propaganda veiculada por último no dia anterior será a primeira.

No ano passado, para as eleições municipais, a propaganda foi feita de segunda a sábado das 7h às 7h 10 e das 12h às 12h10 no rádio; e das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40 para a televisão. Além disso, de segunda a domingo foram distribuídos um total de 70 minutos diários, em inserções de 30 e de 60 segundos, ao longo da programação entre 05h e 00h - sendo 60% para prefeito e 40% para vereador. 

Leia na íntegra a resolução do TSE.

PROPOSTAS EM DISCUSSÃO

No Senado, há pelo menos outras três propostas em discussão. O texto de Caiado sugere que o eleitor possa escolher uma parcela proporcional para destinar ao partido ou candidato de sua preferência. Segundo enquete feita pelo site da Casa, 607 internautas responderam ser a favor da matéria, enquanto 171 foram contrários.

Já o líder da bancada do PSDB, Paulo Bauer (SC), propõe incorporar à reforma política um projeto de sua autoria que prevê o fim do horário eleitoral em rádio e TV. A medida teria como objetivo baratear as campanhas e usar o valor da dedução fiscal das emissoras para financiar o fundo. O tucano critica, no texto, o que chama de "marketagem" da imagem política. 

O mesmo tema é tratado pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que também fala sobre o "excesso de marketing eleitoral" e propõe o fim das propagandas eleitorais na TV e no rádio. Segundo ele, isso teria "contribuído para distorções e manipulações do processo eleitoral". 

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