O plano é fazer com que o empresário perca o dia, aguardando oito ou nove horas, pelo menos, até que seja chamado pelo presidente da CPI, senador Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) para se apresentar ao colegiado, e na sequência, ser dispensado. A Delta é apontada pela Polícia Federal como irrigadora de empresas fantasmas, envolvidas em esquema de corrupção e desvio de dinheiro público comandado pelo contraventor Carlos Almeida Ramos, o Carlos Cachoeira.
A expectativa é que o depoimento de Paulo Preto - que já avisou que deseja falar - estenda-se por oito horas, pelo menos, como ocorreu ontem com o do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot. Enquanto ele falava, quem esperou durante nove horas a sua vez foi o empresário Adir Assad, ligado às empresas de fachada que seriam utilizadas para irrigar milhões de reais repassados à Delta. Protegido por habeas corpus, ele avisou que não falaria e, em menos de cinco minutos, foi dispensado.
A estratégia do "chá de cadeira é uma forma simbólica de retaliação ao código seguido pela maioria expressiva dos depoentes, que transformou a investigação na "CPI do Silêncio". Até agora, dos 34 depoentes, apenas 14 responderam às perguntas dos parlamentares.
A Delta é a maior executora de projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). De 2007 até agora, a empreiteira recebeu R$ 2,9 bilhões do governo federal, segundo levantamento da ONG Contas Abertas. Considerando os projetos sob responsabilidade das estatais e demais contratos, o total vai a R$ 4,1 bilhões. Em junho, a Controladoria Geral da União (CGU) declarou a inidoneidade da Delta, impedindo-a de assinar novos contratos com a administração pública.
Ontem Pagot revelou à CPI que compareceu a um jantar na casa do ex-senador Demóstenes Torres (GO), em fevereiro de 2011, em que estavam presentes o então presidente da Delta, Fernando Cavendish, e o ex-diretor da empresa Cláudio Abreu, também investigado pela CPI. Pagot afirmou que naquele encontro, Demóstenes lhe pediu que encaminhasse obras do Dnit para a Delta.
A retaliação não produz qualquer efeito prático: antes, revela a impotência do Parlamento diante de um recurso jurídico com capacidade para inviabilizar um dos instrumentos mais eficazes na investigação de corrupção e de apoderação do dinheiro público.