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As relações entre o Poder Civil e o poder Militar

O fantasma da Lava Jato volta a rondar o PT

Petistas criticam indicação de Gonet como novo procurador-geral e temem que uma nova aliança entre os potentes do Planalto recrie as condições de isolamento do partido

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Foto do author Marcelo Godoy

Lula está sorridente na fotografia. Exibe os polegares em sinal de positivo entre o subprocurador-geral Paulo Gonet e o ministro da Justiça, Flávio Dino, seus indicados à Procuradoria Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, respectivamente. A imagem, que simbolizaria o espírito conciliador de um presidente que se equilibra entre os seus interesses e os do STF e do Senado, despertou, para os companheiros de Lula, um receio: o fantasma da Lava Jato.

Lula indica ministro Flavio Dino para vaga no STF e procurador Paulo Gonet para comandar PGR Foto: RICARDO STUCKERT PRESIDENCIA DA REPUBLICA

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Ele ronda o PT desde o começo do terceiro mandato lulista e virou tema de conversas na legenda a partir das recentes escolhas institucionais do presidente. A ameaça não é nova ou estranha. Petistas temem que uma nova aliança entre os potentes do Planalto recrie as condições de isolamento do partido.

“A Lava Jato não foi um desvio do Moro, mas uma concepção que fazia da Justiça um instrumento político”, disse José Genoino. O ex-presidente do partido é uma das vozes que alertam para o risco da nomeação de Gonet para a Procuradoria Geral da República. “Quando se pega um procurador-geral com uma concepção lavajatista – concepção de Ministério Público e de Direito Penal – a qualquer momento, dependendo das circunstâncias, pode surgir (o fantasma da Lava Jato). Em que momento pode aparecer, não sei, mas que é um problema, é.”

É conhecida a diferença entre o PT institucional e o PT social. O historiador Lincoln Secco a retrata em seu livro História do PT. “Há uma relação inversamente proporcional entre a importância interna da linguagem radical e a influência na sociedade.” Genoino ocupou cargos que o aproximavam de posições institucionais da legenda. Hoje, dedica-se a escrever livros – vai lançar um sobre a Constituinte – e diz que voltou à base. É ali que as desconfianças sobre Gonet são maiores. Muitos se recordam das decisões de Gilmar Mendes na Lava Jato e do papel do ministro como apoiador da candidatura de Gonet à PGR.

Na oposição, há quem veja uma forma de se verificar se os receios do PT são verdadeiros. Bastaria acompanhar as manifestações de Gonet nos inquéritos do STF sobre a venda de joias e sobre a falsificação de certificados de vacinas, envolvendo Jair Bolsonaro. Gonet decidirá se denuncia ou não o ex-presidente e se o processo deve prosseguir no STF ou na primeira instância. Lula teve o direito de ver seus casos analisados por quatro instâncias judiciais. Por que agora Bolsonaro, sem foro especial por prerrogativa de função, não teria o mesmo direito?

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Moro diria que o fantasma da Lava Jato ronda só os corruptos. Mas a história mostra que esse espectro também pode surgir onde a Justiça é condicionada por interesses políticos.

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