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Ministro que usou avião da FAB e diárias para ir a evento de cavalos nunca foi recebido por Lula

Indicado pelo União Brasil, Juscelino Filho comanda uma das pastas mais importantes da Esplanada; Ministros da área política seguem em silêncio sobre irregularidades envolvendo colega

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA -Em dois meses de governo, o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ainda não foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A agenda oficial revela que Juscelino nunca esteve a sós com o chefe e participou apenas de eventos coletivos na presença de Lula. Sem qualquer experiência na área, o ministro foi indicado pelo União Brasil para uma das pastas mais importantes da Esplanada com orçamento de R$ 3 bilhões.

Lula deu dois ministérios para o partido de Juscelino em troca de apoio político ao governo no Congresso. Além das Comunicações, o União Brasil comanda o Turismo, sob a direção de Daniela Carneiro. Havia ainda a expectativa de uma terceira vaga para a sigla no governo, a ser ocupada pelo ex-pedetista Waldez Góes, que chefia o Ministério da Integração, mas ele se recusou a se filiar ao União Brasil. Ele foi indicado pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) na cota partidária do legenda.

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, nunca foi recebido por Lula em encontro individual no Planalto Foto: Isac Nóbrega/ MCom

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Numa série de reportagens, o Estadão revelou que Juscelino Filho utilizou avião da FAB e recebeu diárias para ir a eventos privados em São Paulo relacionados a cavalos, tema sem qualquer relação com sua pasta, alegando se tratar de agenda “urgente”.

Nos quatro dias de viagem, Juscelino teve apenas duas horas e meia de agenda de trabalho e o restante do tempo se dedicou aos cavalos. Foi a um leilão, inaugurou uma praça em homenagem a um cavalo de seu sócio, onde se apresentou como “integrante da equipe do presidente da República”, e recebeu um prêmio chamado o Oscar dos cavalos. Nenhum dos eventos envolvendo o animal consta da sua agenda oficial.

O Estadão também revelou que o ministro recebeu no gabinete o sócio oculto de uma empresa beneficiada por ele com verbas públicas e seu consultor para compra de cavalos. Pouco antes de virar ministro de Lula, como deputado, Juscelino enviou dinheiro do orçamento secreto para asfaltar a estrada que passa em frente à sua fazenda e sua pista de pouso particular quando a maioria dos moradores da cidade de Vitorino Freire (MA), onde estão suas terras, sofrem com ruas de terra.

Em entrevista à CNN Brasil, Lula disse de forma espontânea que cobrou explicações de Juscelino quando perguntado sobre o tema corrupção. “Quando saiu a denúncia do ministro Juscelino, eu liguei para o Padilha. Eu estava nos Estados Unidos e falei: ‘Padilha, eu quero que você converse com Juscelino. Eu quero que você ouça a explicação dele, porque ele tem que se explicar corretamente para os meios de comunicação’. E vai ser assim que vai acontecer com todas as denúncias”, disse o presidente, em entrevista à CNN.

O Planalto foi procurado, mas não comentou os novos fatos revelados pelo Estadão envolvendo o ministro e os cavalos. Os quatro ministros que compõe a “cozinha de Lula”, Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Paulo Pimenta (Secom) e Márcio Macêdo (Secretaria- Geral) - aqueles com pastas vinculadas à Presidência e responsáveis por assessoramento do direto do presidente - têm se recusado a comentar o caso quando questionados pelo Estadão.

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Juscelino não é o único que ainda não teve acesso privado ao chefe. Levantamento do Estadão mostra que dos 37 ministros que integram o governo, nove ainda não se reuniram a portas fechadas com o presidente.

Juscelino é responsável por manejar mais de R$ 3 bilhões do caixa do Ministério das Comunicações. A área do ministro tem a tarefa de levar internet para todo o País e administrar a implementação da rede 5G. Em dois meses no cargo, Juscelino já executou iniciativas irrelevantes como a disponibilização de chips dos Correios para território indígena Yanomami onde não há antena, conforme revelou o Estadão.

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