PL quer que Câmara trave ação penal contra Bolsonaro por tentativa de golpe

PL quer usar procedimento constitucional que permite a Casa sustar decisão enquanto o deputado Ramagem, também denunciado, mantiver o mandato; texto concede benefício no caso de crimes cometidos após a diplomação e sigla argumenta que as acusações ao deputado são relativas ao 8 de janeiro

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Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA – O PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, protocolou um documento junto à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 1.º, pedindo para tranvar a tramitação da ação penal julgada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) réu. O ex-presidente Jair Bolsonaro também foi declarado réu na mesma ação e seria beneficiado de eventual decisão da Câmara.

A sigla fundamenta a ação num trecho da Constituição que dá à Câmara o poder se sustar o andamento de uma ação penal enquanto o parlamentar mantiver o seu mandato. Para o líder do PL da Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), se a Câmara pode trancar uma ação penal, a decisão beneficiaria todos os réus. “Essa foi a melhor notícia do dia para a defesa do presidente Bolsonaro”, disse Sóstenes.

Ramagem prestou depoimento à Polícia Federal em junho de 2024. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

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A Constituição diz que esse procedimento só pode ser adotado em casos de crimes cometidos após a diplomação de um deputado. Para a aprovação, argumenta o advogado do PL, Marcelo Bessa, seriam necessários 257 votos.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República aceita pelo STF diz que, enquanto chefiava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem auxiliou Bolsonaro a deflagrar o “plano criminoso”, descredibilizando as urnas eletrônicas e opositores no procedimento que teria culminado numa numa tentativa de golpe de Estado. Ramagem permaneceu no cargo até março de 2022.

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A Polícia Federal afirma que ele se tornou um dos principais conselheiros do ex-presidente e articulou ataques ao STF. Trocas de mensagens apontaram, segundo as investigações, que Ramagem incentivava Bolsonaro a confrontar os ministros. A defesa do deputado classificou os indícios como “tímidos” e negou envolvimento dele em atos golpistas.

No documento, o PL alega que todos os supostos crimes imputados teriam sido consumados após a diplomação de Ramagem, que ocorreu em 19 de dezembro de 2022. “Porquanto o crime de organização criminosa armada, que possui natureza permanente, teria se estendido até janeiro de 2023, e os demais crimes imputados teriam ocorrido no dia 8 de janeiro de 2023″, justifica o texto, assinado por Bessa.

Ramagem é acusado de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito, organização criminosa, dano qualificado e deterioração do patrimônio público tombado.

Segundo a Constituição, uma vez recebida a representação, o pedido de sustação precisará ser analisado pela Câmara num prazo de 45 dias.

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O líder do PL da Câmara partiu em defesa de Ramagem. “Em nenhum momento o PL vai abrir a mão das prerrogativas constitucionais na proteção de um homem probo”, disse.

O deputado pediu o apoio dos demais parlamentares e disse que o a ação penal é uma “farsa”. ”É a possibilidade de o Congresso Nacional de sustar a ação penal e essa ação penal que nós sabemos é fruto de farsa e perseguição”, afirmou.