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Pesquisa traça perfis de quem não usa preservativo

Por Agencia Estado
Atualização:

A cada ano são usadas cerca de 600 milhões de camisinhas no Brasil. Portanto, considerando o fato de que o País conta com 180 milhões de habitantes, 30% na faixa etária de até 14 anos, cada brasileiro com idade sexualmente ativa usa em média 4,8 preservativos em 12 meses. É pouco. Mas o Ministério da Saúde quer dobrar o número. Para isso, encomendou duas pesquisas sobre o uso de camisinhas. Uma delas será divulgada hoje durante o 2.º Fórum de Marketing Social do Preservativo, no Recife, organizado pelo próprio ministério, pela Usaid (agência americana para o desenvolvimento internacional) e por ONGs, como a Pact Brasil, que apóia projetos de prevenção à aids. Com a parceria de duas instituições de peso - Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Fundação Cândido Rondon -, o estudo anunciado hoje foi feito em 2003. Ele identificou os perfis dos que não usam preservativos, apontou as principais razões disso e, por fim, se os locais de venda e distribuição agradam ou não à população. A primeira etapa da pesquisa contou com a ordenação dos registros de infectados com o vírus HIV do Programa Nacional de DST/Aids, feitos de 1996 ao início de 2003. Surpresa - A pesquisa identificou cinco perfis. O grupo mais numeroso foi também o que mais surpreendeu o professor da FGV. Trata-se de homens e mulheres com mais de 40 anos, moradores de cidades com até 900 mil habitantes e escolarizados. "Significa que não basta ter acesso à informação para usar camisinha e não se contaminar", afirma Orlando Cattini Jr., coordenador do estudo e professor de administração da FGV. Dos cinco grupos, esse foi o que mais cresceu nos últimos sete anos. Os perfis não receberam classificação por hábitos sexuais. Mesmo assim, graças a uma característica, é possível deduzir que num deles, o perfil 2 (homens de cidades com mais de 2 milhões de habitantes, a maioria no Sudeste e com mais de 35 anos) se encaixam os homossexuais: foram os primeiros a comunicar a contaminação ao ministério. O comerciante João Abrantes, de 42 anos, infectado com o vírus da aids em 1993 por relação sexual poderia ser um deles. "Tinha um parceiro fixo e não me preocupava com isso. Hoje, jamais faria isso, mesmo se não tivesse aids", afirma. "Na época, não havia informação e era difícil encontrar camisinha para comprar." João não precisa mais comprar preservativos. Ele se abastece no Grupo de Incentivo à Vida (GIV), ONG de apoio a soropositivos em São Paulo. A forma de distribuição não agrada aos outros grupos identificados na pesquisa da FGV. O perfil 1, por exemplo, prefere ter acesso às camisinhas em centros de saúde. O perfil 3 (mulheres de cidades com até 100 mil habitantes, a maioria na região Sul, com nenhuma escolaridade), em postos de saúde, ONGs e em escolas. O 4 (mulheres com idade de 20 a 24 anos, que moram em cidades com mais de 2 milhões de habitantes), em áreas de encontro (boates, clubes), centros de saúde e ONGs e o 5 (homens com 1.º grau incompleto, de 25 a 39 anos, moradores de cidades com até 100 mil habitantes), em farmácias e escolas. "O supermercado foi o único ponto recusado por todos", conta Orlando. "É um indicador de que as pessoas ainda têm vergonha de usar." A existência de parceiros conhecidos foi o motivo que mais apareceu como justificativa dos grupos para não terem usado camisinha. Entre outros apontados estão a falta de porte do preservativo no momento da relação sexual e o fato de que ele atrapalha o prazer físico.

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