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Saiba quem é Marcos do Val, senador bolsonarista alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal

Parlamentar acumula polêmicas, é aliado de primeira hora de Bolsonaro e já treinou figurantes para ‘Tropa de Elite’

Por Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA – Alvo de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira, 15, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) acumula histórico de polêmicas em sua carreira política, com declarações contraditórias, ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e alinhamento ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Antes de chegar a Brasília, passou pelo Exército, criou um centro de treinamento – afirma ser ex-instrutor da Swat – e preparou figurantes para o filme Tropa de Elite.

Senador Marcos do Val (Podemos-ES) foi alvo de operação da Polícia Federal nesta quinta-feira, 15 Foto: Wilton Junior/ Estadão

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A operação da Polícia Federal (PF) autorizada por Moraes ocorre na data em que o parlamentar completa 52 anos de idade. Três dias antes, ele havia divulgado, em suas redes sociais, dados confidenciais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e sugeriu uma investigação do ministro do STF nos inquéritos sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Por ordem de Moraes, as redes sociais do senador foi suspensas na tarde desta quinta.

Nascido em Vitória, capital do Espírito Santo, Do Val chegou ao Senado após ser o segundo candidato mais votado no Estado, com 863.359 votos (24,08%), em 2018. Foi eleito pelo Partido Popular Socialista (PPS), atual Cidadania, na chapa do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB). Apesar de representante do bolsonarismo em Brasília, é aliado do socialista capixaba. Sete meses após o início do mandato, se filiou ao Podemos.

Antes de ocupar uma cadeira na Casa, o senador, além de militar, dava curso de táticas de defesa pessoal. Segundo a sua biografia oficial no Senado, as aulas foram ofertadas a agentes de corporações policiais internacionais, como as americanas Swat, FBI e Navy Seals. No cinema, ensinou figurantes do filme Tropa de Elite, de José Padilha, a empreender, entre outros exercícios, a incursão em comunidades do Rio.

Durante a campanha em 2018, Do Val levantou pautas como a flexibilização do porte de armas entre a população civil e se aliou a Bolsonaro. Em fevereiro deste ano, ele disse à PF que sofreu coação do ex-presidente por uma aliança em um golpe de Estado que impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Conforme mostrou o Estadão na época, após receber ligações do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Do Val mudou a sua versão sobre a suposta coação, dizendo que o plano era de autoria do ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e desvencilhando uma possível responsabilidade do ex-presidente. Moraes mandou abrir um inquérito para investigar se ele mentiu para a PF, e classificou o suposto golpe como “ridículo” e uma tentativa de “operação Tabajara”. É deste inquérito que Do Val é alvo.

Atuação parlamentar inclui comissões e visita a golpistas do 8 de janeiro

Como parlamentar, ele faz parte da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e da Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC), onde já ocupou o cargo de vice-presidente.

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Dois dias após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, Do Val visitou o local onde os acusados por ocupar e depredar os prédios dos Três Poderes foram presos em Brasília. No local, o senador disse que a PF estava “tratando bem” os detidos. “Há serviço médico à disposição das pessoas e uma sala com membros da Ordem dos Advogados do Brasil para atendimento jurídico”, disse o senador em live publicada no seu Facebook.

Desde o início do mandato de Lula, Do Val protagoniza embates com Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública. Durante uma audiência na CCJ em 9 de maio, o senador acusou o ministro de ter se omitido durante os atos golpistas. Dino o respondeu ironizando a sua biografia, gerando uma grande repercussão nas redes sociais: “Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores. O senhor conhece? Capitão América, Homem-Aranha?”.

Desde o confronto no Senado, Do Val costuma citar Dino em suas postagens nas redes sociais. No dia 17 de maio, o parlamentar publicou a foto de um pen drive em seu Twitter, cujo conteúdo guardaria “imagens bombásticas feitas por drones e documentos” que acarretariam na queda do ministro e também do presidente Lula. As supostas revelações nunca foram postas a público pelo senador.

Nesta quinta, os policiais vasculharam o gabinete do parlamentar no Senado e seus dois endereços no Espírito Santo. Ele é investigado pelos crimes de divulgação de documento confidencial, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

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