O Brasil conquistou neste domingo, 28, três medalhas - uma de prata e duas de bronze - nos Jogos Olímpicos de Paris. Dois pódios vieram com os judocas Willian Lima e Larissa Pimenta, e o terceiro com a skatista Rayssa Leal, que ficou na terceira colocação geral do Skate Street feminino.
Modalidade olímpica nos jogos de Tóquio 2020, o skate que hoje faz o País crescer no quadro de medalhas - e suar frio na frente da televisão pela expectativa de bons resultados - já sofreu também com vetos e preconceitos no passado. Um caso emblemático de perseguição à prática do esporte aconteceu na maior cidade da América do Sul, nos anos 1980.

Na época, os skatistas que moravam em São Paulo costumavam fazer as suas manobras e se equilibrar sobre as quatro rodinhas nas marquises do Parque do Ibirapuera, na zona oeste da capital. O então prefeito da cidade, Jânio Quadros, contrário à prática, vetou o uso do skate nas dependências do parque.
Houve reação e protestos dos skatistas contra a restrição, mas ele não recuou. Pelo contrário: resolveu asfixiar ainda mais a atividade e estendeu a proibição para toda capital, em 1988.
Em resposta, cerca de 200 pessoas se reuniram perto do metrô Paraíso. Entre as reivindicações, os manifestantes pediram a construção de um espaço para que os esportistas pudessem praticar a modalidade.
Mesmo com a restrição, eles continuaram fazendo suas manobras e até organizando campeonatos nas sombras. Mas, com frequência, eram confrontados pela guarda municipal.

O skatista brasileiro Bob Burnquist, já considerado o melhor do mundo, relatou em entrevistas que era comum ter o skate apreendido naquela época, e praticantes levados à delegacia.
Os atritos começaram a se encerrar no ano seguinte, em 1989, com a eleição de Luiza Erundina (PSOL-SP), hoje deputada federal, para a prefeitura de São Paulo. Assim que assumiu o posto, ela permitiu o uso do skate logo na primeira semana de mandato.
Em uma matéria do Estadão, de 8 de janeiro daquele ano, intitulada “Erundina começa a mostrar o seu estilo”, o jornal destaca que “o retorno dos skatistas ao Parque do Ibirapuera” - junto com as bicicletas e os comerciantes ambulantes na Sé - foi uma das mudanças “mais visíveis” da então nova gestão.
Em 2021, quando o skatista brasileiro Kelvin Hoefler conquistou a medalha de bronze no skate street nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Erundina usou as redes para comemorar e lembrar de um dos atos que inaugurou a sua gestão.
“E a nossa primeira medalha na Olimpíada de Tokyo veio justamente do Skate, com o atleta Kelvin Hoefler. Hoje, um esporte olímpico, no passado, discriminado e proibido em São Paulo, que Erundina liberou! Parabéns Kelvinho!”, disse a parlamentar na época.
Neste domingo, após a conquista de Rayssa, Erundina também comentou o feito da brasileira, mas de forma mais comedida: “Parabéns, Rayssa Leal! Medalha de bronze pra nossa fada! Viva o Skate!”