Moradores de SP relatam falta de energia elétrica por mais de dois dias

Concessionária Enel afirma trabalhar para normalizar fornecimento; consumidores relatam interrupções recorrentes do serviço

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Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue e Ítalo Lo Re
Atualização:

Mais de 48 horas após a chuva intensa de sábado, 5, moradores de diferentes bairros da cidade de São Paulo ainda enfrentam falta de fornecimento de energia elétrica na tarde desta segunda-feira, 7, principalmente na zona oeste da capital. Os consumidores também relatam problemas recorrentes de interrupção do serviço nos dias em que há temporais, que têm sido frequentes neste verão.  

Funcionáriosda Prefeitura retiram árvore derrubada pela chuva na AvenidaProfessorAlfonso Bovero, na zona oeste;regiãoficou sem energia elétrica Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO

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Em nota, a empresa de distribuição de energia Enel afirma ter normalizado o serviço em 80% dos endereços até a manhã desta segunda-feira, 7. “A empresa triplicou a quantidade de equipes em campo para agilizar os reparos (...). A distribuidora segue trabalhando ininterruptamente para restabelecer o fornecimento de energia a todos os clientes impactados pelas chuvas”, disse.

Uma queda de árvore em frente a uma escola infantil na Avenida Professor Alfonso Bovero, na zona oeste, perto do Parque Reservatório Sabesp Sumaré, interrompeu a distribuição de energia ao colégio e a outros estabelecimentos da região. Segundo a consultora de gestão de pessoas da escola, Ligia Bueno, de 35 anos, a árvore caiu por volta de 16h40 de sexta-feira, 4. Havia aula no momento e, como a avenida foi interditada, teve de ser feita uma reorganização para as crianças serem retiradas do local.

"O barulho não foi alto. Só quando saímos tivemos dimensão do que aconteceu", conta Ligia. Em frente à escola, um automóvel foi destruído por um tronco de árvore que tombou. "A câmera de segurança de um estabelecimento em frente mostra que o dono do carro havia acabado de sair quando a árvore caiu." O proprietário do veículo seria um homem que trabalha na região, mas ela disse não saber o nome dele.  As aulas na escola foram retomadas nesta segunda, mas ainda com gerador.

Morador do bairro Sumarezinho, na zona oeste, o publicitário Rafael Alves, de 30 anos, estava sem energia havia mais de 48 horas na tarde desta segunda. “Sem perspectiva de volta”, lamentou, ao falar com a reportagem. “Na semana passada, a luz falhou diversas vezes, mas voltou rápido”, comparou. Por estar em home office, precisou trabalhar em uma cafeteria nesta segunda. A falta de fornecimento começou por volta das 15 horas de sábado.

Além disso, interrupções de serviço de menor duração são frequentes. Na sexta, por exemplo, Alves relata ter ficado seis horas sem energia. “Eu me mudei para o prédio novo há duas semanas, e os funcionários já disseram para eu me acostumar. Choveu, caiu a energia.”

Ele conta que, quando chove, já corre para colocar o celular no carregador. “A falta de energia afetou intensamente meu trabalho, praticamente perdi um dia. No fim de semana, comprometeu todo meu planejamento, organização da casa, limpeza. Uma geladeira cheia de um mercado recém-feito se perdeu. É absolutamente inviável”, conta.

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O morador relata ter ligado diversas vezes para a Enel, mas conta que sequer conseguiu falar com um atendente. “Só recebo previsões soltas, que não se concretizam. Basicamente, dizem que volta em tantas horas e, claro, não volta”, reclama. 

A queda de energia chegou a atrasar o início da partida entre Corinthians e São Paulo, no Morumbi, pelo Campeonato Paulista, no sábado, 5.  Os blecautes em dias de chuva sempre foram constantes no bairro, segundo Suzana Pereira, 57 anos. "Toda vez que chovia, a gente podia esperar que vinha a queda de energia”, relata ela, de 57 anos, síndica de um condomínio na região. Segundo ela, nos últimos anos a energia tem sido restabelecida mais rapidamente, mas ainda há interrupções de fornecimento, que duram alguns minutos. 

Em muitos locais, conforme a Enel, a companhia continua atuando em conjunto com os bombeiros, que trabalham na retirada dessas árvores para que os atendimentos possam ser feitos. Nestes casos, muitas vezes o trabalho envolve operações mais complexas, como a reconstrução da rede e troca de postes e equipamentos.

Problema constante

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Na Vila Guarani, no distrito do Jabaquara, na zona sul, por exemplo, os moradores relatam ter passado pela situação cinco vezes em menos de um mês. O problema seria em um poste, que explodiu em casos de chuva na região.

No último fim de semana, a empresária Leila Quesada, de 66 anos, teve de dormir na casa do filho, pois ficou cerca de 12 horas sem energia entre o sábado e o domingo, 6. Estava com o marido e a mãe, de 90 anos, que tem dificuldades motoras e não conseguiria subir até o 8º andar sem um elevador. “Ela teve de dormir em um colchão no chão, foi um transtorno absoluto”, relata.

Ela reclama da demora na resolução do problema, que começou há cerca de três semanas na região. “Antes acontecia de acabar, como em qualquer lugar, mas voltava rapidinho”, compara.  Pela quedas frequentes de energia quando chove, a moradora fica temerosa em ter danos com algum aparelho eletrônico e eletrodoméstico. “Se fosse a primeira vez, tudo bem, mas não é”, lamenta. “A gente nunca sabe o que vai acontecer (quando chove).”

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Na chuva do último fim de semana, até famosos reclamaram da situação nas redes sociais, como a chef Paola Carosella, que contou ter ficado mais de 9 horas sem energia, e a influenciadora Gessica Kayane, cuja falta de fornecimento se estendeu por cerca de 12 horas.

No bairro Sumaré, na zona oeste, o professor universitário Renato Sérgio de Lima, de 51 anos, relata ter enfrentado cinco quedas de energia desde a terça-feira, 28. “Aqui é muito comum a energia cair e voltar em poucos minutos. Mas, desde terça, o bairro teve várias árvores caídas e cabos partidos”, relata.

Após interrupções durante a madrugada, o fornecimento no endereço em que reside retornou de forma incompleta, apenas com duas fases. Ou seja, os elevadores não voltaram a funcionar por horas. “Galhos da árvore em frente ao prédio caíram ontem mas não vieram tirar. O zelador é que desobstruiu a entrada da garagem”, conta. 

Também na zona oeste, na Vila Madalena, a empresária Laura Santos, de 59 anos, ficou 24 horas sem energia entre sábado e domingo. “Normalmente, quando acontece uma coisa assim, em umas 3 ou 4 horas arrumam”, comenta. Ela procurou a distribuidora, mas as previsões não se concretizavam. “Nunca vi demorar tanto”, conta ela, que mora na região há cerca de 30 anos. “O que impressiona são as informações erradas. Falavam que vai voltar na hora tal. Geralmente, quando falavam, voltava (no prazo estipulado).”

Sobre os casos citados nesta publicação, a Enel afirmou que a situação na Rua Heitor Penteado e entorno se deve à queda de uma árvore de grande porte. “A distribuidora aguarda a remoção da árvore pelo Corpo de Bombeiros para realizar os reparos na rede elétrica e restabelecer a energia.”

Já, no caso da Vila Guarani, alegou que a interrupção foi causada por um condutor partido e que foi solucionada, mas não explicou o porquê de o problema ter se repetido cinco vezes. No caso de Sumaré, esclareceu que o serviço retornou integralmente na manhã desta segunda, enquanto, em relação ao relato da Vila Madalena, atribuiu o problema às “fortes chuvas” que danificaram um equipamento, substituído no domingo.

Bombeiros receberam 530 chamados para queda de árvore na Grande SP desde sexta-feira

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Procurado pelo Estadão, o Corpo de Bombeiros apontou ter recebido 530 chamados para quedas de árvore desde a sexta na região metropolitana da capital paulista, sendo 114 pedidos apenas até as 17 horas desta segunda-feira. Já a Defesa Civil da cidade de São Paulo disse ter feito 68 atendimentos para quedas de árvores nas últimas 24 horas, sendo 52 na região centro-oeste.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências, entre sábado e domingo choveu 14 mm de média na cidade, 8,2% do esperado para o mês (totalizando 62,3 mm até o momento). Além disso, foram registradas rajadas de vento acima dos 35 km/h em diferentes regiões da cidade, como em Santana, com 50,8 km/h.

Em nota, a Secretaria Municipal das Subprefeituras afirmou que “equipes de limpeza, remoção e zeladoria foram mobilizadas para realizar serviços de limpeza necessários em algumas regiões da cidade, a fim de diminuir os transtornos causados”.

Cidade teve áreas com mais de 24 horas sem luz em janeiro

Situação semelhante ocorreu em meados de janeiro deste ano, quando moradores também ficaram mais de um dia sem energia em algumas áreas, como no Morumbi, zona sul de São Paulo. Na ocasião, o Procon-SP chegou a notificar a companhia por não cumprir o prazo de religação previsto pela agência reguladora do setor, de até 24 horas para áreas urbanas. “Em informação da própria empresa, consta que 90% dos clientes tiveram sua energia restabelecida em até 20 horas”, destacou à época.

Em resposta, a Enel alegou que teve volume de ocorrências 500% maior que a média naquele período, por causa de quedas de árvores e chuva, com um pico de 289.233 clientes interrompidos em 18 de janeiro por causa de 841 ocorrências diferentes, cuja a média de retomada do serviço teria sido de 8 horas.

Enel relaciona falta de luz a verão ‘atípico’ em SP

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Ao Estadão, o diretor de Operações da Enel SP, Darcio Dias, destacou que o verão deste ano é “atípico” e com sequências de temporais. “Isso tem gerado tempestades com situações climáticas bem adversas, o que acaba impactando muito a arborização”, alegou. “Não se está falando de situações corriqueiras, do dia a dia.”

Segundo ele, a distribuidora investiu R$ 1 bilhão em melhorias no ano passado, incluindo a realização de 400 mil ações de podas e a adoção de sistema de automação, que permite o restabelecimento do serviço à distância quando não há dano físico à rede. “Sem a necessidade de enviar equipe ao local”, salientou.

No caso deste fim de semana, por exemplo, comentou que parte das ocorrências foram por fiação atingida por grandes galhos e árvores. “As árvores têm caído em quantidade bastante grande, e não geram pequeno dano na rede. Muitas vezes é preciso um trabalho de reconstrução, e, até para reconstruir em algumas situações,precisa dos bombeiros e da prefeitura para fazer a remoção. Essas condições têm agravado a operação.”

Sobre a possibilidade de investimento em rede subterrânea, Dias argumentou que é considerado alto e somente seria possível com um aumento na tarifa. Além disso, destacou que a responsabilidade pelo monitoramento das árvores com risco de queda é municipal, não da Enel.

O Procon-SP argumentou ao Estadão, contudo, que a poda preventiva poderia reduzir o número de casos. “A empresa respondeu que fez (o trabalho de prevenção), mas, mesmo assim, tem-se verificado que não foi o suficiente. A imprevisibilidade não faz parte desse cenário. A empresa tem que estar preparada para atender o consumidor", declarou o chefe de gabinete em São Paulo, Guilherme Farid.

Cajamar e Santo André também reclamam de serviços

Vinculada a uma multinacional, a Enel Distribuição São Paulo atende a capital e outros 23 municípios da Grande São Paulo (como Barueri, Cotia e todo o ABC Paulista), o que representa mais de 7,4 milhões de clientes (dos quais 6,9 milhões residenciais). O serviço também tem atraído críticas fora da capital. 

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Em Cajamar, por unanimidade, a Câmara de Vereadores emitiu uma moção de repúdio à concessionária em 1º de fevereiro pelas "precárias condições e o péssimo serviço prestado aos moradores". “Registramos nossa insatisfação com referência à presteza do atendimento dos serviços que deveriam ser executados de maneira eficiente", diz o texto, que cita bairros (como Chácara Rosário, Polvilho e Jordanésia) que chegam a ficar dias sem energia elétrica. Já no ABC, em Santo André, a situação motivou uma CPI, cujo relatório final foi entregue em fevereiro e apontou “práticas abusivas”.

Em nota, a Enel comentou ter se reunido com representantes do poder público de Cajamar, “ocasião em que prestou todas as informações e esclarecimentos com relação às responsabilidades na execução de podas de árvores e manutenção da rede elétrica na cidade”. Sobre Santo André, disse que "reiterou durante a oitiva na CPI que o atendimento aos seus clientes, e principalmente a cobrança pelos serviços prestados, respeitam rigorosamente a legislação Federal e a regulação setorial".

Concessionária orienta quem teve eletrônicos avariados

Em relação a possíveis danos a aparelhos elétricos, a Enel diz seguir a Resolução 414 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que estabelece todo procedimento a ser feito pelas distribuidoras de energia em caso de ressarcimento. A distribuidora acrescenta que, conforme a norma, o cliente pode realizar contato com a Central de Relacionamento, por meio do 0800 7272120 ou comparecer em uma loja da Enel, no prazo de 90 dias corridos, a contar da data provável da ocorrência do dano elétrico no equipamento, para dar entrada no pedido de ressarcimento, atendendo aos seguintes requisitos:

• Ser o titular da unidade consumidora onde houve a ocorrência;

• Informar a data e o horário prováveis da ocorrência do dano;

• Relatar o problema apresentado;

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• Descrever as características gerais do equipamento danificado, tais como: marca, modelo, ano de fabricação etc.em contato com a distribuidora por meio dos nossos canais de atendimento. Este contato pode ser feito pelo aplicativo da Enel São Paulo; pela agência virtual no nosso site (www.enel.com.br) e pelo Call Center.

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