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Por água contaminada, faculdade lacra bebedouros na Vila Mariana, em SP

Alunos e funcionários tiveram sintomas de vômito e diarreia desde 2018; instituição diz ter feito limpeza e trocado filtros

Por Paula Felix
Atualização:

SÃO PAULO - Análises da água de um câmpus do Centro Universitário FMU na Vila Mariana, zona sul da cidade de São Paulo, atestaram contaminação por bactérias. Após alunos e funcionários terem sintomas de diarreia e vômito, parte dos banheiros e bebedouros foi lacrada. A FMU diz ter tomado medidas para resolver o problema, que se estende desde outubro.

Segundo o site da FMU, lá funcionam os cursos de Arquitetura e Urbanismo, Direito, Design e Moda. Mas a faculdade não informou quantos alunos e funcionários frequentam o local. 

Aluna da FMU, Yasmin Meloprecisou de assistência médica em novembro Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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A aluna de Arquitetura, Amanda Vieira, de 24 anos, passou mal duas vezes. Uma em novembro e, ao fazer a rematrícula em janeiro. “Tive dor de barriga. Temos de trazer garrafinha e recomendam nem lavar as mãos no banheiro.” Na primeira ida ao hospital, recebeu o diagnóstico de contaminação por bactéria. 

A Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Prefeitura, avaliou a água e fez inspeção em novembro. A faculdade foi orientada, diz o órgão, a interromper imediatamente o uso de água do reservatório dos blocos A e C, além de desinfectar caixa d’água e tubulações. Bebedouros, banheiros e copa dos blocos foram lacrados. 

Conforme a Covisa, análises apontaram excesso de amônia, bactérias – como a Escherichia Coli (E.coli), que causa infecção intestinal – e coliformes totais. O órgão disse que a FMU apresentou, em dezembro, certificados de desinfecção dos reservatórios, além de novos filtros dos bebedouros. Mas nova análise, em janeiro, mostrou contaminação. Após vistoria em 31 de janeiro, o local foi orientado a refazer a limpeza e manter bebedouros e banheiros lacrados.

Evitar o contato com a água é a principal recomendação para evitar a contaminação, segundo Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "Todas as vezes que falamos de águas contaminadas por agentes bacterianos, também devemos lembrar que elas podem ter vírus presentes, como o da hepatite A. Pode ter ocorrido a contaminação, por exemplo, pelo vazamento de esgoto ou ter vindo do lençol freático. Não se deve fazer a ingestão e a água não pode ser usada nem para enxague bucal."

Bactérias como a E.coli, que estão presentes nas fezes, causam os sintomas de vômito, náuseas e diarreia relatados pelos alunos. Segundo o infectologista, ao ter esses sintomas, é fundamental procurar ajuda médica, pois, em alguns casos, o tratamento precisa ser feito com antibióticos.

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Gorinchteyn diz que, em relação à amônia, as reações mais graves ocorrer por inalação. "Depende da quantidade para ter malefícios. Dependendo da concentração, o paciente pode ter irritação local, náuseas. Em quantidade maior, há o risco de alterações mais graves do ponto de vista respiratório e neurológico, podendo até ser fatal."

“O prédio tem quatro andares e só o banheiro do térreo está funcionando. Mas ele é grande, tem uns 20 sanitário”, diz a aluna Yasmin Melo, de 21 anos, que também precisou de assistência médica em novembro. "Cheguei a passar mal, vomitei. Eu fui ao hospital e falaram que era infecção intestinal, mas parecia uma virose."

Em nota, a FMU disse que, em novembro, bloqueou parte dos banheiros e bebedouros por “prezar pela saúde” de “alunos e colaboradores”, pois recebeu relatos “que sinalizavam” virose. Disse ainda ter providenciado bebedouros com água mineral, análises laboratoriais e reparos em bebedouros, lajes e reservatórios. 

Segundo a FMU, teste da Covisa, de janeiro, constatou água “própria para consumo”, mas com teor mínimo de cloro, o que seria ajustado. Já a Covisa disse esperar certificados de nova desinfecção da FMU para coletar mais amostras e avaliar a liberação dos equipamentos.

A coordenadoria disse que bebedouros e banheiros dos blocos onde a contaminação foi detectada devem continuar interditados "até que os resultados da coleta realizada após a desinfecção comprovem que a água está dentro dos padrões próprios para o consumo humano".

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