Bullying: o que fazer quando o seu filho é o agressor?

Geralmente, a criança ou o adolescente usa a força física, as palavras ou o status social para intimidar os outros; especialistas dão dicas de como lidar com a situação

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Por Lara Castelo

O bullying é caracterizado por agressões ou intimidações físicas ou psicológicas direcionadas a um ou mais indivíduos, repetidamente. Trata-se de uma prática que costuma ser associada a crianças e adolescentes e que pode acontecer no ambiente escolar, comunitário ou virtual - caso em que é chamada de cyberbullying.

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Para a vítima, o bullying pode gerar diversas consequências físicas e psicológicas, como baixa autoestima, ansiedade, depressão e pensamentos suicidas, de acordo com a psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho, de São Paulo.

Para a especialista, contudo, também é preciso olhar para o agressor nesse contexto. Trata-se do “valentão”, ou seja, aquele que pratica a intimidação contra outras crianças ou adolescentes - 12% dos estudantes brasileiros fazem parte desse grupo, segundo o IBGE. “O agressor usa da sua força física, das suas palavras ou status social para se sobrepor a outros de uma forma humilhante e pejorativa”, descreve.

A criança ou o adolescente que pratica o bullying usa da sua força física, das suas palavras ou status social para se sobrepor a outros de uma forma humilhante e pejorativa. Foto: soupstock/Adobe Stock

De fora, é difícil compreender por que uma criança ou adolescente faria isso com a outra. Segundo Rita, isso acontece principalmente a partir da repetição daquilo que o jovem vê em casa, ou seja, pela perpetuação de um ciclo de violência. “Em casa, muitas vezes a criança é a vítima ou espectadora de humilhações e violências. Aí, na escola, ela reproduz esse cenário no papel do agressor”, pontua.

Mas nem sempre é assim. Há casos em que a criança ou o adolescente praticante do bullying vem de famílias amorosas e gentis, segundo a especialista. “Trata-se de um desvio comportamental em que o jovem sente prazer em ver o sofrimento do outro, e nos quais é necessário acompanhamento psicológico”, analisa.

Mas o que fazer ao descobrir que seu o filho é quem pratica o bullying? Conversamos com especialistas e destacamos quatro dicas.

Confira:

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1. Avalie o contexto familiar

Ao descobrir que o filho está tendo condutas violentas, é importante que os pais reflitam sobre o ambiente em que a criança ou o adolescente está inserido em busca de identificar o que pode estar gerando essas condutas.

Vale destacar que, segundo a especialista, esse gatilhos não se restringem a violências físicas, mas podem ser também emocionais. “Ao estimular muito a competitividade da criança, por exemplo, os pais podem acabar potencializando condutas violentas dos filhos”, comenta Rita.

2. Estimule a empatia

Para evitar que o seu filho siga sendo violento na vida adulta, é importante investir em uma educação solidária, que valorize o coletivo e não só o individual, segundo Rita. “Isso pode ser feito através de condutas simples, como pedir para ele cuidar das plantas ou dos animais de estimação”, exemplifica.

3. Não reagir com violência

Ao descobrir que seu filho está praticando bullying, a tendência de alguns pais é castigá-lo com agressões, mas isso tende a piorar ainda mais a situação, alerta a psicóloga. “Uma reação agressiva só vai aumentar o repertório de violências que o jovem vai reproduzir fora de casa”, justifica.

Nesse sentido, a atitude aconselhada é buscar o diálogo, ou seja, conversar com o jovem para tentar entender o que está acontecendo e ouvir o seu lado. Caso seja constatado que ele realmente está sendo violento com o colega, é aconselhado expor a sua reprovação, segundo Rita.

4. Não negar a realidade

De acordo com Benjamim Horta, criador do Programa Escola Sem Bullying, muitos pais preferem fechar os olhos em relação ao fato de que seu filho é violento e acabam usando desculpas para justificar o seu comportamento.

“Dessa forma, a violência continuará acontecendo. Para impedi-la, o primeiro passo deve ser aceitar que ela existe, para, em conjunto com a escola [quando o bullying acontecer lá], traçar estratégias para melhorar a situação”, descreve.

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Para o pediatra Abelardo Bastos Pinto Jr., presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a escola tem o papel de tentar auxiliar tanto a vítima quanto o praticante do bullying, seja por meio de conversas ou através do encaminhamento para um psicoterapeuta.

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