O que é a demência frontotemporal que afeta Bruce Willis? Entenda causas, sintomas e tratamento

Tratamento multidisciplinar ajuda o paciente a lidar com a doença, que é degenerativa e incurável; geralmente, acomete indivíduos entre 45 e 65 anos de idade

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Foto do author Renata Okumura
Por Stéphanie Araujo e Renata Okumura
Atualização:

O ator americano Bruce Willis, de 68 anos, foi diagnosticado com demência frontotemporal. Com a carreira em pausa desde abril do ano passado, o protagonista de Duro de Matar havia recebido inicialmente o diagnóstico de afasia, um distúrbio de linguagem que afeta a capacidade de comunicação. No entanto, segundo seus familiares, a condição progrediu e a busca por respostas mais claras persistiu até a doença neurológica identificada neste ano.

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“Sabemos em nossos corações que, se ele pudesse, gostaria de responder chamando a atenção global para aqueles que também estão lidando com esta doença debilitante e como ela afeta tantos indivíduos e suas famílias”, afirmou a família em um comunicado em fevereiro deste ano.

Diferente de outros tipos, a demência frontotemporal afeta significativamente o comportamento e a personalidade de uma pessoa, mas mantém o funcionamento cognitivo relativamente preservado.

Diagnosticado iniciamente com afasia, família do ator Bruce Willis revelou demência frontotemporal do artista após um ano de encerramento da carreira.  Foto: Tolga Akmen / AFP

Qual a diferença entre a demência frontotemporal e os outros grupos de demência?

Em geral, os quadros de demência envolvem um grupo de doenças que acaba comprometendo a habilidade cognitiva do indivíduo, principalmente na terceira idade. Usualmente, 50% dos diagnósticos, em termos de prevalência, estão relacionados com doença de Alzheimer, que tem características marcantes e importantes.

“Clinicamente se refletem como alteração, inicialmente, de memória, de atenção, de orientação temporal espacial e questões visuoconstrutivas”, disse Fernando Gomes, neurocirurgião e professor doutor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo o neurocirurgião, uma porcentagem muito menor é atribuída à demência frontotemporal. “Cerca de 1,7% a 2% dos pacientes são acometidos. É bem mais raro que o Alzheimer. Geralmente, a demência frontotemporal acomete indivíduos entre 45 e 65 anos de idade”, afirma. Não há predisposição maior para homens ou mulheres.

É uma doença hereditária?

Sim. Existe uma correlação com a questão hereditária. Ou seja, filhos de pessoas que tiveram demência frontotemporal têm uma maior chance de serem diagnosticados com a doença.

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Ela acaba sendo um pouco confundida com a doença de Alzheimer? Qual a diferença entre as duas?

Diferentemente do Alzheimer, as manifestações comportamentais são as que mais chamam a atenção no quadro de demência frontotemporal. “A pessoa, geralmente, apresenta sinais e sintomas que correspondem ao mau funcionamento dos glóbulos frontais”, afirma Gomes.

No caso da demência frontotemporal, a evolução do quadro clínico também é mais rápida que no caso de pacientes com Alzheimer.

Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas estão relacionados com a mudança – muitas vezes drástica – de comportamento e da personalidade do paciente, assim como podem refletir em problemas com a linguagem.

“A pessoa pode, por exemplo, apresentar um certo grau de desinibição, uma compulsão alimentar por doces, uma inadequação social, problemas ligados com relacionamento, falta de juízo e falta de crítica”, diz o especialista. Por este motivo, inicialmente, os pacientes e familiares procuram um psiquiatra e não um neurologista.

Existe uma variante da demência frontotemporal relacionada à afasia, primeiro diagnóstico do ator. “É como se a pessoa perdesse a habilidade de se comunicar. Começa a ter dificuldade para nomear objetos, pessoas e articular uma oração ou frase. Também tem dificuldade para entender o contexto de uma conversa”, diz o professor da Faculdade de Medicina da USP.

Como é feito o diagnóstico?

Após a avaliação médica com informações sobre o estado de saúde do paciente, o médico poderá solicitar uma tomografia computadorizada ou ressonância magnética para ajudar no diagnóstico da doença.

“Além disso, quando a gente faz teste de perfusão, é possível verificar se há uma hipoperfusão, ou seja, uma falta de chegada do sangue a estas regiões, com consequente interpretação da perda dos neurônios nestas regiões”, afirma Gomes.

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É uma doença que possui cura ou é passível de cirurgia? Como é o tratamento?

É uma doença neurodegenerativa e incurável. Geralmente, o tratamento instituído é multidiciplinar. “Envolve uma reabilitação neuropsicológica, com apoio da fonoaudiologia. Se houver também uma patologia dupla, que não é comum, mas pode acontecer, a pessoa tem a hidrocefalia de pressão normal, que conseguimos comprovar com a retirada de liquor e alteração de continência urinária, você pode operar. Neste caso, a pessoa seria operada pela doença associada e não pela demência frontotemporal”, afirma o neurocirurgião.

Medicamentos usados para doença de Alzheimer e Mal de Parkinson não funcionam para pacientes com demência frontotemporal. “Já os remédios que têm a ver com a serotonina podem funcionar, ajudando no funcionamento dos glóbulos frontais, muitas vezes tratando também sintomas relacionados com a depressão, falta de motivação e a própria compulsão”, afirma.

Quais são os subtipos de demência frontotemporal? Quais as mais comuns?

  • Variante comportamental: chama mais atenção pelas alterações de comportamento. A pessoa fica desinibida e não consegue se controlar. Afeta a personalidade do paciente.
  • Demência semântica: a pessoa não consegue mais compreender as coisas que já compreendia anteriormente, embora possa ter preservadas a atenção e a memória. Tem dificuldade para dar nome aos objetos e entender discursos.
  • Afasia progressiva não fluente: caracteriza-se principalmente pela alteração lenta e progressiva da habilidade de falar.

Existe alguma medida de segurança e cuidado que os familiares devem manter com uma pessoa que possui esse tipo de demência?

Dependendo da característica comportamental do paciente, familiares podem auxiliar. “Se a pessoa apresenta comportamento agressivo, não está medicada e não existe orientação, podem ocorrer situações desagradáveis. Evitar deixar objetos cortantes perto do paciente, assim como protetores em escadas e janelas. Por isso, é importante ter o tratamento multidisciplinar. Pessoas com comportamento agressivo, quando é o caso, são medicadas”, afirma Gomes.

Quando o paciente consegue ter noção do que está acontecendo com ela, explica, não é incomum desenvolver outros transtornos psiquiátricos. “A pessoa pode apresentar quadro de depressão. Você tem a noção de que nunca mais será quem você foi antes”, diz o neurocirurgião.

É possível evitar a doença?

Como há questão genética envolvida, se a doença tiver que se manifestar, nada irá impedir que isso aconteça.

“Mas se a pessoa tem um cérebro, um órgão, pelo menos envolta e distante das regiões onde os neurônios estão morrendo, mais saudável, é mais fácil reabilitar o paciente. Com estilo de vida mais saudável, o órgão está mais saudável e o impacto será mais brando”, afirma Gomes.

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Carreira profícua

Bruce Willis despontou na televisão ao lado de Cybill Shepherd na série A Gata e o Rato, pela qual ganhou um Emmy e um Globo de Ouro em 1987.

Tornou-se instantaneamente uma figura cultuada ao viver o papel do destemido policial John McClane em Duro de Matar (1988), filme que se transformou em uma franquia sucesso de bilheteria.

Após dar voz ao bebê Mikey na comédia de sucesso Olha Quem Está Falando (1989), protagonizada por John Travolta, voltou a dividir as telas com ator e piloto de avião em 1994 no renomado longa-metragem Pulp Fiction: Tempo de Violência, dirigido por Quentin Tarantino.

Bruce Willis teve uma carreira profícua como herói em filmes de ação na década de 1990 com títulos como Os 12 Macacos, Armageddon e O Quinto Elemento.

Contudo, em 1999, deu uma guinada importante em sua carreira ao interpretar um psicólogo infantil no aclamado suspense O Sexto Sentido. No ano seguinte, o ator recebeu outro Emmy por sua participação na série Friends.

O nome de Willis aparece em mais de 100 produções, um catálogo diverso que conta com sucessos que marcaram a história do cinema, mas também dezenas de produções de baixo orçamento com as quais se envolveu nos últimos dois anos de sua carreira.

Nascido em 19 de março de 1955, formou com a também atriz Demi Moore um dos casais mais conhecidos da indústria do entretenimento na década de 1990. Os dois permaneceram juntos por 13 anos e tiveram três filhas (Rumer, Tallulah e Scout).

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O ator é casado com Emma Heming desde 2009, com quem tem outras duas filhas, Evelyn e Mabel. / Com informações da AFP

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