BRASÍLIA - O Ministério da Saúde informou nesta sexta-feira, 15, que pacientes com a covid-19 internados em Manaus (AM) começaram a ser transferidos para hospitais de oito capitais. O Amazonas vive uma crise sanitária ainda pior do que a que foi registrada no auge da pandemia da covid-19 em 2020. O número diário de novas internações é o mais alto já registrado, tendo duplicado nas últimas duas semanas. Manaus concentra a maior parte das hospitalizações no estado e enfrenta falta de oxigênio para atender a todos os pacientes.
“As transferências ocorrerão por via aérea e já estão garantidos - de imediato - 149 leitos: 40 em São Luís (MA); 30 em Teresina (PI); 15 em João Pessoa (PB); 10 em Natal (RN); 20 em Goiânia (GO); 04 em Fortaleza (CE); 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal”, afirma a Saúde. Os voos partem a partir desta sexta-feira, ainda conforme nota do ministério. A estimativa do governo do Amazonas é de que até 700 pacientes podem ser transferidos nos próximos dias.
Além destes que serão transportados pela FAB, pacientes de covid-19 têm usado aviões particulares para buscar atendimento em outras cidades. A reportagem registrou a chegada de um jatinho com um doente no aeroporto de Brasília, na manhã desta sexta-feira. O paciente, não identificado, foi transportado deitado de bruços na maca, técnica usada para facilitar a ventilação nos pulmões, e recebido por uma ambulância de uma rede particular de saúde.
O ministério afirma que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), responsável pela gestão de hospitais universitários federais espalhados pelo País, também disponibilizou leitos aos pacientes.
“O transporte será feito em parceria com o Ministério da Defesa por duas aeronaves da Força Aérea Brasileira com capacidade de 25 pacientes deitados em macas dentro de voos”, afirma a Saúde. Também é avaliado realizar o transporte em aeronaves civis. “O deslocamento será realizado com a presença de profissionais médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem para prestar atendimento aos pacientes”, completa a pasta.
O ministério afirma que o governo federal enviou nesta semana 5 mil metros cúbicos de oxigênio ao Estado. A demanda diária é de 70 mil metros cúbicos, segundo o governo local. “Tanto pequenas quanto médias empresas que envasam o gás pelo país informaram que incrementarão suas produções para suprir a demanda”, afirma a Saúde.
Pazuello esteve em Manaus nessa semana, onde defendeu uso de medicamento sem eficácia para covid-19
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deixou Manaus na quarta-feira, 13, em meio à crise pela covid-19. Na cidade que vive novo colapso, o general apresentou como solução o "tratamento precoce", que, no vocabulário do governo federal, significa o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina e a ivermectina.
"A medicação pode e deve começar antes desses exames complementares (de diagnóstico). Caso o exame lá na frente der negativo, reduz a medicação e tá ótimo. Não vai matar ninguém", disse Pazuello em discurso feito na segunda-feira, 11. O ministro ainda lançou o TrateCOV, aplicativo usado por médicos para diagnosticar a covid-19 que também estimula o uso destes fármacos não indicados para a covid-19.
Sem citar qualquer prova, o presidente Jair Bolsonaro afirma que a crise de saúde em Manaus deve-se à falta do “tratamento precoce”. Bolsonaro desestimula a adoção de medidas eficazes contra a pandemia, como uso de máscara e distanciamento social.
“Não faziam tratamento precoce. Aumentou assustadoramente o número de mortes. Mortes por asfixia, porque não tinha oxigênio. O governo estadual e municipal deixou acabar oxigênio”, disse o presidente a apoiadores na terça-feira, 12.
Grupos no Amazonas chegaram a protestar e pressionar o governo a recuar do fechamento do comércio, no fim de dezembro. "Muita gente acabou relaxando, pensando que estava tudo 'ok'. Mas o clima agora é diferente. Não há clima para novas manifestações", disse o governador Wilson Lima ao Estadão na última semana.
Mourão diz que não era possível prever situação em Manaus e que governo faz 'além do que pode'
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta sexta-feira, 15, que o governo tem feito “além do que pode dentro dos meios que dispõe” para auxiliar no combate à segunda onda da covid-19 em Manaus. Segundo o vice, não era preciso prever que a situação fosse chegar nesse ponto.
“O governo está fazendo além do que pode dentro dos meios que a gente dispõe”, disse em conversa com jornalistas ao chegar ao Palácio do Planalto. Mourão destacou que na Amazônia “as coisas não são simples” e citou os desafios de logística da região. “Manaus é a cidade mais populosa da Amazônia Ocidental e você só chega lá de barco ou de avião. Então, qualquer manobra logística para aumentar a quantidade de suprimento lá requer meios”, afirmou.
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