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Estudo aponta para redução de internações com hidroxicloroquina; cientistas veem limitações

Segundo autores e cientistas, estudo da operadora Prevent Senior tem limitações que impedem considerar o resultado uma evidência definitiva da eficácia da droga contra a infecção pelo novo coronavírus

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Foto do author Fabiana Cambricoli

SÃO PAULO - Um estudo divulgado nesta sexta-feira, 17, pela operadora Prevent Senior aponta que o uso de hidroxicloroquina associado ao antibiótico azitromicina em pacientes com quadros suspeitos de covid-19 e algum fator de risco reduziu o número de internações pela doença. A pesquisa ainda não foi publicada em periódicos científicos e, segundo os autores e outros pesquisadores, apresenta limitações na metodologia que impedem considerar o resultado uma evidência definitiva da eficácia da hidroxicloroquina contra a infecção pelo novo coronavírus.

O estudo foi realizado por pesquisadores da operadora com pacientes em sua maioria idosos e doentes crônicos. Para participar da pesquisa, o voluntário tinha de apresentar sintomas de síndrome gripal, como febre e tosse, e possuir algum fator de risco para complicação da doença, como idade acima de 60 anos, hipertensão ou diabetes.

Caixa do remédio sulfato de hidroxicloroquina, conhecido como Reuquinol. Foto: Márcio Pinheiro/SESA

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Foram incluídos pacientes que, embora integrantes dos grupos de risco, tinham sintomas brandos, o que tornou possível que eles fossem monitorados diariamente por consultas a distância.

Participaram do ensaio clínico 636 pacientes, dos quais 412 fizeram uso da medicação e os outros 224 optaram por não fazer o tratamento. A opção de utilização ou não foi dada ao paciente, que assinou termo de consentimento e foi alertado sobre a falta de evidências sobre o remédio. Aos que aceitaram se submeter à terapia, a hidroxicloroquina foi administrada durante sete dias e a azitromicina, por cinco dias.

Entre o grupo que usou a combinação de hidroxicloroquina com azitromicina, 1,9% dos pacientes evoluiu para um quadro mais grave e foi hospitalizado. No grupo que não fez o tratamento, o índice de internados foi maior, de 5,4%.

Segundo os pesquisadores, o resultado indica que a combinação de drogas pode atuar contra a replicação viral nas células, o que reduziria o risco de complicações pela doença.

“A ideia desse modelo de tratamento surgiu ao percebermos entre os pacientes internados que aqueles que tomavam a hidroxicloroquina quando já estavam muito graves não apresentavam grande melhora. Já entre os que faziam o tratamento nos primeiros dias, os resultados eram melhores. O medicamento parece ter uma resposta melhor no período de infecção pelo vírus e não tanto depois que já se instalou um quadro inflamatório grave”, afirma Rodrigo Esper, médico e pesquisador da Prevent Senior e líder da pesquisa.

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Ele destaca, porém, que novas pesquisas são necessárias para avaliar a ação do remédio. “Não é um estudo definitivo sobre o tema, mas é uma luz que traz uma possibilidade de tratamento. Mas é preciso ser responsável. Na pesquisa, os pacientes tiveram a indicação da medicação por serem do grupo de risco e após avaliação médica. Tiveram monitoramento diário. Não pode haver uma histeria coletiva atrás da hidroxicloroquina”, ressaltou.

Um dos riscos do uso indiscriminado são possíveis efeitos colaterais da medicação, como problemas cardíacos e na visão. Por isso, foram impedidos de participar do estudo pacientes com doenças como retinopatia, doença hepática grave, miastenia (doença muscular) grave, insuficiência renal, além de gestantes e pessoas com uma condição cardíaca conhecida como síndrome do QT longo, um tipo de arritmia.

De acordo com os pesquisadores, não foram notados efeitos colaterais graves entre os participantes. Duas mortes foram registradas no grupo que fez o tratamento, mas, de acordo com os autores da pesquisa, elas não estão relacionadas ao remédio: um paciente morreu de câncer metastático e o outro, que tinha 75 anos e histórico de cirurgia cardíaca, sofreu um infarto. “Ele vinha melhorando dos sintomas gripais, mas passou mal em casa e morreu. Havíamos feito a avaliação para síndrome do QT longo e ele não tinha. Ele morreu de infarto e o medicamento não causa infarto”, afirma Esper.

Limitações

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Para pesquisadores de outras instituições ouvidos pelo Estado, embora o estudo seja importante para trazer mais pistas sobre a ação da hidroxicloroquina, ele tem limitações que não permitem afirmar que o resultado observado tenha sido causado exclusivamente por ação do medicamento.

Os principais problemas, dizem os cientistas, são os fatos de o estudo não ser randomizado, ou seja, não ter tido uma escolha aleatória de pacientes que comporiam cada grupo, e a falta de confirmação do diagnóstico de covid-19 entre os participantes.

“É louvável a iniciativa da Prevent Senior de estudar o tema e gerar conhecimento. Mas eles próprios reconhecem como limitação a ausência de randomização. É fato que você tem características diferentes no grupo que toma e no que não toma e isso pode influenciar o resultado. A pessoa que não tomou, por exemplo, pode ficar mais insegura diante de um agravamento de sintomas e procurar mais o hospital e uma internação do que o que está fazendo o tratamento. Pode até ser que esses resultados estejam relacionados somente ao remédio, mas pode ser que eles tenham impacto de outros fatores também, por isso precisamos de estudos randomizados”, afirma Alexandre Biasi Cavalcanti, superintendente de pesquisa do Hospital do Coração (HCor).

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A médica Rachel Riera, coordenadora do Núcleo de Avaliação de Tecnologia em Saúde do Hospital Sírio-Libanês e professora de medicina baseada em evidências da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concorda que a falta de randomização é um problema e acrescenta que outra limitação é o fato de o estudo ser aberto, situação em que pesquisadores, pacientes e avaliadores sabem qual paciente faz parte de cada grupo.

“Quem definiu a alocação dos participantes em cada grupo foram os próprios pacientes, que decidiram ou não se tomariam o remédio. Isso é bem crítico porque podem haver diferenças de cuidado com a saúde entre o grupo que decidiu fazer uso do medicamento e o que não quis. O fato de a pesquisa ser aberta pode influenciar na condução do estudo, na adesão ao tratamento e na avaliação do desfecho”, destaca.

Os pesquisadores da Prevent Senior reconhecem as limitações, mas dizem que o estudo foi feito dentro das condições possíveis em um cenário atípico de pandemia. “As críticas são válidas e, como cientista, óbvio que eu gostaria de fazer um estudo randomizado, duplo-cego, mas isso vai demorar meses e estávamos em uma situação crítica, com pacientes em estado grave na nossa frente. O problema maior dessa doença é a falência do sistema de saúde e o uso do remédio pode implicar numa redução da necessidade de hospitalização”, diz Esper.

Quanto às críticas ao fato de terem sido incluídos no estudo pacientes com quadro suspeito, mesmo sem a confirmação laboratorial da covid-19, os pesquisadores da Prevent Senior afirmam que essa foi a alternativa adotada diante da demora na realização de testes no País, principalmente em março, quando a pesquisa foi iniciada. “Os resultados demoravam de cinco a sete dias. É um tempo que não podíamos esperar porque é o período em que os sintomas se agravam”, afirmou Pedro Batista, médico e diretor-executivo da Prevent Senior.

Ele diz que acredita que o resultado do estudo pode ajudar a subsidiar políticas públicas de saúde. “As medidas de prevenção e quarentena são fundamentais para a população de risco. Mas o estudo traz uma possibilidade de tratamento que pode ser efetiva no controle inicial da doença”, afirma.

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