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Desmatar florestas gera prejuízos ambientais e econômicos

Recuperação de áreas verdes mobiliza países na COP-26; no Brasil, empresas e sociedade civil têm ações contra o desmatamento

Por Ocimara Balmant e Alex Gomes
Atualização:

Zerar o desmatamento ilegal até 2028; reflorestar 18 milhões de hectares de florestas até 2030; e recuperar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas. Os anúncios feitos pelo governo brasileiro logo no início da COP-26 juntam-se a um compromisso assumido por mais de cem líderes mundiais para acabar com o desmatamento até 2030 – a chamada Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra.

A declaração prevê um fundo de US$ 12 bilhões com dinheiro público aportado por 12 países – incluindo EUA, Reino Unido, Canadá, Japão e a União Europeia – entre 2021 e 2025, além de US$ 7,2 bilhões de investimento privado de mais de 30 instituições financeiras mundiais.

No Brasil, afrouxamento de ações contra a grilagem é uma das causas apontadas para a destruição Foto: Christiano Antonucci/SECOM MT

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O objetivo é apoiar iniciativas de restauração e manutenção de florestas e de apoio a comunidades indígenas em países em desenvolvimento. Um dos compromissos, por exemplo, prevê o envio de 1,7 bilhão de dólares para povos indígenas e comunidades tradicionais, populações consideradas fundamentais para proteger florestas e suas biodiversidades.

Enquanto o Brasil tenta atrair atenção e investimentos anunciando um futuro verde, o presente é forrado de cinzas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos primeiros seis meses de 2021, o desmatamento da floresta amazônica brasileira aumentou 17%, com 3.610 km² devastados.

“Nesses últimos três anos, o nível de desmatamento, alinhado a incêndios florestais, tem se estendido de forma impressionante. Isso em função do governo flexibilizar o monitoramento de ações contra grilagens”, afirmou Tercio Ambrizzi, superintendente de Gestão Ambiental da USP, durante o evento online Especial COP-26 – Novos Caminhos para a Humanidade, promovido pelo Estadão. “O Brasil e nossos representantes na COP não tinham outra opção – ou aceitavam que devem combater o desmatamento, ou sofreríamos sanções econômicas, pura e simplesmente.”

Em 2021, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) lançou o Movimento Empresarial pela Amazônia, com o propósito de manifestar compromisso público com uma agenda de desenvolvimento sustentável.

Entre as ideias apoiadas pelos signatários, um grupo com mais de 80 empresários ligados a algumas das principais empresas nacionais, há o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e nos demais biomas brasileiros; a inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas; a adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono; e a valorização da biodiversidade como parte integral de estratégias empresariais.

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“Conseguimos conviver com o desmatamento ilegal, que está arranhando a imagem e baixando o nível de investimento das empresas?”, questiona Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que também participou do evento, no último dia 10. “Não conseguimos separar a marca da empresa da marca Brasil. Os empresários estão levantando sua voz em relação ao desmatamento.”

Se as intenções governamentais ainda inspiram descrença, o envolvimento da sociedade civil em questões ambientais é cada vez maior. É a percepção de Virgilio Viana, superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável, com mais de 15 anos de experiência em participações nas COPs. “Se, de um lado, ainda existem parênteses e colchetes nos textos diplomáticos, do outro lado da rua, a sociedade civil e as empresas estão nessa COP com sentimento de engajamento e ação. Não se fala mais no ‘precisamos fazer algo’, mas, sim, em como fazer, quanto custa e quem sabe fazer. É hora de trabalhar com soluções viáveis, do ponto de vista econômico, e inclusivas, no aspecto social.”

3 perguntas para...

Virgilio Viana, Superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável

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É possível conciliar geração de renda e preservação ambiental no Brasil?

Não só é possível, como nós e outros atores já estamos fazendo isso. É possível fazer com que o pirarucu manejado tenha mais valor para o pescador do que o pirarucu extraído de forma não sustentável. É possível fazer com que o açaí produzido de forma sustentável tenha mais valor. Essas soluções existem. Mas precisamos de um apoio a essa agenda positiva, isto é, estímulos para que os gargalos das cadeias produtivas das florestas sejam superados. E também da atuação dos governos, em diferentes escalas, para que a fiscalização e o combate ao ilícito ocorram da maneira necessária.

E isso não tem acontecido, não é mesmo?

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Hoje nós temos um aumento enorme da ilegalidade. É a falta de governança, a falta de gestão pública em toda a Amazônia. Temos um enfraquecimento dos órgãos governamentais ambientais em todas as esferas de governo. Precisamos fazer com que o custo da ilegalidade aumente e que a legalidade, a produção baseada no manejo, seja mais atraente. Essa é a equação, uma equação econômica.

O que é preciso para que se reconheça a Amazônia como geradora de renda?

A Amazônia é o ativo estratégico mais importante do Brasil. Desmatar a Amazônia é burrice do ponto de vista de um projeto de país. É ruim porque afeta a saúde pública – quanto mais queimada, mais problemas de saúde isso gera. A imagem negativa afeta as exportações e o investimento externo e, por fim, o desmatamento da Amazônia ainda contribui com a crise hídrica – a falta de água para as cidades, para a agricultura e para a energia elétrica. Temos de enxergar a Amazônia como, de fato, um patrimônio... Que cada árvore cortada seja como uma ferida no corpo de cada um de nós.

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