El Niño já se despede para dar lugar a outro fenômeno climático; saiba como o tempo muda

La Niña deve ganhar força no segundo semestre e tem efeito oposto ao observado desde o meio do ano passado

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Por Fabio Grellet

Cerca de dez meses após ter se iniciado, o fenômeno climático El Niño, que dá sinais de enfraquecimento desde janeiro, parece estar próximo do fim. Sua principal característica é um aquecimento mais intenso que o habitual das águas do Oceano Pacífico em sua porção equatorial, o que tem reflexos no clima de várias partes do planeta, o Brasil inclusive. As temperaturas recordes registradas no mundo em 2023 e neste ano são impulsionadas pelas mudanças climáticas, mas também têm influência do El Niño.

17/03/2024 - CLIMA / TEMPO / CIDADES - Amanhecer visto a partir da zona norte da capital paulista nesta manhã de domingo (17). FOTO:WERTHER SANTANA / ESTADÃO CONTEÚDO Foto: WERTHER

A temperatura dos oceanos é medida periodicamente por algumas instituições, e existe um trecho no Pacífico equatorial centro-leste, a região conhecida como Niño 3.4, cuja medição indica oficialmente se o fenômeno El Niño está acontecendo ou não. Desde janeiro, a medição indica queda de temperatura e consequente enfraquecimento do fenômeno.

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O mais recente boletim semanal da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Nooa), a agência climática americana, constatou que a temperatura da superfície do mar nessa região Niño 3.4 estava 1°C acima da média, o que corresponde a um fenômeno de fraco a moderado.

Outra região onde a medição é considerada muito importante é o Pacífico Equatorial Leste, que engloba o litoral do Peru e do Equador, região conhecida na climatologia como Niño 1+2. Nesse trecho, a temperatura do mar já está mais fria do que a média: -0,4ºC.

Calor em São Paulo: recordes de temperatura são um dos efeitos do El Niño, fenômeno climático que está chegando ao fim Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O resfriamento da temperatura da superfície da água acontece porque águas mais profundas e frias emergem, num fenômeno chamado ressurgência.

A variação da temperatura registrada no caso atual permite aos especialistas concluir que o El Niño será sucedido por uma fase neutra e depois pelo La Niña. Esse é um fenômeno climático inverso ao El Niño, caracterizado pelo resfriamento além da média da temperatura da superfície da água do Pacífico.

As medições indicam que o El Niño pode acabar já nas próximas semanas. “A transição do El Niño para a fase neutra é esperada entre abril e junho”, afirma Karina Bruno Lima, pesquisadora da área de Climatologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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“A fase neutra, por sua vez, deve persistir até maio, junho ou julho, e a La Niña deve ter início entre junho e agosto”, prevê a cientista.

A próxima etapa, portanto, deve ser a fase neutra. “Teremos, muito provavelmente, uma fase neutra bastante curta, e isso não deve ser confundido com neutralidade no clima”, afirma ela, que alerta: o El Niño e o La Niña contribuem para eventos extremos, mas o aquecimento global influencia ainda mais.

“Independente da fase do ENSO (sigla em inglês para El Niño Oscilação do Sul, termo que representa a alternância entre El Niño e La Niña), o aquecimento global continua aumentando e, em um mundo mais quente, a tendência geral é de aumento de frequência e intensidade de eventos extremos. O ENSO é um fator que contribui muito, mas o aquecimento global é predominante”, afirma.

Karina dá exemplo dos efeitos do aquecimento global na temperatura. “A intensidade do El Niño de 2015-2016 era maior que a do El Niño 2023-2024, mas ainda assim o ano de 2023 se tornou o mais quente do período instrumental, e provavelmente o mais quente em mais de 100 mil anos, por causa da junção do El Niño com o aquecimento global, que é maior agora do que em 2016″.

No ano passado, a média de temperatura ficou 1,48ºC acima da média pré-industrial. A variação está no limite do estabelecido pelo Acordo de Paris, que criou a meta de somar esforços ao redor do mundo para limitar o aumento de temperaturas a 1,5ºC.

Qual é a previsão para o Brasil?

Nesta última temporada, o El Niño no Brasil esteve associado a formação de ciclones seguidos de chuvas no Sul e estiagem bastante severa na Amazônia, que levou à seca dos rios, interrupções no transporte fluvial e à explosão de queimadas na floresta.

No Brasil, o La Niña costuma provocar chuvas acima da média no Norte e no Nordeste, e seca no Sul. “Mas um evento nunca é igual ao outro”, ressalta Karina.

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E a duração? “Ainda é cedo para dizer quanto tempo durará a La Niña, mas o ENSO é um fenômeno cíclico, ou seja, em algum momento teremos o El Niño novamente. Pode ser que já no ano que vem tenhamos El Niño de novo, assim como pode levar mais tempo. Tivemos três anos seguidos de La Niña entre 2020 e 2023, mas isso é raro. É realmente cedo para dizer”, avalia a climatologista.

No Brasil e na cidade de São Paulo, o inverno deste ano deve ser mais parecido com aqueles entre 2020 e 2022, preveem os meteorologistas. Ou seja, haverá maiores picos de frio, mas isso não deve acontecer de imediato. No ano passado, o inverno não foi muito pronunciado por conta da influência do El Niño.

O início da estação de 2024 ainda terá temperaturas altas, já que a La Niña ainda vai estar no início. Mas a previsão é de que o clima esfrie à medida que a estação avança.

No Sul, as baixas temperaturas levam a um maior potencial de geadas. No Sudeste e, também, em São Paulo o inverno de 2024 deve ser seco, já que essa é uma característica típica do período na região.

A diferença do efeito do La Niña e do El Niño tem maior impacto no Sul e no Norte e Nordeste do País. O El Niño traz muita chuva para a região Sul durante o inverno e primavera, enquanto reduz as precipitações em áreas do Norte e do Nordeste. / COLABOROU RAMANA RECH

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