Uma missa no início da manhã, restrita aos familiares, marcou o início das homenagens ao arquiteto Oscar Niemeyer. Cerca de 30 pessoas acompanharam a cerimônia realizada na capela do Hospital Samaritano, em Botafogo. Presidida pelo padre Jorjão, amigo da família há muitos anos, a cerimônia durou 15 minutos. Niemeyer era ateu, mas gostava das celebrações do pároco por promover a reunião da família. "Perdi a pessoa que mais gostava na vida", disse, emocionada, a viúva do arquiteto, Vera Lúcia Niemeyer, com quem ele foi casado nos últimos seis anos. A neta dele, Ana Lúcia, afirmou que a família tinha esperança de que ele se recuperasse e retornasse para casa. Segundo ela, Niemeyer estava lúcido e tinha previsão de deixar a unidade de tratamento intensivo ainda nesta semana. "A vida dele era o trabalho." Às 12h, o corpo deixou o hospital em direção ao aeroporto Santos Dumont, escoltado por batedores da Guarda Civil Municipal. A família do arquiteto e amigos seguiram o cortejo fúnebre em dois ônibus. Eles também embarcaram no avião cedido pelo Governo Federal para Brasília, onde o corpo foi velado no Palácio do Planalto. Samba. A viúva do arquiteto, Vera Lúcia, também contou que Niemeyer conversava com o seu enfermeiro, Caio de Almeida, para fazer um novo samba. Em 2010, aos 103, anos, o arquiteto compôs com o enfermeiro o samba Tranquilo com a Vida durante um período de internação. A música foi gravada e tocada no último carnaval, no Rio, pela Banda de Ipanema, que homenageou o arquiteto. "Aquilo surgiu como uma brincadeira, no CTI. Ele sempre escrevia poemas e um dia sentamos para fazer a melodia. Isso vai ficar para a história", lembrou o enfermeiro, que acompanhava o arquiteto há sete anos.Segundo ele, Niemeyer gostava do trecho da canção que dizia "assim vou eu, tranquilo com a vida, à espera da noite já solta no ar. Como um manto de estrelas com que se anuncia e que se multiplica nas águas do mar." "Ele nunca reclamava da vida. A longevidade dele, em parte vem do trabalho e de sua visão positiva. De madrugada, muitas vezes ele queria trabalhar e a gente tinha de pedir para ele ter calma, que precisava descansar." O futuro do escritório do arquiteto ainda continua indefinido, segundo um dos seus colaboradores por mais de 30 anos, Jair Valera. "Sempre me perguntei como seria, ainda não sei", diz.