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UnitedHealth compra Amil em acordo de R$10 bilhões

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Por VIVIAN PEREIRA E CESAR BIANCONI

Após três anos de negociações, a norte-americana UnitedHealth selou sua entrada no Brasil ao fechar a compra da Amil Participações, atribuindo um valor de cerca de 11 bilhões de reais à maior empresa de medicina de grupo do país e mirando o potencial de crescimento do fragmentado mercado brasileiro de saúde suplementar. "Para nós, o potencial parece ser o mesmo que o mercado dos Estados Unidos tinha 20 anos atrás ou mais", afirmou nesta segunda-feira em teleconferência o presidente da UnitedHealth, Stephen J. Hemsley, mencionando a ascensão da classe média e políticas de estímulo ao setor de saúde no Brasil. A aposta da UnitedHealth tem como base o fato de atualmente os planos de saúde atenderem apenas 25 por cento da população brasileira --48 milhões de beneficiários--, comparado a cerca de 80 por cento nos EUA. "Fizemos a parceria principalmente para melhorar a qualidade dos serviços", disse em coletiva de imprensa o fundador e presidente-executivo da Amil, Edson de Godoy Bueno, destacando o foco da UnitedHealth no desenvolvimento de novas tecnologias. "A UnitedHealth vai ajudar na automação das operações, tornando-as mais efetivas... para facilitar a vida de médicos, clientes e hospitais", afirmou Bueno. "Em três anos seremos uma empresa completamente diferente." A maior companhia de planos de saúde dos EUA vai pagar 30,75 reais por ação Amil, um prêmio de 21,5 por cento sobre o preço de fechamento do papel na Bovespa na última sexta-feira e de 32 por cento se considerada a média de valores nos últimos 30 dias. A UnitedHealth desembolsará 6,5 bilhões de reais por quase 60 por cento da Amil nas mãos dos controladores e até 3,4 bilhões de reais por outros 30 por cento da companhia que estão com acionistas minoritários na Bovespa. A Amil também tem como meta ampliar sua fatia de mercado, atualmente em 9 por cento, "para o máximo possível". "A líder (do setor) não pode ter só 9 por cento do mercado", disse Bueno. Esse ganho de participação, segundo o executivo, deve ser apoiado em crescimento de receita de pelo menos 10 por cento ao ano e aquisições, algo que "sempre consideramos", acrescentou. A receita da Amil, que tem hospitais e clínicas próprias, deve chegar a cerca de 5 bilhões de dólares em 2012, avanço de 15 por cento sobre o ano passado, segundo dados da UnitedHealth. O grupo tinha quase 6 milhões de beneficiários no fim de junho. Já a UnitedHealth, com a Amil, amplia sua presença em mercados internacionais. A empresa já iniciou operações ou fechou alianças na Austrália, no Oriente Médio e no Reino Unido nos últimos dois anos. REGULAÇÃO E CONCORRÊNCIA O negócio acontece no momento em que investidores estrangeiros, de maneira geral, mostram cautela com o Brasil, diante do aperto em setores regulados por agências federais, incluindo energia elétrica, telecomunicações e saúde. Na semana passada, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu por três meses a venda de 301 planos de saúde, administrados por 38 operadoras. Segundo a agência, as operadoras descumpriram prazos máximos de atendimento para consultas, exames e cirurgias. Nos EUA, enquanto isso, as provedoras de planos de saúde estão sob pressão, com o governo de Barack Obama controlando os reembolsos por seus programas para pobres e idosos, e à medida em que cresce a competição por planos de saúde corporativos. A UnitedHealth e a Amil esperam aprovação do negócio pela ANS no quarto trimestre de 2012. A operação não precisará do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), já que o grupo dos EUA não tinha atuação no Brasil. A Amil informará formalmente a ANS sobre o negócio na terça-feira. "Não existe prazo para aprovação da ANS, mas acreditamos que será rápida", afirmou o diretor corporativo e de Relações com Investidores da empresa, Erwin Kleuser. "A grande análise será em cima do comprador." Após o anúncio da operação, a ação da Amil abriu em alta de cerca de 15 por cento na bolsa paulista, se aproximando do valor proposto. Às 16h15, o papel subia 15,18 por cento, a 29,14 reais. O negócio também puxava as ações da Dasa, com ganho de 6,46 por cento. A Dasa tem o capital pulverizado, mas seus principais acionistas são Bueno e sua ex-esposa Dulce Pugliese, que juntos têm cerca de 23,5 por cento da empresa. Em teleconferência, o vice-presidente financeiro da Amil, Gilberto da Costa, disse que o acordo desta segunda-feira conta com uma cláusula de não concorrência na área de saúde, excluindo o investimento na Dasa. ETAPAS DO NEGÓCIO A UnitedHealth comprará o equivalente a cerca de 58,9 por cento do capital votante e total da Amil, que pertencem à holding de participações JPL, por 6,5 bilhões de reais. O grupo fará ainda uma oferta pública de aquisição pelas ações da Amil em circulação no mercado, prevista para o primeiro trimestre de 2013. Considerando adesão total à oferta, a UnitedHealth desembolsaria outros 3,4 bilhões de reais. Assim, ao final das transações, a companhia norte-americana ficaria com 90 por cento de participação na Amil. O fundador da Amil e sua ex-esposa continuarão a ter os 10 por cento remanescentes na Amil por ao menos cinco anos. Nesse período, Bueno disse que trabalhará num plano de sucessão no comando da empresa, cujo nome e marca serão mantidos. O médico e empresário de 69 anos, que seguirá como presidente e chairman da Amil, se comprometeu a usar 470 milhões de dólares para comprar ações da UnitedHealth nos EUA, passando a ser o maior acionista pessoa física --com participação de 0,9 por cento-- do grupo norte-americano. A Amil começou a se formar em 1972, quando Bueno comprou uma pequena maternidade em Duque de Caxias (RJ). Depois de adquirir outras duas clínicas nos anos seguintes, foi criada a Amil Assistência Médica, que foi gradualmente expandindo operações. Em 2009, a Amil comprou a rival Medial e se tornou a maior empresa de saúde do Brasil. (Reportagem adicional de Caroline Humer em Nova York)

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