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Primeiro transplante de coração no Brasil foi feito no Hospital das Clínicas em 1968

Realizado pelo professor Zerbini e sua equipe, procedimento foi realizado com técnica inédita

Foto do author Liz Batista
Foto do author Edmundo Leite
Por Liz Batista e Edmundo Leite
Atualização:

No dia 26 de maio de 1968 a equipe do Hospital das Clínicas, chefiada pelo dr. Euryclides Zerbini, realizou o primeiro transplante de coração no Brasil, o primeiro da América Latina e sexto do mundo.

O paciente, o boiadeiro João Ferreira da Cunha, era portador de endocardite crônica, uma degeneração do tecido cardíaco, e estava com seus dias contados. O doador, Luís Ferreira Barros, havia sofrido um acidente e tivera sua morte cerebral declarada na noite do dia 25.

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A cobertura do Estadão trouxe a história do transplantado e do doador; um perfil do professor Zerbini, o cirurgião responsável, imagens do procedimento, um infográfico detalhando suas etapas e atuação das equipes médicas envolvidas, e explicou como a técnica utilizada na operação, até então inédita. Diferente dos procedimentos até então executados, Zerbini optou por deixar o coração doado em temperatura normal, irrigado pela máquina de perfusão.

Ainda com o coração artificial funcionando, o sangue passou a circular pelo coração novo, que dentro de alguns segundos começou a bater. E bateu com regularidade. É onde a técnica posta em prática pelo dr. Zerbini difere da utilizada em todo o mundo. Nas operações feitas em outros países, o coração transposto batia desordenadamente, só voltando ao ritmo normal por meio de choques. Isso ocorria porque os médicos resfriavam o coração antes de transplantá-lo. Na operação no HC, o coração não foi resfriado. Não foi portanto, necessária a intervenção do especialista, que estava preparado para dar os choques. A equipe do dr. Zerbini fizera o primeiro transplante normotécnico do mundo- e tinha acertado.”

 Foto: Estadão

Euryclides Zerbini

O sucesso do transplante trouxe ainda mais notoriedade ao cirurgião, Zerbini foi condecorado com a medalha da Ordem do Mérito Médico. No ano seguinte, realizou mais dois transplantes. Um dos transplantados, o empresário Ugo Orlandi, viveu 15 meses após a cirurgia. Em 1969, o médico se tornou Professor Titular de Clínica Cirúrgica da Faculdade de Medicina da USP, cargo que exerceu até 1982.

Em fevereiro de 1975, Zerbini passou a dirigir o recém-inaugurado Instituto do Coração do Hospital das Clínicas em São Paulo, o Incor. Sob sua administração o instituto tornou-se uma referência em medicina, clínica e cirúrgica, do coração no mundo. Em 1978, criou a Fundação Zerbini para dar suporte técnico ao Incor. Em 58 anos de carreira, foi responsável por 40 mil cirurgias cardíacas, pessoalmente ou através de sua equipe.

 Foto: Estadão

Luta contra a rejeição

Com o sucesso do transplante, os esforços médicos se voltavam para que não houvesse rejeição.

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Três horas depois de completa a operação, viam-se ainda os cirurgiões em grupos, conversando. João Ferreira da Cunha, o primeiro paciente brasileiro a receber, de mãos brasileiras, um coração novo, era agora problema dos clínicos e dos imunologistas, que lutarão para que o órgão não seja rejeitado. “, contou o Estadão.

João Ferreira da Cunha, paciente que recebeu um novo coração no primeiro transplante cardíaco do Brasil em 1968. Foto: Acervo Estadão

João Boiadeiro morreu 28 dias depois da cirurgia por um problema de rejeição de seu organismo ao órgão transplantado.

Durante 18 anos, e após três tentativas em 1968, os transplantes cardíacos ficaram suspensos até que surgisse a ciclosporina, uma droga contra a rejeição. Somente em 1984, esse tipo de cirurgia voltou a ser realizada no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

O primeiro transplante cardíaco no mundo

O comerciante judeu Louis Washkansky, então com 55 anos, trocou de coração com a jovem Denis Darvall, 25 anos, que tinha morrido num acidente de carro.

A jovem bancária morreu num acidente de carro e o comerciante sofria de um mal cardíaco que poderia levá-lo à morte em alguns dias se não recebesse um novo coração. O autor do feito, um médico chamado Christian Barnard, transformou-se em herói na época. Os detalhes da operação e da nova técnica cirúrgica foram contados numa reportagem de página inteira.


 Foto: Estadão


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