RIO – Horas antes da deflagração da operação da Polícia Federal (PF) que apura a existência de ligação entre o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) e supostas investigações ilegais promovidas na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão bolsonarista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou a existência de uma “Abin paralela”. Durante uma live neste domingo, 28, com os três filhos políticos, Bolsonaro afirmou que o caso se trata de uma “narrativa” e classificou o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) como “um cara fantástico”.
“Essa acusação em cima do Delegado Ramagem, um cara fantástico... Abin paralela porque o Bolsonaro admitiu? Aquela tal da sessão secreta que o Supremo falou: ‘tem que divulgar’. Era uma reunião com ministros. Tinha a acusação de que ali estava a prova de que eu interferia na PF. E não estava prova ali. Em dado momento, eu falei: ‘Eu não tenho inteligência da Abin, da PF, da Marinha, da Aeronáutica’. Eu não tenho inteligência. Não chega nada para mim. Quando eu falei da minha inteligência paralela, quem é minha inteligência paralela? Está pegando fogo lá na Amazônia, eu ligo para o coronel Menezes: ‘Menezes, como está essa questão de fogo?’ O cara fala pra mim”, afirmou.
Em reunião no Palácio do Planalto, a 22 de abril de 2020, Bolsonaro confirmou a seus ministros que mantinha o serviço próprio de informações e desdenhou do trabalho da Abin, da PF e dos centros de inteligência das Forças Armadas. “Sistemas de informações: o meu funciona. O meu, particular, funciona”, disse. “Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho.”
Ao lado do pai na live deste domingo, Carlos Bolsonaro não se manifestou sobre o tema. Nesta segunda-feira, 29, pela manhã, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na residência de férias do clã em Angra dos Reis e em outros oito endereços, incluindo a casa de Carlos na zona oeste do Rio e o gabinete do parlamentar na Câmara Municipal no âmbito da operação que apura ligações do vereador em suposta espionagem ilegal na Abin.
A operação é um desdobramento da Operação Vigilância Aproximada, que vasculhou 21 endereços no último dia 25. O principal alvo da ofensiva foi o ex-diretor da Abin na gestão Bolsonaro e hoje deputado federal Alexandre Ramagem. A investigação se debruça sobre a suspeita de que a Abin teria sido usada ilegalmente para atender a interesses políticos e pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua família.
Segundo a PF, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão. Entre eles, em Angra dos Reis, onde o clã passa férias desde o início de janeiro; na residência de Carlos na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio; no gabinete do vereador, na Câmara Municipal do Rio; em Formosa (Goiás) e em Salvador (Bahia).
Ao pedir autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer buscas em endereços ligados ao vereador Carlos Bolsonaro, a PF afirmou que ele fez parte do “núcleo político” do grupo que teria se instalado na Abin no governo do ex-presidente. A PF chama os investigados de “organização criminosa” e vê indícios de espionagem ilegal e aparelhamento dos sistemas de inteligência.
O vereador ainda não se manifestou. A Polícia Federal apreendeu computadores e o celular dele nesta segunda.
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Carlos Bolsonaro foi incluído no inquérito depois que a PF encontrou conversas entre uma assessora dele e uma auxiliar do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, sobre inquéritos de interesse da família Bolsonaro. A servidora diz que precisa “muito de uma ajuda”, informa o número das investigações e acrescenta que elas envolveriam o “PR (presidente da República) e 3 filhos”.
A conversa foi descoberta a partir da quebra do sigilo telefônico e de mensagem de Ramagem na Operação Vigilância Aproximada. Segundo a Polícia Federal, o ex-diretor da Abin teria “incentivado e acobertado” o suposto esquema de arapongagem.