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Lula vê CPI da Covid como 'joia da coroa' para desgastar Bolsonaro até 2022

Ofensiva contra Planalto prevê que comissão vire 'combo' e ressuscite denúncias de fake news

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Foto do author Vera Rosa

Caro leitor,

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A poucos dias de desembarcar em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma ordem à cúpula do PT. Lula vê a CPI da Covid como a “joia da coroa” a ser conquistada e quer que o partido municie o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator dos trabalhos, na disputa contra o presidente Jair Bolsonaro. A ideia é fazer um "combo dois em um" na comissão parlamentar de inquérito, trazendo à baila investigações que hoje estão na órbita da CPI das Fake News, parada há mais de um ano.

Na tentativa de reforçar essa estratégia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também será acionado para compartilhar informações apuradas. Moraes é quem conduz dois inquéritos na Corte que atormentam o Palácio do Planalto. Um deles investiga um esquema para disseminar notícias falsas contra integrantes do Supremo. O outro apura o envolvimento de empresários e políticos bolsonaristas em atos que pregaram o fechamento do STF, do Congresso e intervenção militar no País.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro Foto: Amanda Perobelli/Reuters; Dida Sampaio/Estadão

No último dia 9, Moraes decidiu prorrogar por mais 90 dias os dois inquéritos. Trata-se do mesmo prazo estipulado para a duração da CPI da Covid, embora se saiba que o desejo da oposição, hoje maioria no colegiado, é esticar os trabalhos ao máximo e “sangrar” Bolsonaro para que ele chegue desidratado à eleição de 2022.

A comissão das fake news é mista, integrada por deputados e senadores, mas não funciona há mais de um ano, por causa da pandemia. Agora, o plano de integrantes da CPI da Covid consiste em resgatar as principais denúncias que começaram a ser investigadas ali, como as que batem à porta do “gabinete do ódio”. Coordenado pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho “02” do presidente, o núcleo de assessores do Planalto foi assim designado dentro do próprio governo por atuar nas redes sociais como milícia digital contra adversários.

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Candidato à sucessão de Bolsonaro, Lula chegará a Brasília na próxima semana para uma série de conversas reservadas sobre os movimentos da CPI e as alianças possíveis no espectro político de centro, em busca de acordos para 2022. O ex-presidente já tomou as duas doses da vacina Coronavac. Os encontros não serão apenas com petistas, mas com políticos de outros partidos, como o ex-presidente José Sarney (MDB).

Desde que teve anuladas no Supremo as condenações impostas pela Lava Jato, Lula prepara sua sexta campanha à Presidência, embora não tenha assumido oficialmente a candidatura. Nos últimos dias, ele conversou por videoconferência com integrantes da bancada do PT no Senado e dirigentes do partido. Cobrou empenho na ofensiva, pelas redes sociais, da divulgação de erros do governo na pandemia.

Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde de 2014 a 2015, no governo Dilma Rousseff, foi escalado para coordenar a assessoria técnica do PT na CPI da Covid. Chioro é médico sanitarista e professor universitário. Foi demitido por telefone, em 2015, quando Dilma entregou a pasta ao então PMDB e fez uma reforma ministerial, na tentativa de salvar o governo, àquela altura já vivendo uma crise sem precedentes, que terminou em impeachment.

Sem maioria na CPI, o Planalto tenta cada vez mais desviar o foco da gestão Bolsonaro. A portas fechadas, ministros dizem que a Polícia Federal tem “mais de 400” pedidos de investigação contra governadores sobre o destino do dinheiro enviado para o enfrentamento do coronavírus. Bolsonaro pressiona para que o material seja aproveitado na CPI.

Depois do vazamento de uma tabela produzida pela Casa Civil, enumerando 23 acusações feitas contra o governo durante a pandemia, o Planalto tenta agora descobrir quem é o traidor. Revelada pelo site UOL, e confirmada pelo Estadão, a tabela foi repassada a 13 dos 23 ministérios para que os técnicos das pastas ajudassem a rebater as críticas com dados. O objetivo era construir uma estratégia de defesa para municiar os senadores aliados na comissão.

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“Foi um tiro no pé, uma verdadeira confissão de culpa antecipada”, ironizou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI. Uma das acusações contidas no documento da Casa Civil diz, por exemplo, que “o governo foi negligente com processo de aquisição e desacreditou a eficácia da Coronavac”.

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Encarregado da articulação política do Planalto na CPI, o ministro da Casa Civil, Luiz Fernando Ramos, decidiu restringir ao máximo as reuniões com mais de duas pessoas. O general conversou com Bolsonaro e fez questão de aparecer ao lado dele, para mostrar prestígio, um dia após outro episódio constrangedor: o vazamento do áudio de reunião em que revelou ter tomado vacina “escondido”, por “orientação”, e para “não criar caso”. 

Bolsonaro está convencido de que todos esses vazamentos fazem parte de uma “conspiração” para derrubá-lo. Ramos, por sua vez, acha que existe mesmo um “serpentário” no Planalto. Apesar das trapalhadas, o presidente não se surpreendeu ao ouvir Ramos confidenciar, naquele diálogo que escapou da sala de reuniões, estar empenhado em fazê-lo tomar a vacina por achar que a vida dele corre risco. O chefe da Casa Civil já disse isso várias vezes para “Jair”, como costuma chamar Bolsonaro. O problema é que “Jair” não apenas não se convence como continua a provocar aglomerações. E na disputa pela “joia da coroa” há um vírus a ser vencido, com 400 mil mortes no meio do caminho.

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