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Brasil teve 3 ocorrências com helicóptero em sequência: acidentes estão ficando mais comuns?

Dados da FAB mostram registros de acidentes com aeronaves na última década. Nesta semana, duas quedas e um desaparecimento chamaram atenção

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

Três ocorrências envolvendo helicópteros chamaram atenção ao longo da última semana: um no Maranhão, outro em Minas e outro em São Paulo, cujos destroços só foram achados na mata após 12 dias de busca. No total, seis pessoas morreram e três ficaram feridas. A recorrência despertou a preocupação de passageiros e profissionais do setor. Mas os casos realmente estão ficando mais comuns?

Dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da FAB apontam o registro, em 2023, de 15 acidentes de helicóptero, com dez mortes. O número é menor dos que os 20 acidentes de 2022, que também somaram dez mortes. Nos últimos dez anos, foram 167 ocorrências, com 136 óbitos.

A tendência, avalia o setor, é de queda nos casos graves. Enquanto entre 2014 e 2016, a média de acidentes ficou em 19 registros, o número foi de 16 para os últimos três anos. Quando a conta analisa o número de óbitos, a comparação mostra queda de 18 mortes anuais no primeiro período e 13, no mais recente.

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Com a maior frota de aviões e helicópteros do País, o Estado de São Paulo lidera o ranking de acidentes, com 343 ocorrências, das quais 43 envolveram helicópteros. Em seguida aparecem Mato Grosso, com 186 acidentes, Rio Grande do Sul (166), Minas Gerais (147) e Pará (135).

A Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero (Abraphe) disse que a ocorrência de três acidentes em curto prazo de tempo é atípica, já que os registros estão em queda nos últimos anos.

Conforme a Abraphe, seu levantamento mais recente indica uma frota de 1.315 helicópteros não militares aptos a voar no País. São Paulo é o Estado com o maior número de helicópteros registrados, seguido de Rio de Janeiro e Minas Gerais. São mais de 4.500 operações diárias com helicópteros no Brasil. A cidade de São Paulo está entre as de maior número de operações com helicópteros no mundo, com cerca de 1.300 pousos e decolagens por dia.

Buscas pelo helicóptero que desapareceu no litoral norte de São Paulo no último domingo continuam. Aeronave SC-105 Amazonas, com 15 tripulantes especializados, participa da operação Foto: FAB

Ainda segundo a entidade, para exercer a profissão, o piloto precisa estar certificado como Piloto Comercial de Helicóptero (PCH), cumprindo 100 horas de voo, além de curso teórico e prova aplicada pela Anac em escola homologada.

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“Durante o treinamento, há requisitos de voos a serem cumpridos, como navegações (nas quais o aluno voa de um ponto A para um ponto B) e voos no período noturno. O voo de check é realizado por um examinador credenciado pela agência reguladora, que avaliará o desempenho do aluno em conhecimentos teóricos, navegação e nas manobras aprendidas ao longo do curso”, disse, em nota.

Apesar do mínimo de treinamento exigido no PCH ser de 100 horas, o regulamento da Anac prevê que, no caso de interrupção do curso, esse mínimo aumenta para 150 horas.

“Um piloto de helicóptero passa por atualização constante, sendo de sua responsabilidade a gestão da aeronave e o acompanhamento da manutenção preventiva, bem como o conhecimento das especificidades da aeronave, seja ela homologada para voo visual ou voo por instrumentos”, acrescentou.

O Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), do Cenipa, aponta o “desempenho técnico do ser humano” como causa de 47,7% dos acidentes com helicópteros, sendo que a perda de controle do aparelho em voo responde por 30% das ocorrências. A análise destaca falhas no julgamento do piloto e na manutenção da aeronave, além de erro na aplicação de comandos.

Táxi aéreo clandestino

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A Associação Brasileira de Empresas de Táxi Aéreo (Abtaer) alertou para a proliferação de táxis aéreos clandestinos, o que aumenta o risco de acidentes.

A prática inclui a realização de voos fretados sem a homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em uma empresa de táxi aéreo regular e homologada, a manutenção das aeronaves é feita em conformidade com as diretrizes da autoridade aeroportuária e submetida a verificações, o que não acontece com os clandestinos.

A Anac informou que, em 2023, foram realizadas 506 fiscalizações de combate a ilícitos na aviação em todas as regiões do Brasil, sendo que 455 tiveram o foco no combate ao transporte aéreo clandestino de passageiros. Ao todo foram fiscalizadas 916 aeronaves, incluindo helicópteros, e emitidas 81 medidas cautelares, como a suspensão ou revogação de habilitações. Em 2022 foram 506 fiscalizações e 81 medidas cautelares e, no ano anterior, 554 ações e 118 medidas cautelares. De 2016 a 2023, foram aplicados cerca de R$ 14 milhões em multas, com a autuação de 286 infratores. “Cabe estabelecer que a atuação fiscalizatória da Anac ocorre em âmbito administrativo, uma vez que a agência não possui poder de polícia. A sanção de ilícitos penais cabe às autoridades policiais competentes”, disse.

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A Anac orienta os usuários de táxi aéreo para que, antes de contratar o voo de avião ou helicóptero, busquem informações sobre a empresa pelo aplicativo “Voe Seguro”, disponível no site da agência.

Segundo a agência, empresas autorizadas devem utilizar aeronaves adequadas para a prestação do serviço e devem estar registradas como táxi-aéreo. O avião ou helicóptero deve estar com documentação regular e com a manutenção em dia, conforme as exigências da agência.

Ainda segundo a Anac, o piloto deve ter licença de piloto comercial ou piloto de linha aérea, estar com certificado médico válido e com as habilitações regulares perante à agência.

As multas aplicadas por desrespeito a essas normas foram aumentadas recentemente. Para o táxi-aéreo clandestino, o valor varia de R$ 12 mil a R$ 200 mil. Já para a prática e manutenção clandestina, a multa vai de R$ 15 mil a R$ 150 mil.

Quedas e desaparecimento

Após 12 dias de buscas, o helicóptero que desapareceu com quatro pessoas no dia 31, véspera de réveillon, foi localizado na manhã desta sexta-feira, 12, informou a Defesa Civil do Estado de São Paulo. Também foram achados os quatro corpos dos ocupantes da aeronave, que ainda passam por identificação. Eles estavam nos arredores da aeronave, que se destroçou com a queda, segundo informações oficiais da Polícia Militar.

Ainda segundo a PM, a aeronave foi localizada pelo Águia 24 em uma área de mata na região em Paraibuna. Na imagem divulgada, é possível ver uma clareira entre a vegetação. Entre as árvores, podem ser vistos alguns destroços. Segundo a PM, foi necessária a ajuda de outra aeronave para acessar o local.

FAB realiza buscas por helicóptero desaparecido a caminho de Ilhabela Foto: Reprodução/Força Aérea Brasileira

O helicóptero decolou do Campo de Marte, em São Paulo, às 13h15 do domingo, 31, último dia do ano, com destino a Ilhabela, no Litoral Norte paulista, e não chegou.

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Estavam a bordo, além do piloto Cassiano Tete Teodoro, de 44 anos, Luciana Rodzewics, de 45 anos, sua filha Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, de 20, filha de Luciana, e um amigo delas, Raphael Torres, de 41. O grupo passaria o Réveillon em Ilhabela.

O último contato com a aeronave ocorreu às 15h10 do dia 31. O Comando da Aviação foi alertado sobre o desaparecimento da aeronave às 22h40 do domingo.

Na terça-feira, 2, por volta das 9 horas, um helicóptero Colibri EC-120 caiu no Lago de Furnas, em Capitólio, na região centro-oeste de Minas Gerais. Três tripulantes da aeronave foram resgatados com ferimentos. Um quarto ocupante, identificado como Vanilton Alves Balieiro, de 44 anos, morreu.

Reprodução de vídeo cedido pelo Corpo de Bombeiros de Minas mostra helicóptero caindo em lago de Capitólio (MG). Foto: Corpo de Bombeiros de Minas

Conforme a Polícia Civil, a aeronave decolou do heliponto de um balneário e seguiria para a cidade mineira de Piumhi quando houve o acidente.

No mesmo dia, por volta das 10 horas, um helicóptero Robinson 44 caiu em uma fazenda, no município de Santa Luzia, no Maranhão, causando a morte do piloto José Rondinelle da Encarnação Rodrigues, de 43 anos. Durante a queda, a aeronave pegou fogo.

Conforme o registro na Polícia Civil, o piloto realizava um trabalho de pulverização agrícola na propriedade rural quando aconteceu o acidente.

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