Consumidor de CD falsificado pode ser preso

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Por Agencia Estado
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Você sabia que, ao parar na barraquinha de um camelô para comprar um CD pirata, pode acabar em uma delegacia, ser fichado como um bandido e ficar com o nome sujo na polícia? Apesar de improvável, isso pode acontecer. "Quem compra, também está cometendo um crime e pode ser preso em flagrante", avisa o promotor José Carlos Blat, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). No caso, o crime é o de receptação culposa, previsto no artigo 184 do Código Penal - que trata da violação de direito autoral - e é punido com pena de um mês a um ano de detenção, mais multa. Embora a prisão do comprador de um CD seja um caso extremo, o fato é que, no gesto aparentemente inocente de querer ouvir música por um preço bem baixo, o cidadão respeitável, que paga seus impostos em dia, está ajudando a alimentar uma rede criminosa, que inclui contrabandistas, falsificadores e quadrilhas de ladrões de carga. "É gente perigosa e violenta", alerta Blat. "Atrás desse comércio ilegal, há até o braço armado das máfias orientais." Integrante da força-tarefa criada pela Prefeitura, o promotor do Gaeco não irá reprimir o cidadão que pára nas barraquinhas para comprar uma roupa de "grife" 100% falsificada ou um perfume "importado" produzido com essências genuinamente paraguaias. "Também não vou correr atrás dos camelôs", diz ele. "Eles são a ponta de um circuito criminoso." O principal objetivo da força-tarefa, integrada pelo Ministério Público Estadual e Federal, polícia e Receita Federal, é o de atacar a fonte da ilegalidade - investigar as máfias chinesa e coreana, suspeitas de abastecer revendedores em determinadas regiões da cidade, e identificar os responsáveis pela receptação das cargas roubadas. Com essas informações apuradas, Blat pretende decifrar a rede de distribuição de mercadorias ilegais que, depois de entrarem em depósitos de comerciantes estabelecidos e acima de qualquer suspeita, também vão parar nas barracas dos camelôs. "Hoje, o sistema usado é o do ´chuveirinho´", explica o promotor. "Está tudo tão organizado que as cargas, quando são roubadas, já foram encomendadas e vendidas. Não ficam estocadas em um mesmo lugar. Estão pulverizadas em vários locais da cidade." A suspeita de que as máfias orientais têm ligação com o contrabando e o repasse de produtos piratas se sustenta, na opinião do promotor do Gaeco, porque são apenas as colônias chinesa e coreana é que são alvo da extorsão dos mafiosos: "As colônias são fechadas e recebem as mercadorias de alguém.Quem fornece a mercadorias sabe o faturamento de quem vende e, portanto, pode exigir uma porcentagem sobre a venda." José Artur Aguiar, presidente da Associação dos Camelôs, Ambulantes e Autônomos do Estado de São Paulo, representante de 22 mil associados, admite que, entre os trabalhadores dessa economia informal, há quem venda mercadorias roubadas. "Mas são poucos e fazem parte de uma máfia fechada", diz Aguiar. E produtos roubados é o que não faltam no mercado: "Tem de agulha a helicóptero." E atenção: comprar uma mercadoria que pode ser roubada também é crime. E, apesar de o interessado em uma pechincha não saber que o objeto do desejo foi conseguido com a ajuda de um ladrão, deve estar atento: pode ser enquadrado no artigo 180 do Código Penal. "Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, deve presumir-se obtida por meio criminoso." A pena varia entre um mês e um ano de detenção, mais multa. Embora nem tudo o que está nas bancas seja roubado, a mercadoria restante também não pode ser considerada legal. "Ninguém compra com nota fiscal", diz Aguiar. "Hoje, não compensa mais viajar para o Paraguai por causa do custo e do risco de perder a mercadoria. Por isso, 95% dos produtos vendidos nas ruas são comprados nas galerias da Rua 25 de Março e na Galeria Pajé."

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