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Corações marcados e bem tratados

Sandra, médica cardiologista boliviana, adotou SP há 9 anos e deu à cidade 3 paulistaninhos

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Por Redação
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O cheiro é o de maçã verde e o barulho, de crianças brincando - estamos na sala vizinha à área de recreação do hospital e maternidade Vida"s, em Interlagos, zona sul da capital, na tarde de uma segunda-feira recente. "O quê?", inclinou-se para frente a médica cardiologista e pediatra Sandra Artiaga Camacho, hoje aos 32 anos, confrontada no susto com seu passado de residente. Quando soube detalhes do que se tratava - agradecida senhora de um distante povoado pernambucano -, a médica arrumou a gola do jaleco, baixou o olhar, passou a mão nos cabelos e respirou fundo. Se emocionou.Sandra sabe o que sente e diz que são momentos como esse que fazem valer o sacrifício. "Nunca podemos perder de vista os sentimentos dos pacientes. Exemplos assim dão força para seguir adiante", diz a médica, nascida em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, e moradora de São Paulo há nove anos. "É recompensador essa senhora lembrar. Faz tanto tempo, eu era tão novata..."Difícil, porém, lembrar detalhes da mulher cuja história tanto marcou. Já se passaram sete anos e a rotina da profissão traz a ela, hoje, casos semelhantes praticamente todos os dias. Formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Sandra dá expediente em três hospitais, se revezando em três especialidades. No Vida"s, é pediatra; na Assistência Médica Ambulatorial da Sé (AMA-Sé), centro da capital, é pronto-socorrista; e na AMA-Especialidades de Vila das Mercês, na zona sul, exerce a especialidade que prefere, a cardiologia. No total, são cerca de 80 pacientes por semana."É para isso que o médico se esforça nos estudos. Para ajudar o máximo possível de pessoas", diz a doutora, que estudou em Mato Grosso do Sul por causa da proximidade da sua terra, mas sabia que, depois, o futuro seria em São Paulo. "Antes, meu irmão percorreu o mesmo caminho. A cidade é fantástica para estudar, fiz tantos cursos quanto pude."Sandra chegou à capital em 2001 e estranhou, desde o início, o tamanho da cidade. "Era tudo grande demais, me perdia sempre no trânsito e nem abria a janela para perguntar, por medo da violência", diz Sandra, ainda com leve sotaque castelhano. "Mas me acostumei. Me imaginava em São Paulo, sempre tive o sonho da metrópole."E Sandra, cada vez mais, faz parte da metrópole que escolheu - deu à cidade três novos paulistanos, dois filhos e uma filha, de 4, 6 e 7 anos. "Fico só em função deles. É Parque da Água Branca, Parque da Mônica, Ibirapuera... Uma festa", conta. "E os parentes de fora, levo fazer compras no Bom Retiro."Como principal problema, aponta o trânsito, que tanto a atormenta. Nos dias em que trabalha em Interlagos, por exemplo, leva duas horas para chegar a Santa Cecília, no centro, onde mora. Em casos assim, para não deixar o marido, Paul, na mão, invariavelmente para na padaria da esquina, para improvisar o lanche-jantar. Foi o que fez naquele dia - apoiou-se no balcão e pediu dois croissants de presunto e queijo.Apressada, não levou 5 minutos. Passou o cartão (R$ 5,80) e foi embora, carregando os croissants - salgados que, de tanto que saem, já estavam no fim. Sem problemas: dali a pouco, o jovem padeiro responsável pelos salgados, variedade mais vendida na casa, começaria o preparo da primeira fornada da noite.

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