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D. Orani defende 'dignidade humana' em 'rolezinhos'

Recém-escolhido cardeal pelo papa, ele destacou 'o direito das pessoas em buscar os mesmos bens e de frequentar determinados lugares que os demais'

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BRASÍLIA -O arcebispo do Rio de Janeiro, d. Orani Tempesta, recém-escolhido cardeal pelo papa Francisco, defendeu nesta quarta-feira, 22, a necessidade de promoção da dignidade humana para jovens que aderiram ao novo fenômeno social: os "rolezinhos" em shoppings. "Acho que devemos promover as pessoas para que todos possam ter aquilo que é a dignidade humana e também ter uma qualidade de vida melhor", disse d. Orani no Palácio do Planalto, após audiência com a presidente Dilma Rousseff.

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Para d. Orani, há duas questões que devem ser avaliadas nos "rolezinhos": o direito das pessoas em buscar os mesmos bens e de frequentar determinados lugares que os demais e a violência desencadeada pela manipulação desses movimentos. O arcebispo destacou a necessidade dos jovens de "querer fazer parte" e frequentar os shoppings. "O que não podemos aprovar é quando se descamba numa violência, em depredação, tudo mais. São dois lados da questão, mas essa preocupação de promover a pessoa, de ajudá-la a viver melhor, com dignidade, deve ser constante", reforçou.

Maranhão. O sacerdote reproduziu a preocupação dos bispos do Maranhão com a crise no sistema carcerário do Estado e ressaltou que a situação se repete em todo o País. "Acho que essa é uma questão mal resolvida em nosso País, por mais que tenha novos presídios, novas tentativas, ainda não conseguimos fazer com que as pessoas sejam reeducadas, tenham uma maneira de convivência e possam voltar à sociedade. Infelizmente é algo ainda a ser feito", comentou.

Perguntado sobre a discussão da temática religiosa em ano eleitoral, d. Orani afirmou que a Igreja Católica procura esclarecer as pessoas sobre costumes e política para orientá-las a votar de forma consciente. "Eu creio que as pessoas que vão votar devem ver se o seu candidato traz consigo as preocupações que ele traz no coração, traz na sua mente, para o País, para o bem das pessoas, na questão tanto do desenvolvimento, quanto da qualidade de vida, quanto dos valores éticos, e dos valores sociais", disse.

Sobre a liberação do aborto, tema abordado nas eleições de 2010, o novo cardeal lembrou que Dilma não se comprometeu em levar o assunto à discussão. "Isso na época já foi resolvido", desconversou.

D. Orani veio a Brasília convidar a presidente para participar do Consistório do dia 22 de fevereiro, no Vaticano, onde ele será apresentado como novo cardeal. Durante o encontro desta manhã, eles falaram sobre a importância de aumentar as parcerias sociais com a Igreja. A expectativa é que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, vá ao Consistório.

Jornada. D. Orani disse que não discutiu a dívida deixada pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) com a presidente Dilma, mas informou que o papa Francisco enviou recentemente ajuda financeira. "Eu creio que, aos poucos, vamos concluir essa dívida, mas vai ficar outras questões para o futuro, (como) os empréstimos que foram feitos", comentou.

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Embora não tenham abordado a questão das dívidas, d. Orani disse que Dilma demonstrou entusiasmo ao falar do evento, do clima pacífico que imperou no Rio de Janeiro durante a JMJ.

Dentro do Planalto, a realização da Jornada Mundial da Juventude foi considerada um sucesso, servindo para reaproximar a presidente Dilma Rousseff da Igreja Católica em um momento crucial do governo, que se via confrontado com protestos nas ruas, tensões na base aliada e pessimismo na economia.

Dilma não é católica praticante, mas tem a "sua referência de fé". Segundo o Broadcast apurou, o gabinete presidencial tem três imagens da Nossa Senhora Aparecida.

O Palácio do Planalto sabe da influência do eleitorado católico nas eleições. Pressionada, Dilma assinou durante a campanha presidencial de 2010 uma carta em que dizia ser pessoalmente contra a prática e a favor da manutenção da lei sobre o assunto. O tema voltou a assombrar o Planalto em fevereiro de 2012, quando a presidente indicou Eleonora Menicucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, que havia defendido a descriminalização do aborto.

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