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Complexo da Maré: Operação policial deixa ao menos três mortos no Rio

Motoristas saíram dos carros e se abrigaram atrás das muretas em vias expressas da região; Secretaria da PM diz que todos os baleados eram suspeitos

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Atualização:

Uma operação conjunta das polícias Civil e Militar deixou pelo menos três mortos e um ferido no início da manhã desta segunda-feira, 26, no conjunto de favelas da Maré, na zona norte do Rio. Durante a ação, vias expressas da região foram fechadas e motoristas que transitavam pelo local saíram dos carros e se abrigaram atrás de muretas para se protegerem dos tiros.

De acordo com a Secretaria de Estado de Polícia Militar, todos os baleados eram suspeitos e foram mortos na troca de tiros, sendo que o homem que ficou ferido possui um mandado de prisão em aberto. Ele foi encaminhado ao Hospital Federal de Bonsucesso. A PM informou ainda que dois fuzis, uma pistola e uma granada foram apreendidos.

Policiais durante operação no Complexo da Maré. Foto: Bruna Prado/AP

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A operação acontece na Vila do João e na Vila do Pinheiros, e visa “conter tentativas de investidas de uma facção criminosa contra outra nesta região”, afirmou a PM. A ação conta com homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), do Batalhão de Ações com Cães (BAC) e policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).

Desde as primeiras horas, a Linha Vermelha, a Linha Amarela e a Avenida Brasil tiveram o trânsito interrompido nos trechos próximos ao Complexo da Maré em diferentes momentos.

A operação levou a Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) a suspender as aulas do turno da manhã no campus Cidade Universitária. Leia a nota:

Em decorrência de tiroteio no Complexo da Maré, que fechou vias expressas no Rio, como a Linha Vermelha, a Reitoria da UFRJ decidiu suspender as aulas do turno da manhã no campus Cidade Universitária desta segunda-feira, 26/9, para segurança da comunidade acadêmica.

A Reitoria acompanha a situação.”

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Nas redes sociais, ao comentar a operação na Maré, a educadora Yvonne Bezerra de Mello, fundadora do projeto social, criticou as políticas de combate à criminalidade adotadas pelos governadores do Rio nas últimas décadas.

“Pânico total, via expressa fechada, caveirões atirando dentro da comunidade, escolas fechadas, assim como o Uerê. O que fizeram esses governadores nessas décadas? Nada. Estou na Maré trabalhando há 24 anos e nada mudou: corrupção, operações sem objetivo, mortes, firulas na segurança pública para inglês ver. Para mostrar serviço com pífia apreensão de armas e drogas. Votem, votem nesses caras cujo objetivo é encher as burras e ajudar os amiguinhos, como no caso do Ceperj. E o Rio nas mãos da milícia e do tráfico com entranhas profundas na política, que por seu lado nada faz porque usa essa população massacrada por falta de bons governos no Estado. Há anos penamos com esses corruptos que elegemos. Acabei de saber que as paredes do Uerê foram metralhadas. Não existe respeito e escolas atingidas demonstram total falta de preparo nessas operações”.

Para a especialista em segurança pública e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Jacqueline Muniz, faz parte da missão da polícia frustrar o embate entre grupos armados rivais e sustentar a paz social. Mas, opina, “mais uma vez, a governo e as polícias não fizeram seu dever de casa básico, que diferencia uma organização profissional de uma bando armado que faz uso da violência indiscriminada, qual seja: luz do sol nos processos decisórios, desde o planejamento a luz da missão até a sua execução. A operação inviabilizou a circulação de pessoas, bens e serviços, produzindo insegurança dentro e fora da Maré, comprometendo a finalidade de sustentar a ordem pública e prover segurança”.

Para Jacqueline, existe autonomia demais e controle de menos na ação policial.

“Tudo passa a se justificar com a fabricação de saldos operacionais, sem produzir impactos efetivos sobre o crime organizado”, afirmou. ”Cria-se a ilusão que o tráfico começa e termina na boca-de-fumo. Onde estão os fornecedores internacionais, onde estão os representantes de vendas? Qual a logística que coloca a droga na favela? Tudo isso está no asfalto, incluindo candidatos cuja carreira serve como lavanderia do dinheiro do tráfico e da milícia.”

Para a especialista, “a operação serviu como palanque eleitoral estimulando o agravamento do temor véspera de eleição”.

Castro

Após a operação desta segunda-feira, o governador e candidato à reeleição Cláudio Castro (PL) elogiou a ação das polícias.

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“Mais uma vez a polícia fazendo seu trabalho. Mais de uma tonelada de maconha, 50 pés de maconha, sete fuzis, oito pistolas (apreendidas), 20 pessoas presas (na verdade foram 26). É a polícia tirando de circulação essas pessoas e com certeza libertando a população. Hoje tiveram (sic) grande número de presos, mostrando que a política que a gente está fazendo jamais celebra a morte de ninguém, jamais é pra matar alguém. O que a gente quer é libertar nossa população. Para cuidar da segurança pública tem que ter uma ação enérgica, e essa ação enérgica o governo tem tido”.

75 mortos em 17 meses

Quatro operações policiais realizadas pela polícia do Estado do Rio de Janeiro em pouco menos de 17 meses (desde maio de 2021) deixaram 75 mortos. Entre elas figuram três das quatro operações mais letais da história do Rio. A mais letal ocorreu em 9 de maio de 2021 na favela do Jacarezinho, na zona norte, quando policiais mataram 28 pessoas.

Em 24 de maio deste ano, 25 pessoas foram mortas durante uma operação policial na Vila Cruzeiro, também na zona norte. Essa foi a segunda operação em letalidade.

Em 21 de julho passado, uma operação com policiais militares e civis no Complexo do Alemão, outro conjunto de favelas da zona norte, deixou 17 mortos. Foi a quarta operação mais letal da história. A terceira ocorreu também no complexo do Alemão em junho de 2007, quando 19 pessoas foram mortas.

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