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Gasolina ruim no seu carro? Como evitar combustível adulterado e notar sinais de problema

Quando o veículo tem contato com combustível fraudado, os problemas vão desde piora no patamar de consumo a um maior desgaste do motor. Saiba como identificar

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

O Brasil tem visto uma alta de fraudes de combustíveis envolvendo o uso de metanol. Os autos de infração relacionados à substância emitidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) atingiram, no ano passado, o recorde desde que começaram a ser contabilizados, em 2017. Foram 187 registros, alta de 73,5% na comparação com um ano antes.

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O metanol é uma substância tóxica considerada não só nociva à saúde, como suscetível a causar explosões e danos aos veículos, sobretudo quando usado em grandes quantidades. Em meio a isso, é importante saber quais aspectos observar no carro para saber se há algo de errado e como não escolher um posto que vende combustível adulterado.

“O metanol tem poder calorífico menor que o etanol. Um primeiro reflexo é que, quando o combustível (com mais metanol) entra na câmara de combustão, ele gera menos energia”, diz Filipe Fabian Buscariolo, professor de Engenharia Mecânica da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Ou seja, investigar sinais como esse pode ser decisivo para não prolongar o desgaste do carro.

Conforme a ANP, diante da “incidência incomum de contaminação por metanol”, sobretudo entre abril e setembro do ano passado, foram adotadas novas medidas. Em 2023, a ANP indeferiu 67 pedidos de importação de metanol, o que evitou a entrada de cerca de 63 mil m³ do produto para possível uso irregular no País.

O índice médio de conformidade dos combustíveis no País foi de 97,4% no ano passado, conforme o Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) da ANP. O número ficou próximo ao indicador de 2022, de 97,5%, o que põe a qualidade dos combustíveis no Brasil em patamares internacionais de qualidade, segundo a agência.

Quando o carro tem contato com combustível fraudado, os problemas vão desde piora no consumo a maior desgaste no motor. Um dos reflexos mais visíveis pode ser observado no escapamento, segundo Buscariolo. “Como o metanol tem muito mais água (que o etanol), começa a pingar muito mais água no escapamento quando há a combustão”, diz.

O professor afirma que o metanol é muito usado como solvente, mas apresenta problemas quando empregado como combustível. “Além do menor poder calorífico, tem um problema, por exemplo, que quando ele pega fogo, produz uma chama invisível. É altamente perigoso”, diz. Segundo ele, há importação da substância de países como Venezuela e Chile, mas também produção no País, ainda que em menor escala.

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Inspeção realizada em posto de combustíveis em Alagoas Foto: ANP/Divulgação

Buscariolo acrescenta que o metanol acaba desgastando mais o carro não só pelas características da substância, mas porque, com a adulteração do combustível, o motorista acaba tendo que compensar a perda de efetividade. “Passa-se a ter um desgaste maior das peças, um atrito maior”, diz o professor. “Além de ser muito mais tóxico que o etanol.”

Em geral, aspectos que indicam uma performance abaixo do normal do veículo podem ser um indício de que o carro teve contato com combustível adulterado. Além de superaquecimento do carro. Se o motorista notar aspectos desse tipo, a indicação é procurar um profissional especializado o quanto antes, de modo a descobrir a fonte do problema e não prolongar o desgaste do veículo por muito mais tempo.

  • Em uma abordagem mais técnica, um dos pontos que podem indicar que o carro entrou em contato com combustível adulterado é o funcionamento da sonda lambda, sensor que mede a quantidade de combustível no gás expelido. Se ela deixar de emitir sinais para o painel do carro, pode ter sido danificada pela presença de substâncias fraudulentas, apontam especialistas.
  • Além disso, outros possíveis reflexos do uso de combustível adulterado são a oxidação da boia de combustível, o que torna imprecisa a marcação da litragem do tanque, e a corrosão da vela de ignição, que reduz o desempenho do carro.
  • Substâncias como o metanol também podem causar danos ao chamado corpo de borboleta, o que causa oscilações atípicas na aceleração do veículo.

Caso haja adição excessiva de álcool anidro na gasolina, que é um outro tipo de fraude, Buscariolo afirma que os reflexos no carro costumam ser basicamente os mesmos, embora com uma diferença principal: “Se o veículo demora a ligar de primeira, mesmo se tiver sido abastecido com gasolina, é sinal que a substância pode estar com muito álcool”, diz o professor.

Como evitar abastecer seu carro em postos com combustível adulterado?

Desconfie de promoções com preços agressivos

Um primeiro ponto é se atentar que, em geral, valores muito abaixo dos praticados no mercado podem indicar que o estabelecimento misturou outras substâncias ao combustível vendido.

Prefira levar seu veículo em postos de confiança

Outro dica é abastecer em estabelecimentos já conhecidos ou que são indicados por pessoas de confiança. Se possível, também é orientado solicitar nota fiscal do abastecimento, o que contribui no combate a crimes de sonegação.

Informe-se sobre qual é o fornecedor do combustível

É importante ficar atento a quem fornece o combustível ao posto. Mesmo em casos de ‘bandeira branca’, que não possuem uma distribuidora exclusiva, a empresa que forneceu o produto deve ser informada em cada bomba.

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Observe também o marcador da bomba

Em alguns casos, mesmo que o combustível não seja exatamente adulteração, pode haver adulteração da bomba para cobrar mais caro. É indicado notar, portanto, se o marcador está zerado antes de começar a abastecer e se não há um aumento brusco nos dígitos.

Atente-se às informações do densímetro

No caso do etanol, as bombas possuem um densímetro acoplado na lateral da bomba. Trata-se de aparato que flutua dentro de uma ampulheta. Se a coluna vermelha do densímetro estiver acima do nível do líquido, é um indício de que há problemas no etanol.

Se achar necessário, solicite um teste no posto

Ao suspeitar de algo, a orientação é solicitar o chamado o teste da proveta, que permite saber se o combustível segue os parâmetros definidos em lei. Se o consumidor achar que entrou menos combustível no tanque do que pagou, é direito cobrar um teste de vazão.

Em caso de desconfiança, não deixe de denunciar

Se observar inconsistências mesmo após a realização dos testes ou não se sentir à vontade para solicitá-los aos funcionários do posto, a dica é denunciar o que foi observado no local à ANP pelo site www.anp.gov.br/faleconosco ou pelo telefone 0800 970 0267.

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