Isolados, turistas e moradores de São Sebastião fazem estoque de comida após bloqueios de estradas

Já há escassez de água, alimentos e produtos de limpeza na cidade, afetada pelas fortes chuvas no fim de semana

PUBLICIDADE

Por Gabriela Forte e Stephanie Araujo
Atualização:

O publicitário Bruno Brambilla estava hospedado com a esposa em um hotel na praia de Camburi que ficou debaixo d’água após os fortes temporais que atingiram São Sebastião, no litoral paulista, durante o fim de semana. “Muitos estabelecimentos não abriram porque as pessoas não conseguiram sair de suas casas para ir trabalhar”, disse.

Assim como os moradores da região, os turistas estão isolados. Estradas de acesso ao litoral estão bloqueadas, sem previsão de reabertura ao tráfego de veículos. Com poucos comércios em funcionamento, há enormes filas em busca de alimentos e produtos de higiene e muitas pessoas estão estocando comida. A escassez de água, alimentos e produtos de limpeza já começou.

Isolamento de moradores e turistas nas praias do litoral paulista formam filas quilométricas em mercados em busca de estocagem de alimentos. Foto: Arquivo pessoal/Bruno Brambilla

PUBLICIDADE

Em Juquehy, Daniel Caetano, de 23 anos, teve de buscar abrigo na casa de amigos. A casa que divide com a mãe, padrasto e o irmão de 11 anos foi invadida pela lama e está sem água e sem energia. “Ninguém se feriu, a gente conseguiu correr a tempo quando houve um barulho forte”, disse.

As chuvas geraram não só um isolamento físico, mas também um silêncio de informações de quem está na região, pela falta de sinal de celular e internet e, em alguns pontos, energia elétrica.

Com isso, grupos de trocas de mensagem no Whastapp e Telegram viraram centrais de informação sobre a situação de ruas, condomínios e hotéis em áreas que sofreram com as tempestades.

A administradora de empresas Maria Luiza Antunes, é de Franca, no interior de São Paulo, e busca notícias de familiares. A irmã, o cunhado e mais quatros amigos saíram do interior para se hospedar em um condomínio na região. “A última vez que consegui falar com eles foi no sábado, por volta das 13h. Parece que o sinal de celular só pega no fim da praia, mas eu estou insistindo e monitorando a situação pelos grupos”.

A estudante Fernanda Castro, de 18 anos, também recorreu aos grupos para conseguir notícias dos pais e amigos que saíram de São Paulo e estavam em Maresias. “No condomínio, normalmente com uma chuva forte já alaga um pouco. Dessa vez, acredito que a água deve ter subido da cintura”.

Publicidade

O alívio trazido por notícias do grupo só veio na manhã dessa segunda, 20, depois de 24h sem notícias. “Por volta das 9 da manhã meu pai me enviou uma mensagem via SMS. Estão sem sinal e sem luz mas todos bem. Como é difícil de esvaziar a água ali, vão demorar pra sair”.

Recorrer às mensagens via SMS e ligações para linhas fixas dos hotéis, pousadas ou casa de veraneios alugadas, além de insistência e paciência, são as instruções mais recorrentes entre os grupos para conseguir alguma informação sobre a situação de quem ainda não entrou em contato.

De acordo com o publicitário Bruno, a falta de sinal tem sido um agravante para quem está na cidade e alguns hotéis e restaurante localizados na praia de Camburi liberaram os acesso as redes de wi-fi. “Não tem internet, não telefone, não está nada funcionando ainda.”

Com a ausência de sinal e rede telefônico, hotéis da praia de Camburi disponibilizam internet para ajudar na comunicação de pessoas da cidade com seus familiares. Foto: Arquivo pessoal/Bruno Brambilla

Ao menos 40 pessoas morreram vítimas das fortes chuvas que atingiram o litoral entre a noite de sábado, 18, e a madrugada de domingo, 19. Somente em São Sebastião são 39 mortes confirmadas pelo governo do Estado de São Paulo. Outra vítima é uma menina que morreu ao ser atingida pelo deslizamento de pedras em Ubatuba.

O temporal inundou casas, interditou rodovias e provocou deslizamentos em Ubatuba, São Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga. A Defesa Civil decretou estado de calamidade pública após mais de 600 milímetros de chuva em 24 horas.

O Ministério dos Transportes determinou ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) “mobilização 24 horas” das suas equipes para manter, de forma preventiva, atenção total às pontes, pontos críticos e possíveis áreas de risco nas rodovias federais das regiões mais afetadas pelas chuvas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.