PUBLICIDADE

Jordanianos votam em eleição boicotada por Irmandade Muçulmana

PUBLICIDADE

Por SULEIMAN AL-KHALIDI

Jordanianos votaram nesta quarta-feira em suas primeiras eleições parlamentares desde as revoltas da Primavera Árabe, mas um boicote pelo principal partido islâmico vai garantir que não haja repetição de uma revolução ao estilo egípcio através das urnas. A popular Irmandade Muçulmana abandonou a votação alegando que o sistema eleitoral havia sido manipulado a favor de áreas rurais tribais, onde forças conservadoras e pró-governo estão entrincheiradas, e contra grandes áreas urbanas povoadas, onde o partido é mais forte. Dezenas de pessoas fizeram fila do lado de fora dos postos de votação em várias cidades da Jordânia antes da abertura das urnas em todo o reino às 2h (horário de Brasília), segundo testemunhas. A Jordânia, uma monarquia apoiada pelos EUA que faz fronteira com Israel, tem visto grandes protestos contra a corrupção e criticando o rei Abdullah, embora não tenham sido na mesma escala como os que derrubaram os governantes do Egito e da Tunísia e levou a guerras civis na Líbia e Síria. O governo prometeu eleições livres e justas e previu um bom comparecimento, apesar do boicote. "Não há duas pessoas na Jordânia que estão sussurrando que o governo vai interferir nas eleições", o primeiro-ministro Abdullah Ensour disse à Reuters esta semana. A Irmandade Muçulmana é o partido mais popular na Jordânia - com forte apoio nas cidades, especialmente entre os mais pobres palestinos que vivem lá. Seu boicote reduziu a eleição a uma disputa entre líderes tribais, figuras já estabelecidas no país e empresários, com apenas alguns dos 1.500 candidatos a partidos reconhecidos. As denúncias de compra de votos são abundantes. O resultado eleitoral pode dar ainda mais poder a um governo tribal que mantém um controle acirrado e está disposto a manter o patronado estatal, mas deve gerar ressentimento em grande parte da população urbana pobre que se sente excluída, política e economicamente. "Não há propostas nas campanhas dos candidatos. As campanhas são conduzidas emocionalmente, e são baseadas mais nas relações pessoais do que em programas construtivos", disse o xeque Talal al-Madi, ex-senador de uma região tribal. Regiões rurais e tribais escassamente povoadas, onde tribos pró-governo são fortes, ganham mais cadeiras no parlamento do que regiões urbanas pobres dominadas por palestinos, onde os islâmicos encontram seu apoio. Palestinos mais ricos com poder econômico costumam não votar. "Esta é uma eleição simulada cujos resultados só vão erodir a credibilidade do Parlamento futuro", disse Zaki Bani Rusheid, vice-chefe da Irmandade Muçulmana. Mais de dois terços dos sete milhões de habitantes da Jordânia vivem em cidades, mas são representados por menos de um terço das cadeiras na assembleia. Jordanianos estão votando em meio a uma crise econômica, com políticas de austeridade guiadas pelo Fundo Monetário Internacional que o governo foi forçado a adotar no ano passado para evitar uma crise fiscal depois de anos de gastos em um setor público inchado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.