Um grupo de professores brasileiros que há quase sete meses foi para o Timor-Leste para participar de um programa de cooperação acadêmica acusa a única universidade do país asiático de não cumprir o acordo. O acordo está previsto para durar até novembro, mas amanhã o sexto dos 30 docentes do projeto retornará ao País antes do prazo por causa do atraso nos salários, que não são pagos desde junho.De acordo com os professores, há dificuldades para obter informações sobre os atrasos na Universidade Nacional do Timor-Leste (UNTL). "O reitor se recusa a nos receber e está fora do país", diz Flávio Tonnetti, que faz parte do grupo. Segundo ele, a maioria tem recorrido à ajuda de amigos e familiares, além de empréstimos em banco, para se manter no Timor-Leste.Depois de uma seleção feita no final do ano passado pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, os professores viajaram em fevereiro para dar aula de português, biologia e química e receber um salário mensal de US$ 3,5 mil, que seria bancado pela universidade timorense. "Recebemos o primeiro pagamento somente em maio", diz Carlos Gontijo, de 29 anos, que deu aulas de língua portuguesa e retornou em junho. "Ficávamos em um hotel cujo dono aceitou receber depois as diárias de hospedagem e alimentação. Mas teve gente que não aguentou e voltou antes."É o caso de Alexandre Marques, de 33 anos, que retornou no início de maio, graças à ajuda de um grupo de professores de uma escola portuguesa em Dili. "Eles juntaram dinheiro e pagaram os cerca de US$ 300 para a remarcação da passagem", diz o professor de português, que mora em Cotia e abriu mão de dois empregos para viajar. "Sustento minha família e achei que conseguiria juntar algum dinheiro, mas tive de voltar porque estava acumulando dívidas lá e aqui."O Timor-Leste é uma ex-colônia portuguesa que foi ocupada pela Indonésia entre 1975 e 2002, período no qual o uso do português foi proscrito. Com a independência, em 2002, o português voltou a ser uma das línguas oficiais, mas faltam professores para ensiná-lo aos jovens. Atrasos. Sem contrato assinado, os professores entraram no país com um visto provisório de turista, que expirou em 30 dias. O contrato foi modificado duas vezes até ser consolidado.A UNTL alegou uma questão burocrática para o primeiro atraso no pagamento e a demora na assinatura do contrato: o estatuto da entidade não permite que o valor seja repassado diretamente aos professores estrangeiros. A gestão dos recursos ficou por conta da Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), que efetuou o primeiro pagamento no fim de maio. O Mackenzie, que segundo os professores teria garantido informalmente que o acordo seria cumprido, lembra que o edital previa responsabilidade total da universidade timorense pelo pagamento. "A única atribuição do Mackenzie é monitorar o desenvolvimento das atividades acadêmicas, nada interferindo no pagamento dos salários dos docentes. Mesmo com o problema do atraso de salários, as atividades acadêmicas transcorrem dentro dos prazos previstos", defende-se a entidade.A principal queixa do grupo que continua no Timor-Leste sobre o novo atraso é de que desta vez não há esclarecimentos. "O cenário é pior, pois as relações estão desgastadas e não temos qualquer previsão de resolução", afirma Tonnetti. O Itamaraty afirma que o governo brasileiro não tem relação com o convênio firmado entre o Mackenzie e a UNTL, mas está tentado ajudar informalmente. No último dia 7, durante um evento na embaixada em Dili, os professores cobraram ações de autoridades timorenses, mas não tiveram resposta. O Mackenzie diz ter recebido um comunicado da FUP que garante que o pagamento será feito ainda nesta semana. O Estado tentou entrar em contato com a entidade portuguesa, mas não obteve resposta.
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