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50 anos após a missão Apollo 17, a Lua parece mais próxima do que nunca

Uma nova missão da Nasa chamada Artemis I – Ártemis sendo a irmã gêmea de Apolo, na mitologia grega – finalmente partiu para a Lua no mês passado

Por Oshua Sokol, The New York Times

Há cinquenta anos, dois homens acordaram no último dia da humanidade na Lua. Ninguém voltaria tão cedo. Os planos para as missões Apollo adicionais foram descartados dois anos antes, em 1970. Poucos minutos antes do horário programado para acordar, dois astronautas da agência espacial norte-americana (Nasa), Eugene A. Cernan e Harrison Schmitt, ligaram para casa do módulo lunar fedorento e cheio de poeira da Apollo 17 para cantar Good Morning to You para a Terra. O Controle da Missão respondeu com Also Sprach Zarathustra, recentemente famoso por conta de 2001: Uma Odisseia no Espaço, o filme de Stanley Kubrick que imaginou postos avançados lunares permanentes e viagens humanas a Júpiter.

A Apollo 17 foi a missão que mais tempo permaneceu na lua e também foi o primeiro lançamento noturno de uma missão tripulada para além da órbita terrestre. Foto: NYT / NYT

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Suas despedidas formais já haviam sido entregues às câmeras de TV. A única coisa que restava a fazer era trabalhar em algumas listas de verificação de pré-lançamento, partir para se encontrar com Ronald E. Evans no módulo de comando e depois voltar para casa na Terra. “Agora, vamos partir”, disse Cernan, e assim eles fizeram, com sua nave subindo da desolação cinzenta da Lua até se perder em um céu negro.

Enquanto muitos americanos em 2019 comemoraram os 50 anos após a Apollo 11 ter colocado Neil e Buzz na Lua, o aniversário de quarta-feira traz mais do que uma pontada de tristeza para os fãs da exploração espacial. Por alguns breves anos, a Terra e a Lua estiveram ligadas por uma ponte construída com engenhosidade, tecnologia e vastas somas de dinheiro do contribuinte.

Alguns homens – apenas homens, apenas brancos, todos eles, exceto Schmitt, do Exército dos EUA – percorreram o caminho estreito através do frio e da escuridão e viveram para contar a história. Inúmeros futuros espaciais imaginários floresceram a partir desse ponto: estações espaciais giratórias, missões em Marte, a humanidade alcançando a borda do sistema solar. Então tudo decolou em uma última nuvem de foguete.

Este ano, porém, o aniversário da missão Apollo 17 veio acompanhado de um novo conjunto de imagens lunares em alta definição. Uma nova missão da Nasa chamada Artemis I – Ártemis sendo a irmã gêmea de Apolo, na mitologia grega – finalmente partiu para a Lua no mês passado com alguns manequins a bordo. Uma vez lá, orbitou sem pousar e depois navegou para casa sem problemas, mergulhando com segurança no Pacífico no mesmo dia, 11 de dezembro, em que Schmitt e Cernan pousaram na Lua pela última vez, meio século antes.

Estamos voltando

A Artemis I não pousou astronautas, e sua esperada sequência, a Artemis II, enviará apenas uma tripulação de quatro pessoas ao redor da Lua e trará para casa. Mas essas missões iniciam o caminho para Artemis III, que deve levar uma nova tripulação humana para a superfície lunar ainda nesta década, desta vez carregando uma mulher e uma pessoa não branca. Do ponto de vista simbólico, pelo menos, a mensagem era clara: finalmente, estamos voltando.

A Apollo 17, como a Artemis I, foi lançada da Terra à noite. Era um cenário adequado para o crepúsculo figurativo do programa Apollo. “Se fosse um romance, seria uma cena muito desajeitada”, disse Lois Rosson, historiadora da ciência da Universidade do Sul da Califórnia.

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Esse simbolismo não foi perdido. A 7 milhas do que era conhecido na época como Cabo Kennedy, havia um cruzeiro carregado com nomes brilhantes da era espacial – os escritores Isaac Asimov, Robert Heinlein e Norman Mailer, ao lado de cientistas como Carl Sagan, Frank Drake e Marvin Minsky. Eles haviam se reunido como um grupo de discussão sobre o futuro da exploração espacial.

Muitos desses participantes sentiram que o cancelamento da Apollo mostrava as armadilhas de deixar o governo conduzir a exploração espacial. A Guerra do Vietnã, a luta contra a pobreza e a queda do apoio público colocaram a Apollo e os grandes projetos dos entusiastas do espaço na mira do Congresso e do governo Nixon. Talvez um esforço espacial corporativo mais privado – não muito diferente da SpaceX, que surgiria nos anos 2000 sob Elon Musk – fosse um modelo melhor. “É aí que as sementes dessa ideologia são plantadas pela primeira vez”, disse Rosson.

Na Lua, os astronautas tinham trabalhos a fazer. A Apollo 17 rebocou mais rochas do que qualquer outra missão. A certa altura, os astronautas dirigiram seu rover lunar a uma distância recorde, aterrorizante quando você pensa sobre isso – 4,7 milhas de distância do santuário de seu módulo lunar. Em Schmitt, eles também tiveram o único geólogo treinado para caminhar na superfície lunar. “Nada como dormir pensando em sonhos irrealizáveis”, ele escreveu mais tarde, descrevendo seu estado de espírito após a última caminhada na Lua.

As amostras que eles e os astronautas anteriores da Apollo trouxeram de volta tornaram-se fundamentais para a ciência lunar. Essas rochas ajudaram a mostrar, por exemplo, que a Lua provavelmente se formou após uma colisão extremamente violenta entre o bebê Terra e outro protoplaneta. As rochas lunares da Apollo 17 também sugeriram que os futuros astronautas poderiam caçar recursos como água e titânio, disse David Kring, cientista planetário do Lunar and Planetary Institute, em Houston.

Aposentadorias

Carreiras científicas inteiras começaram e terminaram esperando por uma missão sucessora como a Artemis. “Tenho vários colegas que são apenas um pouco mais velhos do que eu e tiveram que se aposentar antes de ver isso”, disse Kring.

A esperança agora está aumentando. Não que todo mundo ame a Artemis; nós, é claro, já estivemos na Lua antes. O plano atual de retorno veio do governo Trump e foi apresentado por este presidente com a ideia de sempre colocar a América em primeiro lugar. O presidente Joe Biden também adotou esse cronograma e essa estrutura.

O Programa Apollo todo teve onze missões tripuladas, sendo que seis delas pousaram na Lua.  Foto: NYT / NYT

O debate pós-Apollo sobre quem deve liderar a exploração espacial também continua. A Artemis I viajou para o espaço em um megafoguete com o orçamento acima do esperado, frequentemente criticado, construído de acordo com o modelo tradicional da Nasa de gerenciamento de empreiteiros privados. A Artemis III, por sua vez, está agendada para um pouso na Lua em uma nova espaçonave em desenvolvimento usando uma abordagem comercial da SpaceX. A empresa de Musk recebeu contratos no valor de bilhões de dólares para fornecer módulos de pouso lunares.

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E agora?

Meio século depois, persistem as divergências sobre por que vamos à Lua. Ou como. Ou se deveríamos tentar. No entanto, é difícil ver as novas imagens e não sentir algo. Depois de decolar, os astronautas da Apollo 17 orbitaram a Lua e queimaram combustível para começar a viagem de volta ao mármore verde-azulado que se elevava acima do horizonte lunar. Tinha sido um dezembro excepcioalmente quente, em 1972. Naquela época, golfinhos de água doce ainda nadavam no Rio Yangtze, sapos dourados ainda saltavam pelas florestas nubladas da Costa Rica e havia mais de dois rinocerontes brancos do norte vivos.

Avance 50 voltas ao redor do sol, quando a Artemis I capturou uma visão semelhante durante sua última aproximação da Lua antes de voltar para casa, embora de uma Terra outro grau Fahrenheit mais quente e com 4 bilhões de pessoas a mais. Os engenheiros no solo pararam, boquiabertos. “Nós apenas sentamos lá e absorvemos o que estávamos vendo por cerca de um minuto, e a sala ficou absolutamente silenciosa”, disse Mike Sarafin, gerente da missão Artemis I da Nasa.

“Parte do que estamos vivendo agora, com nossos irmãos e irmãs da Apollo, é a sabedoria que eles compartilharam conosco e que agora estamos realmente apreciando”, disse Sarafin. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES