A presença de mulheres na arquibancada de estádios em jogos de futebol é corriqueira em muitas regiões do mundo, mas a imagem registrada em 2018 pela fotógrafa iraniana Alaei Forough, que mostra torcedoras iranianas assistindo a uma partida em um estádio em Teerã, é significativa: as leis do país não permitem o acesso feminino em estádios, mas, naquele dia, um grupo delas pôde assistir ao jogo entre Persépolis e o time japonês do Kashima Antlers.
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A imagem captada por Alaei, mostrando a reação das torcedoras na arquibancada, tornou-se significativa como exemplo, ainda que fugaz, de liberdade. Tanto que foi uma das vencedoras do concurso da World Press Photo de 2019 com o título Crying for Freedom (Gritando por liberdade, em tradução livre). É justamente a intenção de mostrar tal força feminina diante de adversidades que inspira a exposição Resiliência - Histórias de Mulheres que Inspiram Mudanças, que abre nesta sexta, 14, no Instituto Artium de Cultura.
São retratos documentados por 17 fotógrafos, de 13 nacionalidades diferentes, entre 2000 e 2021 e que expressam, por meio das imagens, suas visões sobre questões como sexismo, violência contra mulher e direitos reprodutivos. “São exemplos de luta pela igualdade de gênero”, observa Wieneke Vullings, cônsul-geral do Reino dos Países Baixos, que organizou a mostra juntamente com a Fundação The World Press. “E é ainda mais significativo agora, quando vivemos o período pós-pandemia e que podemos sair de casa e voltarmos a nos preocupar com o que acontece ao redor do mundo.”
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De fato, a imagem das torcedoras se expressando livremente no estádio iraniano revela uma forte carga de resistência: antes, quem se arriscasse era sumariamente encarcerada. Foi o que aconteceu em 2018, quando 35 mulheres foram presas depois de tentarem entrar em um estádio para acompanhar o jogo entre Persépolis e Esteghlal.
As mais determinadas, como Alaei Forough, chegaram a se disfarçar como homens para conseguirem acesso às arquibancadas. Foram momentos de tensão, pois houve hostilidade de alguns torcedores, mas também outros homens as apoiaram a seu modo, ou seja, ficando em silêncio mesmo sabendo que estavam ao lado de uma mulher.
A liberação para aquela partida contra o time japonês - que só veio depois de uma pressão da Fifa - foi como a explosão de um grito preso no peito. “Lembro que, quando passamos pelo portão e entramos no estádio, não consegui segurar as lágrimas por cerca de 10 minutos. Era tão humilhante quando você tinha de mudar seu rosto - nós até tivemos de enfaixar nossos seios para parecerem achatados como o dos meninos”, contou Alaei ao site Artistas No Musas, que defende os direitos femininos.
São momentos significativos como esse que marcam a exposição. Wieneke aponta outro exemplo de resiliência: o retrato Finding Freedom in the Water (Encontrando liberdade na água, em tradução livre), da fotógrafa Anna Boyiazis, compartilha a história de alunas da Escola Primária Kijini que aprendem a nadar e a realizar salvamentos, no Oceano Índico, na Praia de Muyuni, Zanzibar.
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Tradicionalmente, as garotas do Arquipélago de Zanzibar são dissuadidas de aprender a nadar, muito por causa da falta de roupas de banho mais recatadas. “Sou mãe de uma menina de 4 anos, que frequenta livremente aulas de natação, portanto, essa imagem é particularmente forte para mim.”
Para ela, além do aspecto estético, as fotografias refletem um compromisso contra a violência contra mulheres, uma grave ameaça global.