Festival de Berlim volta com 12 títulos brasileiros e reafirma vocação política; veja destaques

75ª edição da Berlinale começa nesta quinta, 13, e se estende até o próximo dia 23

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Embora não tenha, aos olhos do público, o glamour de Cannes – o festival francês ocorre em maio, quando o calor toma conta da Cote d’Azur, favorecendo a celebração dos corpos -, a Berlinale, que começa nesta quinta, 13, antecipa-se particularmente gelada, com temperaturas médias abaixo de zero, e poucas atividades externas. Nem por isso o clima da 75ª edição do evento estará menos quente.

O longa 'O Último Azul, dirigido por Gabriel Mascaro, conta com Rodrigo Santoro e Denise Weinberg no elenco e será exibido em Berlim Foto: Guillermo Garza/Desvia

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A seleção da mostra competitiva combina grandes nomes e talentos emergentes, o festival atribuirá seu prêmio de carreira à grande Tilda Swinton e a presidência do júri caberá ao norte-americano Todd Haynes, celebrado como um nome importante do cinema de autor. Para o cinéfilo brasileiro, em fase de ufanismo graças à seleção de Ainda Estou Aqui no Oscar, a seleção contempla 12 títulos do Brasil, incluindo O Último Azul, de Gabriel Mascaro, na disputa pelo Urso de Ouro, e o retorno, em versão restaurada, de Iracema, Uma Transa Amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, no Forum Special.

Por mais atrativos que tudo isso represente, há outro elemento – fundamental – para que os olhos do mundo do cinema se voltem para essa Berlinale, em especial. Houve uma troca de comando na escolha dos filmes, e essa é a primeira seleção assinada por Tricia Tuttle, que chega ao posto ancorada numa carreira de 25 anos como programadora, curadora, educadora e integrante sênior do British Film Institute, da British Academy of Film and Television – Bafta -, além de, nos últimos dez anos, haver sido diretora do board do Festival de Cinema de Londres e do London LGBTQIA+ Film Festival. Ufa!

Com toda essa bagagem, ao anunciar sua primeira seleção berlinense, Tricia reafirmou a vocação política do festival. “Prefiro dizer que Berlim é um festival social, mas, sim, a política está no nosso DNA. Somos o único major A-list festival que ocorre numa capital, e ainda por cima Berlim, que é uma cidade assentada na História. Não temos nenhuma timidez quanto a isso."

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Ela prosseguiu: "Abraçamos a pluralidade de visões que nossos diretores selecionados e hóspedes de mais de 150 países trazem para nosso evento que é, acima de tudo, internacional. O cinema é uma importante ferramenta de comunicação. Ao mesmo tempo, celebramos os filmes como uma forma de arte. Desde obras de ensaio íntimas a sites específicos e instalações, desde vísceras do gênero noturno e animação queer até o estranho blockbuster de um autor favorito. Cinema, cinema!”

Com esse espírito, Tricia organizou a competição que contempla artistas bem localizados no radar dos cinéfilos – Radu Jade com seu Kontinental 25, Richard Linklater com Blue Moon, Michel Franco com Dreams e Hong Sangsoo com What Does That Nature Say To You, entre outros - e novos talentos. Destes últimos, alguns – muitos? – deles em sua primeira seleção na competição.

O próprio Gabriel Mascaro, que volta à Berlinale, apresentou anteriormente Divino Amor, em 2019, na Mostra Panorama. O Brasil não participava da competição desde 2020. A lista completa de concorrentes está ao fim do texto. Duas importantes autoras brasileiras – Lúcia Murat e Anna Muylaert - foram selecionadas. Murat exibirá na mostra Generation seu Hora do Recreio, enquanto Muylaert levará A Melhor Mãe do Mundo à Berlinale Special.

O suspense erótico Ato Noturno, da dupla Márcio Reolon e Felipe Matzembacher, estará no Panorama, e a estreante Rafaela Camelo foi, de cara, selecionada para a mostra Generation, com A Natureza das Coisas Invisíveis.

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As séries brasileiras marcarão presença no Berlinale Series Market – Máscaras de Oxigênio (não) Cairão Automaticamente, de Marcelo Gomes e Carol Minêm, De Menor – A Série, de Caru Alves do Souza, diretora do longa original, e Reencarne, de Bruno Safadi. Anba Dlo, da cineasta trans Rosa Caldeira, será o único curta brasileiro na seção Berlinale Shorts. Outro curta – Arame Farpado, de Gustavo Carvalho – estará no Forum. Zizi ou A Oração da Jsaca Fabulosa, inspirado na infância do autor, marcará o retorno de Fellipe Bragança à Berlinale, na mostra Forum Expanded.

Começa nesta quinta, 13, a nova edição da Berlinale, que terá 12 títulos brasileiros em exibição Foto: John Macdougall/AFP

Em 2015 completam-se 80 anos do final da 2ª Guerra Guerra Mundial – e da libertação do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. A 75ª Berlinale assinala duplamente a data com as exibições especiais de Shoah, de Claude Lanzmann, que estreou no festival, há 40 anos, e Je N’ Avais Que le Néant, de Guillaume Ribot, construído sobre a memória do longa longuíssimo, mas esencial, de Lanzmann.

Na mostra Berlinale Classics, será exibida a versão restaurada de Perseguidor Implacável (Dirty Harry), de Don Siegel, e existem rumores de que o próprio Clint Eastwood, do alto de seus 94 anos, poderá dar o ar da graça em Berlim.

A homenagem a Tilda Swinton, que receberá o Urso de Ouro especial, coroa a carreira da atriz que fez a passagem da produção independente, mais miúda, para o mainstream, mantendo sempre a classe e a elegância. Se a seleção de Tricia Tuttle desperta expectativa, não é menor a expectativa pela presidência do júri. Afinal, Todd Haynes é considerado um monumento da produção independente e do New Queer Cinema, com filmes como Velvet Goldmine, Longe do Paraíso, Não Estou Lá e Carol no currículo.

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Veja abaixo os filmes que competem pelo Urso de Ouro no Festival de Berlim:

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  • Ari, de Léonor Serraille
  • Blue Moon, de Richard Linklater
  • The Safe House, de Lionel Baier
  • Dreams, de Michel Franco
  • Dreams (Sex Love), de Dag Johan Haugerud
  • What Does That Nature Say to You, de Hong Sang-soo
  • Hot Milk, de Rebecca Lenkiewicz
  • If I Had Legs I’d Kick You, de Mary Bronstein
  • Kontinental ’25, de Radu Jude
  • El mensaje, de Iván Fund
  • Mother’s Baby, de Johanna Moder
  • O Último Azul, de Gabriel Mascaro
  • Reflection in a Dead Diamond, de Hélène Cattet e Bruno Forzani
  • Living the Land, de Huo Meng
  • Timestamp, de Kateryna Gornostai
  • The Ice Tower, de Lucile Hadžihalilović
  • What Marielle Knows, de Frédéric Hambalek
  • Girls on Wire, de Vivian Qu
  • Yunan, de Ameer Fakher Eldin

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