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"Kids e os Profissionais" pula cinema e sai em DVD

Novo filme de Larry Clark, de Kids, trata mais uma vez da urgência dos jovens em cenas fortes e diálogos pesados

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Por Agencia Estado
Atualização:

No original, o título é Another Day in Paradise, "Outro Dia no Paraíso". No Brasil, a distribuidora PlayArte força a barra e chama de Kids e os Profissionais, o novo filme do diretor de Kids, Larry Clark, que já saiu em vídeo, sem passar nos cinemas (o DVD chega às lojas em agosto). Todo mundo ainda se lembra da polêmica levantada por Kids, há cinco anos. Clark falava de aids, sexo e drogas na adolescência com um furor que desconcertou o público e os críticos. Tentaram-se todas as abordagens - psicanalítica, sociológica, todas menos a cinematográfica, que seria, realmente, a mais fraca de todas. Não que o filme fosse ruim. Kids captava a urgência de viver da juventude num estilo meio desleixado que muitos chamaram de jornalístico. A mesma urgência está de volta em Kids e os Profissionais. Não é uma seqüência, mas poderia ser. É a história de um casal de jovens como os de Kids. Fazem sexo furiosamente, ele vive de pequenos furtos, realiza um assalto e volta estropiado para casa. Os dois juntam-se aos veteranos do título - um casal de trapaceiros que também vive de aplicar golpes, alguns bastante perigosos. Melanie Griffith e James Woods são os intérpretes dos papéis - ele também é responsável pela co-produção. O garoto busca um pai. Woods não pode nem quer exercer a função. A trilha é cada vez mais violenta. Ao contrário do que sugere o título original, está longe de ser outro dia no paraíso. O título, como em A Doce Vida, de Federico Fellini, tem uma conotação irônica. Assim como é amarga a decadência romana filmada por Fellini, o dia no paraíso de Clark é mais uma experiência no inferno. O quarteto de Kids e os Profissionais envolve-se em situações progressivamente mais perigosas. O rastro de sangue e violência é permeado de roubos, crimes, drogas e abortos. E termina com o herói em fuga - sabe-se lá para onde, a menos que Clark resolva fazer também o que poderá ser chamado de Kids 3. Clark não deixa de ser um caso curioso. Surgiu na produção independente americana e ganhou projeção internacional a partir da repercussão que Kids obteve no Festival de Cannes. Desde então, muitos outros filmes seguiram a mesma trilha, bastando citar Trainspotting - Sem Limites, de Danny Boyle, e Meninos não Choram, de Kimberly Peirce. O impacto de Kids, gostando-se ou não do filme, estava no enfoque dado à juventude. Numa época em que Hollywood banaliza a problemática dos jovens por meio de filmes-fliperama para consumo alienado, Clark ousa propor um enfoque diferente. Talvez não seja "realista", como ele gosta de dizer, talvez o seu corte sociológico seja discutível (e é), mas Kids e os Profissionais, como Kids, tem cenas fortes e diálogos que pegam pesado nos temas da adolescência. Você pode até não gostar, mas com certeza se pegará dialogando com o filme, no sentido de que, pelo sim, pelo não, ele estimula a discussão sobre temas contemporâneos. Os atores jovens são bons. Vincent Kartheiser e Natasha Gregson convencem nos papéis, James Woods alia o temperamento ao physique du rôle para criar seu personagem de marginal explosivo. E Melanie Griffith é a beleza de sempre, num papel que oscila entre a loraburra e a mulher capaz de grandes rasgos de generosidade. Kids e os Profissionais (Another Day in Paradise). EUA 1997. Direção de Larry Clark. PlayArte. Cor, 105 min.

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