‘Pecadora’ leva romance erótico de sucesso ao cinema e mira público feminino; visitamos o set

Trama escrita por Nana Pauvolih acompanha mulher nascida em família conservadora e religiosa que se envolve com amigo do marido. Rayssa Bratillieri, José Loreto e Marcos Pasquim integram elenco

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Foto do author Sabrina Legramandi
Atualização:

O erotismo é sempre uma questão polêmica para o cinema – mas que, também, sempre o acompanhou. O cinema brasileiro sabe disso. Em plena ditadura militar, o Brasil viu a ascensão das pornochanchadas. Agora, passados mais de 60 anos do golpe militar, um novo gênero começa a desenhar um crescimento: as adaptações de romances eróticos.

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A tendência segue o sucesso do gênero na literatura – que atrai, especialmente, o público feminino. Histórias envolventes e cenas explícitas, mas narradas de maneira poética, dão o tom desse tipo de romance.

Pecadora (Editora Essência), sucesso do gênero, está prestes a ganhar uma grande adaptação às telas, com nomes como Rayssa Bratillieri, José Loreto e Marcos Pasquim. A autora, Nana Pauvolih, foi professora de história por muitos anos até começar a publicar romances eróticos na internet em 2012. Conquistou leitoras fiéis – afinal, é raro que conteúdos sobre erotismo sejam focados no prazer feminino.

“Dirigir um romance erótico para o público feminino foi o que me atraiu para o projeto”, comenta Dainara Toffoli, diretora responsável pela adaptação, produzida pela +Galeria. O Estadão visitou o set das gravações do longa, que ainda não tem previsão de estreia.

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'Pecadora' é adaptação de romance de Nana Pauvolih. Foto: Michele Albuquerque/Divulgação

Atrás das câmeras, a equipe é essencialmente formada por mulheres. Camila Raffanti, que já trabalhou em O Lado Bom de Ser Traída, adaptação de romance erótico de Sue Hecker que abriu portas para mais filmes do tipo - feito no Brasil a partir de obras de autoras brasileiras -, é responsável pelo roteiro.

A trama acompanha a jovem Isabel, casada há quatro anos com um homem com quem se relaciona desde a adolescência e criada por uma família conservadora e religiosa. A vida da protagonista vira de ponta cabeça depois que ela começa a trabalhar com Enrico, amigo do marido.

Questão brasileira

O Brasil é um país essencialmente cristão: no ano passado, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que o País tem mais igrejas do que escolas e hospitais. Também no ano passado, a Bíblia foi o livro mais citado como o favorito pelos brasileiros na pesquisa Retratos da Leitura.

Rayssa Bratillieri, que interpreta a protagonista, conta ter crescido em uma família budista, mas diz ter absorvido “pudores” ao viver em uma sociedade com uma formação totalmente cristã. Ela teve de emprestar seus próprios “conflitos” para viver Isabel.

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“Por osmose, temos pudores e pecados que fazem parte da forma como olhamos para o mundo”, afirma. A atriz interpretou recentemente a personagem Paula na série Amor da Minha Vida, do Disney+. Paula é uma camgirl – ou seja, uma mulher paga para ter relações online.

Rayssa diz que ter interpretado Paula a ajudou a interpretar Isabel. A sexualidade, porém, ainda é um aspecto que lhe traz sensações de “culpa e pecado”. “Meu pai também fica ‘meio assim’ de me ver nesse cinema. E eu falo: ‘Ah, mas aí a filha dos outros pode?‘”, brinca ela.

O pai de sua personagem, Sebastião, é um dos principais responsáveis pelos obstáculos que Isabel enfrenta no filme. Conservador, Sebastião atua como pastor e determinou, até mesmo, que a protagonista deveria se casar com Isaque, o namorado da adolescência.

Marcos Pasquim interpreta Sebastião em 'Pecadora'. Foto: Stella Carvalho/Divulgação

Marcos Pasquim, que interpreta o pastor, diz que Sebastião o fez sair “da zona de conforto” - o ator é conhecido, afinal, pelos galãs que viveu em inúmeras novelas. “Achei interessante poder participar disso e poder fazer o outro lado, porque normalmente eu faço o lado do casal. Dessa vez, não. Eu faço o lado podador, o lado da família que não permite que isso aconteça, que não admite que isso aconteça na realidade. Para mim, isso é uma novidade”, comenta.

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Apesar de querer que os telespectadores “odeiem seu personagem”, Pasquim não acha que o pai de Isabel seja o vilão da história. “Ele acredita no que ele faz. Acredita que o ele está fazendo é correto. [...] Muita gente vai se identificar, vai achar o que o Sebastião faz correto, mas eu quero que fique claro que eu não acho”, diz.

Cuidados na filmagem

Pasquim conta que, à época dos testes, não sabia que o papel seria para uma adaptação de um romance erótico. O ator descobriu apenas ao ler o texto entregue a ele e diz ter achado “interessante” poder fazer parte do projeto.

Ele lembra que existe uma grande diferença entre o erótico e o pornô. “[O erótico] é bonito. A nossa diretora está colocando uma coisa delicada, sem expor demais. [...] No nosso filme, o erotismo está mais para mostrar a liberdade ou a falta de liberdade, o desabrochar de uma menina que foi presa a vida inteira e está conhecendo o mundo”, comenta.

Rayssa Bratillieri interpreta Isabel em 'Pecadora'. Foto: Michele Albuquerque/Divulgação

Para filmar as cenas íntimas, há de se tomar cuidados minuciosos. Dainara Toffoli descreve que as cenas são “super técnicas, exaustivas e exigem planejamento e ensaio”.

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Equipe feminina e coordenadora de intimidade

Elas envolvem um profissional que, há pouco, não existia no cinema: o coordenador de intimidade. A categoria foi criada após os protestos do movimento Me Too e as denúncias de abusos sexuais feitas por atrizes de Hollywood. Em Pecadora, quem realiza a coordenação de intimidade é Ariela Goldmann.

Rayssa conta que a preparação envolve diversos exercícios de conexão “para que tudo saia da forma mais natural e respeitosa possível”. “É uma coreografia em que o outro entende exatamente onde pode me tocar e eu entendo onde eu posso tocar no outro”, diz.

Ter uma equipe essencialmente feminina também ajuda. “Tivemos uma cena de intimidade que era só a personagem se descobrindo. Foi tão emocionante, terminamos e nos abraçamos. São mulheres contando a história de uma mulher se descobrindo. Aquele momento ficou guardado no meu coração. Acho que é uma imagem que eu vou levar para o resto da minha carreira”, afirma Rayssa.

Dainara tem o desejo de que a história de Isabel seja “inspiradora”. “Ainda hoje, meninas e meninos são apresentados ao sexo de uma forma muito conflitante. [...] São vários assuntos para conversar depois do filme”, diz.

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