Funk tipo exportação de Anitta mira alto, mas é fracasso retumbante na 1ª tentativa; entenda

Mesmo com grande divulgação e clipe bombástico de ‘Funk rave’, após dez dias, funk com letra em espanhol foi pouco ouvido no Brasil e quase ignorado nos países vizinhos; leia análise

PUBLICIDADE

Por Rodrigo Ortega
Atualização:

Anitta mirou alto e acertou baixo em “Funk rave”, faixa com batida brasileira e quase todos os versos em espanhol. Mesmo com grande divulgação e clipe bombástico, após dez dias de lançamento a música já está fora do “top 50″ do Spotify no Brasil e nem arranhou as paradas hispânicas.

PUBLICIDADE

A cantora é, sem dúvida, o nome de maior potencial internacional do pop brasileiro hoje. Ela já teve feitos notáveis, como o destaque no principal festival dos EUA, o Coachella, e o 1º lugar no Spotify no mundo do reggaeton “Envolver”, em 2022. Por isso seus próximos passos são importantes.

A faixa, lançada o dia 23 de junho, deu início à nova fase internacional da cantora após assinar com a gravadora americana Republic, do grupo Universal. Artistas como Ariana Grande, Taylor Swift e The Weeknd são seus novos colegas.

Ela estreou em 5º lugar na parada diária brasileira do Spotify. Hoje está em 66º - com menos de um quinto dos plays do legítimo batidão “Tá ok”, de Kevin o Chris e Dennis DJ. Nos países que falam a língua do refrão da música, o máximo que ela conseguiu foi uma 115ª posição nas paradas do Uruguai.

Na semana passada, Anitta comentou os resultados e disse que o foco não era local: “Não tem como a gente querer comparar que os meus resultados no Brasil sejam iguais aos resultados de outros artistas que estão com as carreiras focadas o Brasil”, ela disse. “Tá tudo ótimo”, desconversou.

.

‘Funk Rave’: Anitta divulga clipe de nova música; assista Foto: Reprodução/Instagram/@anitta

‘Desapropriação cultural’

A capa do single e o clipe trazem referências visuais das favelas do Rio de Janeiro e da Furação 2000, produtora em que Anitta começou a vida artística. A batida é de funk rave, variação do estilo brasileiro que faz sucesso em bailes de rua, mas em versão suavizada para playlists genéricas de música pop.

Fãs de música costumam incorporar cada vez mais o papel aborrecido de inquisidores contra a “apropriação cultural”. O problema, segundo eles, seria usar elementos de culturas alheias fora de contexto, para tomar proveito. Mas o que Anitta promoveu em “Funk rave” foi o oposto: uma “desapropriação cultural”.

Publicidade

Ela tentou levar o funk legítimo do Rio, de onde foi criada, para o lucrativo mercado hispânico, sem motivo artístico aparente. O plano de negócios é claro. A mistura cultural é confusa. A música soa como a produção de algum artista gringo que pegou o baile andando e pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires.

Funk em espanhol: faz sentido?

É normal, para qualquer artista, oscilar nos resultados de lançamentos, entre grandes sucessos e alguns fracassos. Mas o notável em “Funk rave” é o quanto Anitta forçou a mão com o funk pasteurizado em espanhol. A única justificativa para essa estranha colagem seria comercial. Por isso o som deste fracasso é retumbante.

Nas redes sociais, a cantora tem mostrado trechos de músicas mais interessantes, que ela indica como futuros lançamentos. São batidas que conectam o passado raiz e futuro antenado do pop eletrônico brasileiro (como é o caso, aliás, do hit “Tá ok”).

Tomara que, depois dessa 1ª tentativa na Republic Records com o funk em espanhol, ela acerte nas próximas. Movimentos certeiros de Anitta são importantes para a boa fase comercial da indústria musical brasileira.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.